Basta tocar “Eu nasci num recanto feliz bem distante da povoação” para o imaginário das pessoas nascidas no interior do Brasil e que partiram para ganhar a vida nas capitais voar alto. O trecho é de Meu Reino Encantado, composição de Valdemar Reis e Vicente P. Machado que abre a trilogia de álbuns homônima que acaba de ser relançada por Daniel, agora nas plataformas digitais.
Meu Reino Encantado I, II e III foram originalmente lançados entre 2000 e 2005, com a proposta de ser uma grande homenagem à música caipira de raiz.
— Naquela época, convidamos pessoas que admirávamos no sertanejo para regravar esses clássicos, foi um presente mesmo produzir o material, porque eu e o saudoso João Paulo sempre cantarolávamos as músicas do estilo — recorda Daniel, em entrevista por telefone a GaúchaZH, lembrando seu companheiro de dupla, morto em 1997 em um acidente de carro.
Com faixas como Tocando em Frente, Avenida Boiadeira, Cuitelinho, em parcerias com Almir Sater, Rick e Renner e Pena Branca, o primeiro disco da trilogia também tem um valor íntimo para Daniel: a canção Meu Reino Encantado foi regravada com seu pai, José Camillo.
— Ele sempre foi meu maior incentivador, então quando tive a chance de homenagear ele, foi a primeira coisa que fiz. É meu grande professor, em todos os sentidos — explica Daniel, que divide os vocais com o pai em outras oito faixas na trilogia.
Já no segundo disco, de 2003, Daniel reverencia uma das maiores duplas do gênero, Tião Carreiro e Pardinho. Ele lembra que cantava músicas deles em casa, quando tinha cinco anos de idade, e que as faixas seguem sendo “muito atuais”. Recorda uma vez em que os músicos estiveram em sua terra natal, Brotas (SP), e conseguiu interagir com os ídolos.
— Se não tiver músicas deles em reuniões familiares, não é igual, e a participação do Pardinho (na canção Uma Coisa Puxa a Outra) foi um dos últimos materiais que ele gravou. É muito legal manter esse legado, eles possuem bandeiras, crenças que levarei até o fim da vida — conta Daniel, sobre o disco que tem ainda parcerias com Gino e Geno (Paixão Dupla), João Mulato & Douradinho (Moradia) e Rolando Boldrin (Cobra Venenosa).
Homenagem
Para fechar a trilogia, Meu Reino Encantado III conta com gravações ao lado de Perla, Rionegro e Solimões, Bruno e Marrone e Abel e Caim. Como um todo, os discos falam da história da dupla que Daniel formou com João Paulo.
— É um projeto de significado muito grande porque mostra um pouco do que a gente vivia nos bastidores, em ensaios com viola. Existia uma cobrança do público que consome esse estilo, de não estar em formato digital, e agora deu certo. É um presente para mim também.
Além de Meu Reino Encantado, Daniel prepara um material especial ainda para 2020, a fim de dedicar uma apresentação a seu ex-parceiro musical. Devido ao coronavírus, as gravações de um DVD ao vivo foram canceladas, ainda sem previsão de data.
— Vai ser realizado ainda este ano, porque é um desejo meu e de muitos fãs, em show que vai comemorar a fase áurea da década de 1990, trazendo à tona os nossos bons momentos juntos – garante o cantor.
Isolado em Brotas, entre sua casa na cidade e a chácara no campo, o artista aproveita o momento para curtir mais as filhas Lara e Luisa, com 10 e oito anos, respectivamente.
— Esse momento serve para a gente entender que não podemos alcançar determinadas coisas, que não somos donos do nosso destino — reflete Daniel. — Não se sabe como vai ser o fim disso tudo, quanto tempo vai durar, mas uma coisa é certa: não vamos ser iguais, vamos ser bem diferentes e tudo vai ser um baita aprendizado.