Alan Amorin Dias sentia-se sem rumo em 2016. Fazia aulas de cavaquinho havia dois anos no projeto Sol Maior, em Porto Alegre, que lhe dava a oportunidade de aprender um instrumento popular e passar a semana envolvido em atividades artísticas. Mas também enfrentava dificuldades financeiras na casa que divide com a mãe diarista no bairro Partenon. Aos 17 anos, recorreu a atos que hoje, com 20, chama de “coisas erradas”.
Foi uma centelha que o salvou: além do apoio de professores e colegas na ONG que ensina música a jovens das periferias, Alan tinha vontade de brilhar na apresentação de fim de ano, que reconhece os alunos com melhor desempenho e comportamento. Conseguiu o que pretendia. Com a honraria, foi selecionado para ser monitor nas aulas de instrumento e passou a ser pago por isso. No ano seguinte, aproveitou a oportunidade e decidiu se afastar daquela vida que ninguém na Sol Maior conhecia.
— A Sol Maior me ajudou a me livrar desse pesadelo — conta o rapaz.
O critério é a necessidade
Assim como Alan, outros adolescentes e crianças de bairros carentes da Capital, vulneráveis a escolhas menos promissoras, encontram na Sol Maior chances que não teriam. Funcionando no contraturno da escola, o projeto oferece aulas de instrumento popular, como violão, teclado, flauta e o próprio cavaquinho, além de canto e danças como hip hop, street dance e dança contemporânea.
A ideia é fisgar os jovens pela música para ensinar-lhes lições de ética e cidadania e para garantir benefícios como lanche, vale-transporte e inserção no mercado de trabalho.
A mistura de arte com assistência social é resultado da parceria entre os fundadores da ONG, a psiquiatra Maria Teresa Campos e o engenheiro César Franarin. Ela tinha vontade de liderar um projeto que atendesse a jovens carentes, enquanto ele, integrante de um grupo de jazz, acreditava no potencial da música para transformar pessoas. A Sol Maior começou pequena em 2007, recebendo 50 alunos por ano, todos internos da Fundação Pão dos Podres, sede do projeto nos anos iniciais.
O crescimento ocorreu em 2012, quando Eva Sopher convidou a ONG a mudar de casa e instalar-se no Theatro São Pedro. É possível que, para muitos desses jovens, não houvesse outra oportunidade de pisar em um dos principais teatros do Brasil. Hoje, a Sol Maior recebe cerca de 450 alunos por ano e passou a atender também na Associação das Creches Beneficentes do Estado (Acbergs).
Se no início o processo seletivo avaliava o potencial das crianças e jovens para a música, hoje definiu como único critério o nível de necessidade das famílias, deixando de lado a pretensão de desenvolver virtuoses. Colega de Alan nas aulas de percussão, Bibiane Trindade Saldanha, 14 anos, foi apresentada a compositores renomados da música brasileira, mas também aprendeu a tocar uma de suas músicas preferidas no teclado: Vai, Malandra, hit de Anita que embalou o verão de 2018. Não ouviu qualquer reprimenda por parte dos professores.
– Nosso foco é formar cidadãos com bons valores e protegê-los. Saindo do projeto como uma pessoa boa, responsável, que não se envolve com drogas, cumprimos nosso objetivo – avalia Franarin, presidente da entidade.
A Sol Maior encerrou 2019 com orgulho de seus números: nenhum caso de evasão e média de 95% de presença nas aulas. Também foi neste ano que Alan encerrou sua participação no projeto. Busca, agora, um caminho por conta própria, levando uma lição:
– Mesmo que a gente esteja mal, que tudo esteja “dando ruim”, sempre tem alguém pior, precisando de ajuda.
Descontos no planeta
O projeto Sol Maior é uma das ONGs selecionadas pela Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho (FMSS) para benefício do ingresso solidário do Planeta Atlântida 2020, categoria especial que conta com 40% de desconto no valor das entradas para os setores Arena, Camarote e Planeta Premium, tanto no bilhete individual quanto no passaporte para os dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro na Saba, na Praia de Atlântida. Mais informações em planetaatlantida.com.br.