A primeira seleção da Orquestra Jovem, em 2009, durou seis meses e atraiu mais de mil concorrentes. Foram necessárias várias oficinas para chegar aos 30 que oficialmente fariam parte do projeto. Um deles era Matheus Rodrigues de Souza. Aos 13 anos, o menino do Partenon não sabia tocar nenhum instrumento. Acabou participando da seleção e, na hora da escolha, foi pelo menos concorrido: em vez do violino, optou pela viola.
Integrante do grupo avançado da orquestra, Matheus é um dos 12 alunos que estudam música na UFRGS. Também virou monitor dos que estão começando. Em 10 anos vinculado ao projeto, sempre trabalhou como músico. É contratado da Orquestra de Gramado, oportunidade que lhe permite tocar na cerimônia de abertura do Festival de Cinema, onde vê desfilar no tapete vermelho estrelas nacionais e internacionais.
— Não fosse a Orquestra Jovem, nunca teria contato com música clássica — reconhece.
Orientando ensaios dos intermediários, percebeu que muitas crianças têm dificuldades que ele, ainda que de origem humilde, não teve.
— Às vezes, o único dinheiro garantido (do aluno) é o da bolsa da orquestra. Mas ninguém sabe disso. Agora, estou entendendo mais. Me faz pensar sobre como tratar cada um.
Recém-selecionada no grupo intermediário, Sophia Kwiatkowski todos os dias pega um ônibus na companhia da mãe para ter aulas no Pão dos Pobres. Em uma história semelhante à de Matheus, a moradora da periferia de Guaíba escolheu o fagote no processo seletivo, porque era o menos concorrido. A dificuldade do instrumento não a faz vacilar, mas fazer planos:
Quero ser alguém importante para a música clássica"
SOPHIA KWIATKOWSKI, ALUNA DA ORQUESTRA JOVEM DO RIO GRANDE DO SUL
— Ser a melhor fagotista gera mais oportunidades do que ser a melhor violinista. O fagote abre mais caminhos para ir ao Exterior. É um instrumento difícil, e as pessoas acabam correndo dele — diz a musicista de 12 anos.
Ela pesquisou sobre o fagote na internet, assim como a história do maestro Telmo Jaconi, razão para querer entrar na Orquestra Jovem. Tímida, ainda não tomou coragem para se apresentar ao mentor. Ouve Telmo discursando pelos corredores sobre dedicação, esforço, muito estudo – e sobre a necessidade de ser o melhor, não o mais ou menos. Na Orquestra Jovem, quer alcançar o posto de melhor fagotista do grupo avançado. Pendurou no pescoço uma pedra para atrair sucesso. Planeja seu futuro em detalhes:
— Musicista, de preferência erudita. Conhecida no mundo da música. Quero ser alguém importante para a música clássica.
Comprometida com o sonho da filha, a mãe, Alessandra, acostumou-se a vê-la abrindo mão de livros e bonecas no Natal para ganhar instrumentos.
— Música, para a Sophia, é brinquedo — diz.