Seja com o flamenco espanhol, com os tambores falantes do iorubá, com o sitar indiano, entre outros instrumentos e ritmos, a música do mundo passa por Porto Alegre. Tanto pelos estrangeiros que vivem na capital gaúcha quanto por aqueles que se dedicam a cultivar a cultura de outras nações. Para reproduzir um recorte dessa multiculturalidade sonora da cidade, o Unimúsica juntou Hique Gomez e Gutcha Ramil, que sobem ao palco do Salão de Atos da UFRGS nesta quinta-feira, às 20h. Acompanhados por uma superbanda com participações especiais, a dupla apresentará o espetáculo Fluxos: Musicalidades em Trânsito.
Projeto do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS que entra em sua 38ª edição, o Unimúsica deste ano tem como objetivo homenagear Porto Alegre em um programa intitulado Cidade Presente – A Cidade que se Vê, com a finalidade de espelhar a diversidade das suas cenas musicais. Nesta edição, a iniciativa reúne o multi-instrumentista do Tangos e Tragédias e da Sbórnia Kontr’Atraka com a multi-instrumentista integrante do grupo Três Marias, também pesquisadora de música e culturas com formação em antropologia.
Diálogos
Trabalhando juntos na concepção do espetáculo há quatro meses, é a primeira vez que os dois realizam essa parceria. Hique é amigo de longa data de Vitor Ramil, tio de Gutcha. Apesar de conhecê-la do meio artístico, o músico relata que só foi deparar com o potencial da sobrinha do amigo ao vê-la no show Casa Ramil.
– Achei bárbaro! Uma grande participação, muito consistente. De quem estudou bem o conteúdo que faz – elogia Hique.
Já o contato de Gutcha com o trabalho de Hique vem da infância.
– Tio Vitor (Ramil) me contou que, quando eu tinha uns dois ou três anos, ele fez a participação como Barão de Satolep no show Tangos & Tragédias. Saíram todos do Theatro São Pedro para dar a volta na Praça da Matriz, e eu estava lá, carregada nas costas do Barão – lembra Gutcha.
Fluxos: Musicalidades em Trânsito foi projetado ao longo de quatro meses. Gutcha (voz, percussão e rabeca) e Hique (violino, teclado, violão e percussão) recrutaram um time plural de músicos para formar uma Torre de Babel em forma de superbanda para o espetáculo: Tales Melati entra com gaita de fole, wistle, bombarda e viela de roda; o nigeriano Ìdòwù Àkínrúlí, com o tambor da cultura iorubá (grupo étnico da África ocidental) e voz; Loua Pacom Oulai, com a percussão da Costa do Marfim e voz; Guilherme Gul toca percussões árabes; Angelo Primon é o responsável por diversos instrumentos de cordas – como sitar, oud, guitarra e violão. Ainda há Nina Borghetti (castanhola, dança flamenca e voz), Nina Nicolaiewski (canto em hebraico), Dionisio Souza (baixo) e Andressa Ferreira (percussões e voz). Também haverá participações especiais de Roger Scarton (harmônio e voz), Dunia Elias (voz e piano), Luiz Ramos (voz), Carlistos Magalhães (bandoneón), Aguiomar (dança) e Bruno Amaral (poesia).
No repertório, estão previstos diferentes ritmos: da música galega à iorubá, do tango ao flamenco, passando pelo hebraico. Gutcha adianta que haverá sequência de musicalidades com pandeiros de localidades diferentes e músicas brasileiras com arranjos montados pela superbanda. Ou seja: um show com muita diversidade.
– Cada uma das integrantes carrega consigo conteúdos, valores e linguagens musicais. É um desafio juntar isso tudo. Vamos ter um universo de musicalidades do mundo com diálogos e espaços de protagonismos compartilhados. Cuidamos para que cada uma dessas sonoridades pudesse ter seu espaço no show e aparecer com a sua própria forma – explica Gutcha.
Para Hique, as diferentes culturas do grupo se fundem com bastante naturalidade.
– A Sbórnia é um pouco isso também, uma confusão de culturas – define. – São as nações e estilos coexistindo. Opiniões coexistindo, o que hoje está difícil – conclui.
Unimúsica: Gutcha Ramil e Hique Gomez
- Quinta-feira (5), às 20h, no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110).
- Ingressos: distribuição no Centro Cultural da UFRGS (Campus Centro) das 9h às 17h. Serão distribuídas até duas entradas por pessoa, mediante 1kg de alimento não perecível por ingresso retirado.