Dave Grohl entrou no palco Mundo do Rock in Rio, na virada de sábado para domingo (29), à 0h10min, como um roqueiro de verdade: batendo que nem louco nas cordas de sua guitarra e dando berros de neandertal meia dúzia de vezes.
Começou com Pretender, um rock'n'roll num estilo bem clássico, pedindo para o público bater palmas, gritando "I like it" (gosto disso) e solando com vontade. Assim, Grohl e sua banda ganharam a arena de cara. Engataram com Learn to Fly, sucesso que está completando 20 anos de idade.
A plateia, um pouco mais velha que na noite anterior, estava extasiada. O som excelente do palco principal do Rock in Rio estava alto em diversos pontos do Parque Olímpico, devido às caixas espalhadas pelo local.
As performances de Sky Is a Neighborhood e Sunday Rain, essa última cantada pelo baterista Taylor Hawkins, foram devastadoras. E isso foi antes de My Hero, com a qual Grohl fez milhares de pessoas cantarem junto com ele.
Estendendo as canções para seis, sete ou até dez minutos cada, dando espaço inclusive para um longo solo de bateria, o Foo Fighters apresentou um show pesado, visceral e brilhante.
E com muitas guitarras: são três no palco ao mesmo tempo, uma delas nas mãos de Grohl, além de um baixista e um tecladista.
Parte do público começou a se mandar após a primeira hora da apresentação, tentando sofrer menos na sempre problemática volta para casa. Perderam um momento único. O baterista puxou Love of My Life, do Queen, e a plateia respondeu cantando junto, como aconteceu há 34 anos com Freddie Mercury, no momento mais icônico do primeiro Rock in Rio.
Hawkins veio à frente, Grohl foi para a bateria e engataram com Under Pressure, oras, do mesmo Queen e de David Bowie, sucesso mundial de 1982.
Falante como nunca, Grohl tocou Big Me enquanto contava que esteve pela primeira vez no Brasil para o Hollywood Rock de 1993.
— Eu tinha 23 anos e foi a primeira vez toquei para mais de 100 mil pessoas.
O tempo de uma hora e 45 minutos programados para o show passou, mas Grohl não deu bola. Chamou um casal de fãs ao palco, que se beijaram e foram abraçados pelo artista.
Iniciou Blackbird, dos Beatles, mas errou e se desculpou por ser muito difícil. Engatou mais dois sucessos, Best of You e Everlong e encerrou às 2h15.
Grohl fez de longe a melhor apresentação do festival até agora. O Rock in Rio 2019 já tem algo do se orgulhar.
Veja quem mais passou pelo Palco Mundo:
Weezer
Nos Estados Unidos, o Weezer lota arenas, faz turnês por estádios e toca em posição privilegiada nos grandes festivais. Neste sábado (28), estreando no Rock in Rio e no Rio de Janeiro, a banda teve recepção apenas morna no palco Mundo.
O show foi feito para agradar os brasileiros. Logo no começo, o grupo tocou algumas de suas músicas mais conhecidas, Buddy Holly e Beverly Hills, além de um cover de Africa, hit do Toto. O Weezer gravou a música — e um disco de versões, o Teal Album, de 2019 —, depois dos pedidos de um fã na internet.
Eles ainda mostraram as versões pouco modificadas de Take on Me, do A-ha, e Paranoid0, do Black Sabbath, presentes no disco de versões. Quando tocou Happy Together, do Turtles, a banda citou um trecho de Longview, do Green Day, uma música muito ligada aos anos 1990.
O clima foi reforçado com um cover inesperado, para Lithium, do Nirvana, em uma aposta na nostalgia dos anos 1990, década em que o Weezer despontou. A banda se estabeleceu com um rock de garagem espirituoso, com letras sobre ser um outsider e referências à cultura pop.
Ao fim do show, Cuomo cumprimentou, feliz, a plateia, exibindo uma camiseta da banda emo Fall Out Boy. Apesar de esforçada, a apresentação encontrou um público pouco participativo — muitas pessoas, inclusive, pareciam já esperar o Foo Fighters, headliner do dia.
Tenacious D
Tenacious D estreou no Rock in Rio com sua sátira roqueira. Como era esperado, o grupo do ator Jack Black chamou o baixista brasileiro Junior Bass Groovador, famoso na internet por divulgar uma versão em forró de Smells Like Tenn Spirit, do Nirvana.
Junior entrou no palco com cara de mau, agilidade nos dedos e um baixo de seis cordas coloridas. Ele e Black interagiram até o fim da performance, e o baixista brasileiro até deu um beijo na testa do cantor e ator norte-americano.
A jam com o baixista encaixou perfeitamente no show do Tenacious D. O grupo brinca com maneirismos roqueiros sem tirar sarro deles, mas sim como tributo ao gênero.
A postura tem paralelo não apenas com o filme que dá nome à banda, mas também com outros trabalhos de Jack Black no cinema, como Escola de Rock. Tenacious D: Uma Dupla Infernal, de 2006, conta a história de JB (Jack Black) e KG (Kyle Gass, a outra metade do Tenacious D), dois músicos sem tanto talento que sonham ser astros do rock.
O público começou a esquentar em Rize of the Fenix. A música que fala de um grande retorno do Tenacious D ao sucesso após anos de inatividade, um clichê roqueiro bastante aplicável ao Rock in Rio.
Black, que no palco parece uma pessoa comum se divertindo muito em um karaokê, ainda encenou uma discussão com Gass. O carisma da dupla segurou muito mais a apresentação do que o repertório.
— Derrotamos Donald Trump... quer dizer, o demônio — disse Black depois da performance de Beelzeboss.
O ápice da apresentação foi Tribute, single mais famoso da dupla. Apesar da chuva, fina mas constante, a plateia se divertiu com o show, extremamente adequado para um festival que tanto ressalta clichês do rock, como é o Rock in Rio.
Raimundos e CPM 22
Impulsionadas pela nostalgia de alguns dos maiores hits dos anos 1990 e 2000, as bandas Raimundos e CPM 22 abriram o Palco Mundo na noite deste sábado (28). Foi o primeiro encontro dos grupos, contemporâneas entre si, que ajudaram a tecer a cara do rock e do hardcore brasileiro e fizeram adolescentes e jovens adultos cantarem as mesmas canções por anos a fio.
Depois da abertura, que deixou a mais famosa dos Raimundos, Mulher de Fases, para o começo, foi como se de cada sacudida de cabeça e rodinha punk saísse um hit gravado em uma fita cassete caseira.
De um lado, Puteiro em João Pessoa, dos brasilienses. Do outro, Não Sei Viver Sem Ter Você, dos paulistas. Me Lambe e Irreversível. I Saw You Saying (That You Say That You Saw) e Dias Atrás. Um show inteiro de hits grudados no imaginário do rock nacional.
Foram 16 músicas apresentadas pelo supergrupo liderado por Badauí e Digão, que trocaram declarações de amor no estilo "quando que naquele quarto imundo seu que eu conheci em Brasília você imaginou uma coisa assim?".
O encontro inédito culminou no maior sucesso do CPM 22, que 14 anos depois ainda ecoa em festas flashback, casamentos, formaturas e em qualquer oportunidade millennial saudosista. Um karaokê coletivo berrou a plenos pulmões a letra impecavelmente decorada de Um Minuto Para o Fim do Mundo, como se tudo fosse mesmo acabar com o fim daquele show.