Algumas horas antes de se apresentar no Rock in Rio, Ellie Goulding respondeu fãs que se irritaram por sua presença no line-up. A artista, que estourou em 2015 com Love Me Like You Do, faixa pop da trilha do filme Cinquenta Tons de Cinza, não estava escalada inicialmente para o festival e foi chamada para substituir Cardi B:
— Calma, gente. Para ser honesta, acho que as pessoas não deveriam se irritar tanto — disse a inglesa, em entrevista à Folha de S. Paulo, no Copacabana Palace, arrematando com uma risada.
Os fãs da desistente (que alegou "motivos pessoais" pelo furo) se enfureceram com o plano B e foram ao Twitter xingar muito. Ellie confessa que a onda de hostilidade passou quase toda batida batida simplesmente porque "não consigo entendê-los (os tuítes em português)". Mas aproveita para levantar a própria bola:
— O que vou fazer, não tocar? Por que as pessoas ficaram chateadas que substituí alguém? Ora, vai ser eu ou outra pessoa. E sei que faço um show incrível e temos hits.
Nem só de pop dançante vive essa inglesa: Ellie é também uma ativista ambiental. Ela ganhou o status de embaixadora do meio ambiente da ONU em 2017, entre girafas no Quênia, onde prometeu se empenhar para "amplificar o ativismo dos jovens comprometidos em criar um futuro brilhante".
A cantora acredita que não é fácil conciliar as duas imagens, de celebridade politizada e popstar de letras como "cada centímetro da sua pele é um Santo Graal que preciso encontrar" (trecho presente em Love Me Like You Do).
— É difícil, porque sinto fortemente que posso fazer tudo ao meu alcance, com minha música, para ser o máximo possível ativista. Ao mesmo tempo, sei que o escapismo importa muito também, especialmente para os jovens — diz. — Tento fazer músicas que te levem para longe do que está acontecendo no mundo.
Mas de algumas coisas fica difícil desviar, e uma delas é o feminismo. Ellie já deu discursos públicos sobre este tema inseparável de sua trajetória. No próprio Rock in Rio, mostrou-se incomodada pelo fato do line-up ser liderado por homens - eles são maioria em seis dos sete dias de concertos. A exceção é na próximo sábado (5), com Anitta, H.E.R. e Pink.
— Isso me incomoda — afirma. — É algo que observo ao longo dos anos. Rodei muito o mundo, e em geral os headliners são homens. Às vezes sinto que aquele cara não necessariamente merece estar lá mais do que uma mulher. Já fui headliner (a atração principal) antes, e as pessoas ficaram irritadas porque queriam que fossem homens. Apenas ignoro (as mensagens raivosas em redes sociais).
A indústria musical ainda transpira machismo, segundo Ellie.
— Sei, por conhecer outras compositoras... Sentimos que os tempos ainda não mudaram no sentido de ainda ser controverso uma garota ser o que as pessoas descrevem como promíscua. Apenas se divertir, sabe? Ser uma pessoa sensual sem ser chamada de piranha ou outras palavras pouco agradáveis.