Referência do jazz aos 82 anos, completos no último sábado (4), o contrabaixista norte-americano Ron Carter já tocou com uma longa lista de notáveis, como Wes Montgomery, Cannonball Adderley, Bill Evans e George Benson. Integrou, entre 1963 e 68, o célebre quinteto de Miles Davis com Herbie Hancock, Tony Williams e Wayne Shorter. E gravou em importantes discos de Tom Jobim, como Wave (1967) e Stone Flower (1970).
Mas é fato que para todas essas estrelas também foi uma honra poder contar com esse mestre das quatro cordas, que se apresenta nesta sexta (10) pela primeira vez em Porto Alegre. Em um formato diferente de trio com o qual trabalha há cerca de 15 anos, sem bateria, ele estará acompanhado pelo guitarrista Russell Malone e pelo pianista Donald Vega (que substituiu Mulgrew Miller, morto em 2013) no show que começa às 21h no Centro de Eventos do BarraShoppingSul. A atração marca o lançamento do 5º POA Jazz Festival, que ocorrerá entre 8 e 10 de novembro no mesmo local.
Livro dos recordes
Em 2015, Carter foi laureado pelo Guinness como o baixista que mais gravou na história, então tendo participado de 2.221 discos desde os anos 1950. Mas os números não dizem muito para esse músico de fraseado elegante e sofisticado, assim como seu trato. Em entrevista por telefone concedida a Zero Hora, Carter explica como se tornou quem é:
– Cada noite penso em soar um pouco mais como acho que devo soar. Toda noite, procuro outra ideia, outro passo, uma direção. Tenho a consciência de que meu som é meu e procuro fazer isso acontecer toda noite.
Para o show de hoje, ele promete músicas originais e "um ou dois" standards de jazz. Em tudo estará a ampla e diversificada bagagem que adquiriu. Carter já tocou J.S. Bach, participou de trilhas de filmes e escreveu livros sobre baixo. Sua faceta pedagógica ganhou nova plataforma com o Facebook, onde divulga vídeos:
– É uma grande ideia. Ainda estou aprendendo como funciona, como melhor usar isso, como alcançar mais pessoas com meus conceitos e meus pensamentos.
Leia, a seguir, entrevista com o músico:
Ron Carter: "Sem bateria, estamos mais expostos"
Poderia comentar o que o senhor sente como especial na interação musical com seus colegas de trio?
Todos os grupos com os quais toquei são igualmente especiais. Eles entendem o que é swing, entendem como é importante aprender e entendem a disciplina que torna um show bem-sucedido. Gosto de tocar com esses caras, fico ansioso para trabalhar com eles todas as noites. Cada grupo com o qual toquei tem essa mesma empolgação para mim. Não há bateria nesse grupo, o que significa que todo mundo está ainda mais exposto.
Depois de mais de 60 anos de carreira, que maneiras o senhor encontra para deixar a música lhe surpreender?
As pessoas com as quais eu ainda não havia tocado antes me mostram músicas que não conheço, com arranjos que ainda não havia visto. Essa combinação de eventos, com diferentes escolhas, me faz pensar em como posso tomar emprestadas algumas dessas ideias, como posso aprender com algumas coisas dessas situações. Qual duração deve ter uma música? Qual o melhor andamento para esse som? Todas essas coisas eu aprendi nos grupos dos quais participei. Acrescentei ao que sei e levei ao processo de minhas próprias bandas.
Como o senhor produz materiais didáticos sobre o baixo, que conselho daria a um(a) jovem instrumentista?
Primeiramente, diria a ele ou a ela para conseguir um bom professor, alguém que toque o instrumento e mostre como deveria funcionar. Recomendo ouvir diferentes gravações de baixistas para descobrir qual estilo lhe serve melhor e se você entende como aquele estilo específico funciona. Por último, mas não menos importante, toque com a maior frequência que puder.
RON CARTER TRIO
Nesta sexta-feira (10), às 21h.
Centro de Eventos do BarraShoppingSul (Av. Diário de Notícias, 300), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 390 (plateia, preço único). Os assentos têm lugar marcado.
À venda, com taxas, nas lojas Multisom e no site blueticket.com.br. Venda sem taxa hoje, no Centro de Eventos, a partir das 19h.