Quatro anos depois do disco Halteroniilismo (2014), a Quarto Sensorial disponibiliza nas plataformas de streaming e download um novo álbum com pouco mais de 22 minutos de duração. O tempo reduzido é bem justificado: trata-se da trilha sonora que a banda instrumental gaúcha criou para o clássico do cinema Frankenstein (1931), de James Whale, estrelado por Boris Karloff.
O trabalho em parceria da Quatro Sensorial com o produtor Fu_k the Zeitgeist (nome artístico do músico Valmor Pedretti Jr.) foi gravado ao vivo em uma das quatro exibições do filme realizadas em maio no Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa), evento idealizador das sessões musicadas.
A atração comemorou os 200 anos do também cultuado romance gótico Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818), de Mary Shelley, que inspirou o filme. Frankenstein, o álbum, está disponível para audição no YouTube e no Bandcamp, plataforma em que também pode ser baixado pelo preço estipulado pelo ouvinte.
Se em 2015 a Quarto Sensorial havia criado uma trilha para o filme mudo alemão Sombras (1923), de Arthur Robison, também no Fantaspoa, neste ano o desafio foi criar intervenções que se adequassem aos diálogos e à sonoplastia de Frankenstein. Assim, o quarteto formado por Carlos Ferreira (guitarra/programações), Bruno Vargas (contrabaixo) e Martin Estevez (bateria) com Fu_k the Zeitgeist trabalhou com composições mais estruturadas do que na trilha majoritariamente improvisada de Sombras.
Quem assistiu à performance ao vivo, sincrônica à exibição do filme, percebeu que os improvisos estiveram presentes também em Frankenstein, embora em menor quantidade – mas foram enxugadas para o registro fonográfico. É que os músicos avaliaram que os improvisos necessitavam das imagens para ajudar a construir sentido. Outro motivo pelo qual o disco fica atrás dos 70 minutos de duração do filme é que, durante as sessões ao vivo, a banda estrategicamente reservou o silêncio para acentuar a tensão de algumas cenas. O que não quer dizer que o disco perca em intensidade.
– Com esta trilha, estamos ajudando a contar uma história – afirma o guitarrista Carlos Ferreira. – Partimos do princípio de que o filme já é maravilhoso sem a música e que não seria uma espécie de clipe para a nossa trilha. Frankenstein é um clássico do qual gostamos muito e sabíamos que o público do Fantaspoa, que é familiarizado com o gênero do horror, o trata como um ícone. Nossa relação foi de respeito.
Banda prepara novo trabalho
Em constante transformação, a Quarto Sensorial está em processo de pré-produção para um novo álbum prometido para este ano. Enquanto Halteroniilismo reunia músicas com 7 minutos (Valsa Outsider), 9 minutos (a faixa-título) e até 11 minutos (Ølfrygt), o novo trabalho contará com composições enxutas que a banda tem testado em shows, algumas com apenas 30 ou 40 segundos.
Não deixa de ser uma promissora retomada para os músicos, que jamais abandonaram a banda mas aproveitaram os últimos anos para trabalhar em projetos paralelos. Um deles é o disco solo de Ferreira, intitulado Híbrido, também produzido por Fu_k the Zeitgeist, que deverá ser lançado em agosto. Diferencia-se da Quarto Sensorial, segundo o músico, por ser baseado em “texturas, sobreposição de camadas e desenvolvimento rítmico lento”.
– O que criamos como banda é muito nosso. Quando cada um sai do "quarto", desenvolvemos trabalhos bastante variados – explica Ferreira.
FRANKENSTEIN
De Quarto Sensorial + Fu_k the Zeitgeist
Instrumental, 12 faixas, independente.
Disponível para audição e download no Bandcamp e para audição no YouTube.