Entre novembro e dezembro de 2014, chegaram às redes sociais discos de três bandas de Porto Alegre com muito em comum: influências que vão do pós-rock à música clássica e a recusa de qualquer rótulo como estes.
Expoente da nova cena instrumental gaúcha, a inclassificável Quarto Sensorial aparece com o terceiro trabalho, enquanto a roqueira URSO e a setentista Sopro Cósmico fazem suas estreias. Mais do que uma coincidência, é o registro de uma geração pautada pelo princípio da integração: dois músicos da Sopro Cósmico participaram do trabalho da Quarto Sensorial, e o baterista da URSO, Valmor Pedretti Jr., produziu o álbum da sua banda e o da Quarto.
- Essas três bandas surgiram na mesma época, e acabamos nos conhecendo. Uma coisa muito legal desta cena experimental é que os músicos estão fazendo parcerias - diz Carlos Ferreira, guitarrista da Quarto Sensorial.
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Alguns têm formação acadêmica musical, outros são autodidatas, mas a maioria vive de música mesmo, como professor de instrumento ou produtor. Pensando em uma perspectiva histórica, Pedretti Jr., da URSO, compara o momento com os anos 1980, quando emergiram as bandas Cheiro de Vida e Raiz de Pedra, marcos da música instrumental gaúcha.
- Inclusive abrimos contato com o Marcelo Nadruz, que era tecladista do Raiz de Pedra, para fazer uma junção dessas gerações. Ele ficou muito interessado.
Todos concordam que a internet é uma ferramenta essencial no acesso às influências musicais mais improváveis e que as redes sociais são a plataforma que permite o contato dos músicos com parceiros de interesses em comum. Nesta geração, que não depende mais de grandes gravadoras (nem das pequenas), os álbuns estão disponíveis em diferentes plataformas na rede para audição gratuita, como YouTube, SoundCloud e Bandcamp. Lançar ou não um CD é um assunto em debate: a Sopro Cósmico produziu o seu e vende nos shows, a Quarto Sensorial deve prensar o seu em breve e a URSO ainda pensa no assunto.
Para Max Sudbrack, tecladista da Sopro Cósmico, ainda há um caminho para a consolidação da cena. Um gargalo, segundo ele, é a ausência de mais espaços para shows instrumentais:
- Está faltando bar. Por isso, algumas bandas decidem ir para São Paulo. Aqui é calminho. Vai devagar, mas vai indo.
Enquanto isso, novos projetos conjuntos já surgiram, como Dziw Jazz (com integrantes da Sopro e da Quarto), The Rise and Fall of Ice-Pick Lobotomy (projeto experimental de Pedretti Jr., da URSO, e Ferreira, da Quarto) e Armina (com integrantes das três bandas). Isso sem falar de outros grupos que enriquecem a cena porto-alegrense, como Marmota Jazz e Trabalhos Espaciais Manuais, que lançará um EP ainda neste primeiro semestre.
- Ao contrário de outras épocas, a cena é completamente não competitiva. A galera é muito brother, o que tem a ver com os sons não serem idênticos em nada. Todo mundo é fã de todo mundo - diz Pedretti Jr.
OS TRÊS LANÇAMENTOS
Quarto Sensorial - Halteroniilismo
Mais antiga entre as três bandas, com oito anos de atividade e dois discos lançados (o EP homônimo, de 2009, e o disco A + B, de 2012), a Quarto Sensorial chega com timbres mais pesados em faixas como Maçã na Lua e Morte no Beco da Preta. Mas o que marca mesmo o disco Halteroniilismo é a aposta em paisagens sonoras viajandonas que implodem com rótulos musicais. O último tema, Ølfrygt, começa com um improviso de quatro minutos e encerra com um trecho de um minuto que foi gravado separadamente, sem que um integrante soubesse o que o outro iria fazer, tendo previamente combinado apenas o andamento.
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URSO - Hum
Representante de um rock mais pesado, com grooves cadenciados e riffs imponentes, a URSO gravou faixas compostas nos primeiros tempos da banda, entre 2010 e 2011. Hoje, tem presença mais forte do rock progressivo. Hum começa com os mesmos sons de passos que aparecem no fim do novo disco da Quarto Sensorial, sugerindo uma irmandade refletida também nas capas parecidas. É um trabalho pesado do início ao fim, criando uma parede de texturas sonoras que grudam no seu ouvido. Sem muitos solos e com muitos power chords, o disco ganha o ouvinte por nocaute. Depois não diga que não foi avisado.
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Sopro Cósmico - Outono Psicodélico
Claramente influenciada pelo progressivo e pela psicodelia dos anos 1970, a Sopro Cósmico realiza uma ponte com a época de ouro do rock. Logo na primeira faixa, Crazy Factory, aparecem referências à música clássica e a bandas que flertam com o gênero, como o Deep Purple. A curiosidade é que a Sopro não gravou com um baixista: o trabalho dos graves ficou a cargo do tecladista Max Sudbrack, que alterna timbres de hammond, moog e piano. O saxofone e a flauta transversal de Mauricio Oliveira dão um tempero especial. Já a bateria de Marcio Kadush brinca com células rítmicas alternadas, lembrando um jazz moderno.
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O CD pode ser comprado por R$ 20 pelo e-mail soprocosmico@gmail.com