Após cantar o refrão de O Sol, Davi Lucca, filho de Neymar com Carol Dantas, teve uma dúvida quase existencialista.
– Mãe, mãe, para, espera aí. Como o mundo se distrai? – questionou o menino então com seis anos (ele completou sete no mês passado).
O vídeo foi publicado pelo jogador em seu seu perfil do Instagram em outubro de 2017. Na legenda, Neymar comentou:
"Uma das melhores coisas de ser pai ou mãe é presenciar essas perguntas surpreendentes".
Esse momento de pais e filho era só uma pista do quão longe a música de um gaúcho surfista havia chegado. Natural de Porto Alegre, Vitor Kley estourou no final de 2017 com o single O Sol, que acabou se tornando um dos hits do verão deste ano. Lançado em janeiro no YouTube, o clipe da música tem mais de 65 milhões visualizações. Em julho, foi a música pop mais tocada nas rádios do Brasil, segundo a Billboard Brasil, superando nomes como Anitta e Ed Sheeran. No Spotify, Vitor conta este mês com mais de 3,3 milhões de ouvintes mensais. Ou seja, é o artista gaúcho mais ouvido na plataforma de streaming. Para efeito de comparação, a segunda posição em um ranking do RS no serviço seria ocupado por Elis Regina, com 1,3 milhão.
Se hoje sua música está na boca do povo, o cantor de 23 anos deve isso a sua mãe, Janice.
– Minha mãe me ensinou a tocar violão quando tinha 9 anos. Com 10, ela já me botou em curso de música para estudar mais sobre os instrumentos, já que eu viciei na parada. Ela foi minha primeira musa inspiradora – lembra Vitor.
Sua primeira composição, Bem Melhor, foi escrita aos 10 anos. Porém, a canção foi modificada em meio a uma perda:
– Eu comecei a escrevê-la de forma mais romântica, mas no meio do processo de composição minha avó paterna faleceu. Acabei dedicando uns trechos a ela.
A faixa acabou integrando seu primeiro disco, Eclipse Solar, lançado em 2009, quando tinha 13 anos. Em 2012, saiu Luz a Brilhar, disco em parceria com Armandinho, seu grande mentor. Vitor conheceu o músico quando morava em Balneário Camburiú (SC).
– Nos conhecemos por meio de amigos em comum. Um dia encontrei ele na água e disse: "Tem uma música que lembra muito as tuas". Me disse para eu colar na casa dele, em seu estúdio, para apresentar a canção. Quando toquei a música, ele pirou, queria gravá-la. Foi aí que tudo começou. Passou a me levar para shows e me chamava no meio das apresentações, contava a minha história, e eu cantava minha música, Dois Amores. Por muito tempo foi meu mentor. Fiquei de três a quatro anos gravando com ele – relata Vitor.
Armandinho relembra com carinho de seu apadrinhado:
– Ele viu tudo acontecer. Viu como funcionava uma banda. Viu todas as coisas que se deve fazer, não se deve fazer. Vitor acabou assimilando muito das coisas boas que eu tenho, e os meus defeitos ele viu quais eram e não assimilou. Em função dos nossos trabalhos, não temos nos visto muito, mas seguimos trocando mensagens vez ou outra.
Para Armandinho, o sucesso de Vitor não foi surpresa.
– Eu fiquei só esperando, sabia que ia acontecer. É o momento certo, é o momento dele, tem que aproveitar o máximo. Ele é extremamente obcecado por música. Vitor acorda música, come música e vai dormir música. Além disso, é muito esforçado. É aquele tipo de jogador de futebol que depois que acaba o treino continua treinando em separado. Ele é merecedor do que conquistou até agora e merece conquistar muito mais. É só o início – avalia o padrinho.
Vitor confirma as palavras de seu mentor:
– Eu vivo pra música. Eu sou música, é a minha vida mesma, não tenho nenhuma outra distração. A tempo todo estou ligadaço, com caderninho ou i-phone na mão. Quando vem qualquer tipo de ideia, qualquer tipo de melodia, seja assobio, eu registro. Minha máquina está sempre rodando.
O pop rock ensolarado de Vitor Kley chegou aos ouvidos de Rick Bonadio, produtor que é proprietário da gravadora Midas Music e responsável por lançar nomes como Mamonas Assassinas. Ele se mudou para São Paulo em 2015 com Bruno, seu irmão mais velho (hoje com 28 anos), que também assumiu a função de seu empresário.
Sob o novo selo, Vitor lançou um EP em 2016 que leva o seu nome. Ele já tem o repertório pronto para o seu próximo disco, que deve sair no ano que vem. Em junho, o cantor lançou Morena, parceria com o DJ Bruno Martini, que deve ganhar clipe em breve.
De qualquer maneira, o músico ainda colhe frutos de seu maior êxito até o momento.
Hit solar
Vitor não esquece o momento quando percebeu que O Sol era um sucesso estrondoso:
– Teve um dia que de manhã fui na praia, e havia uma mina me escutando em sua caixinha de som, enquanto tomava banho de sol. Daí fui ao restaurante, e um cantor estava apresentando O Sol. Pensei: "Ué, que loucura". À tarde, um carro passou pela rua da minha casa tocando uma versão eletrônica da música. À noite, fui em um barzinho com os meus amigos, e o DJ estava tocando O Sol também. Falei: "Caraca, a parada pegou mesmo". Ali deu o estalo.
Vitor não teme ficar conhecido somente por um sucesso.
– Sou um cara jovem, que está chegando agora. É a minha primeira música que acerta na veia. Tenho muito mais canções guardadas comigo. Isso é um desafio positivo. Acho que tenho uma história muito maior que só para uma música – afirma.
Com seu refrão pegajoso ("E toda vez que você sai / O mundo se distrai / Quem ficar, ficou"), O Sol se impregnou na cabeça de muita gente.
– O refrão gruda mesmo. Nas redes sociais, a galera que está perto do sol posta foto com legenda da música. Quando é um dia nublado, a galera publica: "O sol, vê se não esquece e me ilumina / Preciso de você aqui". A música tá presente no dia da galera assim como o sol tá presente na nossa vida – reflete.
Para Martim Trapp, locutor e coordenador de produto e programação da rádio 92, O Sol apresenta uma combinação milimétrica.
– Tem aquela mistura perfeita: letra bonita, melodia bacana e um artista bem produzido por ninguém menos que Rick Bonadio – analisa.
A letra escrita por Vitor é uma carta ao sol, que foi escrita em meio a um dia de surfe na praia.
– Escrevi essa música pensando em falar com o sol. Voltei de uma manhã de surf, em Balneário Camboriú, peguei uma folha em branco e escrevi uma carta mesmo. Primeiro veio a harmonia no violão, achei muito boa e comecei a escrever uma carta para o sol. Se fosse pegar a letra inteira, é toda ela conversando com o sol. Só que a galera começou a pensar que era para uma mina ou uma amiga chamada Sol. É muito massa ver essas diferentes interpretações. A música pertence ao povo, então eles interpretam do que jeito que quiserem – destaca o cantor.
Mas e a dúvida de Davi Lucca: como o mundo se distrai?
– Na minha cabeça, era muito nítido que quando o sol aparece, a galera quer curtir e viver a vida lá fora. Quando o sol se põe, o povo quer se distrair na "night", curtir a noite – explica.
De volta a Porto Alegre
Vitor Kley será uma das atrações do Z Festival, que será realizado no dia 11 de outubro, no Estádio Beira-Rio. Ele dividirá o palco com nomes como Camila Cabello, IZA, Anavitória, entre outros.