Dentre as bandas que se tornaram símbolos do pop rock gaúcho nas últimas décadas, talvez a que tenha conseguido transitar da melhor forma entre os programas de hits radiofônicos e os temas latentes da sociedade tenha sido a Ultramen. Formada em 1991 como um misto de grupo de rap, banda de reggae e gangue de hardcore – as denominações "bando de skatistas" e "turma de amigos do Bom Fim" também são precisas –, o sexteto acostumou-se a celebrar a diversidade (seja de estilos musicais, de personagens ou de causas) em suas faixas. Em Tente Enxergar, primeiro disco de inéditas da banda em 12 anos, não é diferente:
– Sempre tivemos participação nas causas da cidade, da cultura, da arte. Por ser uma banda de rua, de boteco, nascida na Osvaldo Aranha, acabamos botando boa parte dessas causas nas letras: lanceiros, o movimento do Tutti, as minas, as monas, os manos, está tudo representado nas novas letras. Esse é o jornalismo da nossa geração – orgulha-se o vocalista Tonho Crocco, citando as letras de faixas como Fala Por Ti e Tente Enxergar, que exaltam movimentações sociais, da Ocupação Lanceiros Negros à interdição do bar Tutti Giorni.
Nesse sentido, outra habilidade típica da Ultramen é bastante perceptível no novo trabalho: encaixar letras que dizem algo em ritmos que inevitavelmente botam todo mundo para dançar. No novo disco, gêneros como o samba rock e o hip-hop, que marcaram a carreira da banda, dão mais espaço a ritmos como o reggae e o rock – a faixa de abertura é uma paulada hardcore de pouco mais de um minuto.
– As músicas se encaminharam naturalmente para esse lado. Tem um efeito que se chama talkbox que usamos em várias faixas. O pessoal pode sentir falta do rap de raiz e do samba rock, mas tem muita coisa diferente e tão boa quanto – diz o vocalista.
Entre idas e vindas, a Ultramen voltou à ativa em 2013, no palco do Opinião – o mesmo em que havia feito o último show antes da parada e onde será lançado o novo trabalho. Três anos depois, lançou o DVD Máquina do Tempo, com os principais sucessos da carreira e uma música inédita, Robot Baby, que já era um prenúncio do novo álbum. De acordo com Tonho Crocco, a Ultramen mantém-se unida, ainda que longe dos palcos, em projetos paralelos. Tanto que, no primeiro ensaio após o retorno, novas composições já começaram a aparecer. O percussionista Malásia avalia que, após quase três décadas, a relação é madura:
– Acho que a gente está vivendo a maturidade: filhos, boletos, compromissos. Mais do que uma banda, a Ultramen é o nosso futebol, a nossa cachaça, um tipo de libertação. O palco liberta, e lá a gente pode assumir um personagem e brincar com a música – explica o instrumentista.
O show de lançamento de Tente Enxergar já está marcado: a banda sobe ao palco do Opinião, uma das casas noturnas mais importantes nos quase 30 anos de carreira da banda, em 8 de novembro. Os ingressos, a R$ 45, já estão à venda no site blueticket.com.br. Mas os ultramanos já pensam mais à frente:
– Vamos fazer uma turnê linda deste disco e já pensamos em gravar outro DVD deste momento, que é lindo. Gostaria que fosse gravado em um show grátis na rua. Eu e o Tonho somos entusiastas do conceito budista da impermanência. Somos uma banda que pensa no presente – filosofa Malásia.