Os cartunistas não estão mais órfãos. Três anos depois de deixar a escadaria da Borges de Medeiros por problemas no pagamento do aluguel, o Tutti Giorni deve reabrir na próxima semana, em um imóvel 10 lances de escada abaixo de onde funcionava antes de ser fechado. De acordo com o dono, Ernani Marchioretto, faltam cadeiras, mesas e pelo menos um freezer para que o estabelecimento possa voltar a receber seus frequentadores. Não que a falta deles seja impeditivo:
- Se não tiver isso, o pessoal pode trazer cadeiras de praia e isopores, que a gente dá um jeito de servir todo mundo - brinca o dono, conhecido como Nani do Tutti.
As histórias do Tutti Giorni, o bar dos cartunistas
Referência da boemia cultural, Tutti deixou o viaduto em 2012
Em 2014, bar foi interditado e causou manifestações na Praça dos Açorianos
A volta do Tutti vem sendo programada por Nani sem muito alarde. Nos últimos dois locais onde o bar funcionou, o dono teve problemas com a vizinhança - mais acima, na mesma escadaria da Borges, ele garante já ter reunido mais de 3 mil pessoas, o que passou a incomodar alguns moradores dos prédios que ladeiam os degraus e a avenida do Centro. A partir de 2014, quando o bar reabriu na Praça dos Açorianos, na Cidade Baixa, a reunião era ainda maior, o que chegou a acarretar problemas com a polícia. Agora, no imóvel que antes abrigava uma tabacaria (a fachada segue intacta, mas deve ser removida ainda esta semana), ele espera que habitués do bar e moradores da região convivam em paz:
- Eu já estou vendo que, nas redes sociais, o pessoal está se empolgando, tem milhares de pessoas confirmando presença e tal. Por aqui, o pessoal dos prédios tem se mostrado feliz - diz, enquanto comanda os últimos retoques da reforma e cumprimenta absolutamente todas as pessoas que passam pela calçada à frente (Nani é quase uma celebridade da região e já se candidatou a vereador e deputado estadual).
Nani garante que o bar abrirá durante o dia, de segunda a sexta, servindo almoço popular. Ele quer que o estabelecimento funcione também à noite, mas procura parcerias para que isso aconteça com mais regularidade. Para ele, a volta do Tutti pode ajudar a revitalizar a escadaria da Borges:
- Espero que a gente consiga transformar essa parte do viaduto, que é abandonada, em um espaço frequentável.
Ainda sem saber direito como vai ser feita a reabertura, Nani se mostra empolgado. Faz piadas o tempo inteiro, aparenta emoção ao lembrar das outras duas casas do bar e faz planos para o futuro. Prefere usar o plural "nós" ao invés do singular "eu" quando o assunto é Tutti. E sentencia:
- Tenho certeza que muita gente, se eu precisar, vai ajudar. Às vezes a gente vai abrir um negócio novo e tem medo, mas eu já parto do seguinte princípio: vai dar certo. O Tutti Giorni não é um bar, é uma casa de amigos.