Havia poucas chances de dar errado o encontro entre Criolo e Mano Brown em Porto Alegre, na última sexta-feira (10). Dois gigantes do rap brasileiro, eles simbolizam o que de melhor o estilo musical produziu no país nos últimos 30 anos. Apesar de representarem duas gerações diferentes do gênero, quem ousaria dizer que não seria um encontro histórico na Capital?
Mas a noite foi melhor do que se poderia esperar. Ganhou quem chegou mais cedo para conferir o show de abertura. O Rafuagi, formado por Rafa, Ricky e Deejay Croko, mostrou por que é hoje o melhor grupo de rap do Rio Grande do Sul. Durante pouco mais de 35 minutos, o trio, com músicas como Já Precisei e A Noite Mais Fria da Cidade, sinalizou que o rap gaúcho precisa ser mais valorizado nas principais casas de Porto Alegre.
Criolo e Mano Brown entraram no palco às 23h40min e promoveram uma espécie de batalha de rap. De um lado, os hits da carreira de Criolo. Do outro, o líder dos Racionais MC’s, com clássicos como Quanto Vale o Show?, Jesus Chorou e Fórmula Mágica da Paz e músicas do mais recente disco do grupo, Cores & Valores, de 2014 – as canções de Boogie Naipe (2016), empreitada solo de Brown, ficaram de fora.
Mas havia um terceiro artista ali que talvez não seja tão conhecido do público presente no Pesi On Stage, formado em sua maioria por jovens que cresceram ouvindo Emicida e Criolo. Ao lado de Brown na batalha estava Helião, um dos líderes do RZO, a Rapaziada da Zona Oeste, grupo de rap que surgiu na periferia da zona oeste de São Paulo, no distrito de Pirituba, e responsável por apresentar nomes como a cantora Negra Li e o rapper Sabotage, morto em 2003. A presença do carismático Helião foi um presente e tanto para os porto-alegrenses.
Criolo, sempre acompanhado pelo DJ Dan Dan, revisitou sua carreira. Suas principais músicas, entre elas Lion Man, Duas de Cinco e Não Existe Amor em SP, foram acompanhadas pelos presentes, que sabiam as letras de cor. Para encerrar, Mano Brown cantou Vida Loka Pt. 1 e Vida Loka Pt. 2.
A apresentação durou uma hora e quarenta minutos e teve a direção musical de Duani Martins e Daniel Ganjaman. Ganja, como é conhecido o produtor, arranjador e engenheiro de som parceiro de Criolo há anos, também cantou no show, surpreendendo os presentes. Destaque ainda para a banda:
— Big band cabulosa, naipe de metais completo, guitarra, baixo, bateria, teclado, piado, percussão do mestre Bocão, vários anos bateria nota 10 da Vai Vai (escola de samba de São Paulo), baluarte do assunto. Todo mundo com uma certa vivência na black music, no samba rock, no rap, no reggae e na música preta em geral – resumiu Criolo.