A história costuma ser contada pelo compositor e professor José Miguel Wisnik nos espetáculos que vem realizando com a cantora Ná Ozzetti. Ambos estão ali porque sua parceria é um casamento artístico que nasceu de outro. Em 1985, quando Wisnik se casou com a artista Laura Vinci, chamou Ná Ozzetti, na época integrante do grupo Rumo, para interpretar algumas de suas músicas na cerimônia (Wisnik já era um conceituado ensaísta e professor de literatura, mas não havia assumido de modo mais amplo sua faceta de músico).
Daí surgiu uma parceria que atravessou 30 anos e que foi celebrada pela dupla no álbum Ná e Zé, lançado em 2015, uma reunião de uma das vozes mais conceituadas da MPB contemporânea com um compositor sofisticado e que é também conhecido como um grande teórico da arte no Brasil. São as canções desse disco, mais algum material inédito composto desde o seu lançamento, a base do repertório de Ná e Zé, show que ambos apresentam em Porto Alegre nesta quinta-feira, no Theatro São Pedro.
– Conheci o Zé Miguel através do grupo Rumo. Ele era muito amigo do Luis Tatit (integrante da formação), então frequentava os bastidores. E me convidou para cantar no casamento músicas que ele havia composto. Fui alguns dias antes para conhecer as canções e fiquei muito impressionada. Ele se empolgou, me mostrou outras que não tinha mostrado para ninguém. Gostei tanto que passei a incluir no meu repertório. E incluí músicas dele no meu álbum de estreia (Ná Ozzetti, de 1988). Depois, ele lançou o primeiro disco (José Miguel Wisnik, de 1992) e cantei com ele. Naquele período inicial a gente colaborou muito – relembra Ná Ozzetti, em entrevista por telefone.
Ela também conta que, apesar dos anos de parceria e participações de um nos álbuns do outro, em 2015, ambos perceberam que nunca haviam gravado um disco inteiro juntos. Foram, então, repassando músicas de Wisnik que Ná já havia gravado ao longo dos anos e reunindo trabalhos que não haviam entrado em álbum algum – Ná e Zé foi lançado com 15 canções compostas entre 1978 e 2014, oito delas inéditas.
MESMO REPERTÓRIO
TOM MAIS INTIMISTA
A dupla chegou a apresentar Ná e Zé em um show como parte da programação do 22º Porto Alegre em Cena, em setembro de 2015, com a participação de outros músicos também presentes no álbum, como Márcio Arantes (produtor do disco) e Guilherme Kastrup. O espetáculo que ambos trazem agora é diferente, mínimo e intimista, sem grupo de apoio, amparado apenas na interação entre a voz de Ná e o piano de Zé. É uma configuração que muda a sonoridade das canções. No formato do disco, reproduzido no show com banda completa, as letras (muitas delas poemas musicados de nomes como Oswald de Andrade, Paulo Leminski ou o heterônimo pessoano Ricardo Reis) tinham seu lirismo posto em xeque pelas vigorosas orquestrações e arranjos. Com apenas voz e teclado, essa dinâmica é alcançada com a condução de Wisnik ao piano, explica Ná:
– O piano do Zé Miguel conduz muito as intenções da composição, não é um acompanhamento, é praticamente um piano erudito que dialoga com o canto. Tudo o que tem na composição, toda a estrutura, já foi pensada ali no piano. Então, o que a gente mostra nesse concerto de duo é a estrutura da canção, a forma como ela foi criada. É diferente de trabalhar com a banda, mas tem a mesma força.
SHOW "NÁ E ZÉ"
Quinta-feira, dia 5, às 21h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº, Centro Histórico).
Ingressos: R$ 80 (plateia e cadeiras extras), R$ 70 (camarote central), R$ 60 (camarote lateral) e R$ 40 (galerias). Descontos de 50% para associados da AATSP (ingressos limitados), estudantes, jovens de baixa renda e pessoas com deficiência (40% da lotação) e idosos.
Pontos de venda: na bilheteria do teatro e pelo endereço eletrônico zhora.co/naezeingressos