Após as férias e o período de recesso de Carnaval, 25 músicos da Orquestra Filarmônica da PUCRS retornaram na última quarta-feira para retomar as atividades. Porém, ao chegar ao Salão de Atos da universidade, perceberam que não havia palco montado. Chamados um a um para uma conversa particular, foram desligados da orquestra.
– Era para começarmos (os trabalhos deste ano) antes do Carnaval, mas transferiram para uma semana depois. Em seguida, foi transferido em cima da hora para a última quarta. Já sentimos que havia algo incomum – relata Leandro Faber, que atuava na orquestra como pianista, preparador do coro, arranjador e maestro assistente.
Faber integrava a orquestra desde 2012 e lamentou o fim da reunião de músicos talentosos:
– É uma pena porque era um grupo qualificadíssimo e uma orquestra redondinha. Apesar de que todos têm muito valor e irão continuar tocando muito bem e sendo chamados para outros projetos, não teremos mais aquela mágica de estarmos juntos.
Flautista da orquestra desde 2005, Vinicius Dias Prates reclama que as demissões foram "precipitadas":
– Não levaram em conta uma série de coisas, incluindo a memória do maestro Frederico Gerling Jr. (fundador da orquestra em 2004, morto em 2010) e do que vão viver essas pessoas que foram simplesmente descartadas.
De acordo com a PUCRS, a orquestra irá continuar ativa, comandada pelo maestro Marcio Buzatto, que já estava no cargo. Para justificar as demissões, a universidade alegou em comunicado que "está revendo seu modelo de atuação na área da arte e da cultura".
Diz a nota: "Logo, (a universidade) irá direcionar o investimento para a diversificação da oferta de projetos, atividades, ações e programas formativos mantendo a agenda musical – com o coral e um novo formato de orquestra – mas fomentando outras possibilidades do universo artístico-cultural, tais como teatro, dança, artes plásticas, literatura, entre outros".
Para apresentações da instituição e eventos internos, a PUCRS contará com um grupo de seis músicos. "Para concertos maiores e especiais com formação orquestral, serão contratados músicos da comunidade de Porto Alegre e arredores para cada evento específico", explica a assessoria de imprensa da PUCRS, em e-mail enviado à reportagem de ZH.
De acordo com a assessoria, a agenda com apresentações nesse novo formato se iniciará em abril para eventos internos e em julho para eventos abertos à comunidade. A universidade também informou que investe em torno de
R$ 1,7 milhões ao ano na área cultural, boa parte sendo destinados à orquestra. "A proposta é garantir pelo menos 50% desse patamar de investimento, diversificando-o em diferentes modalidades culturais (literatura, música, dança, pintura, escultura, teatro, cinema, entre outros)", diz a assessoria da universidade.
13 anos de atuação
- Fundada em 2004, a Orquestra Filarmônica da PUCRS foi um sonho realizado pelo maestro Frederico Gerling Junior (1925 – 2010), importante nome da música de concerto no país.
- A orquestra notabilizou-se por encenações de ópera em um período no qual produções do tipo, usualmente caras, não tiveram constância no Rio Grande do Sul.
- Entre as produções dos últimos anos, estiveram La Bohème, de Puccini (em 2012); Otello, de Verdi (2013); e Madama Butterfly (2014), também de Puccini, esta em formato de concerto.
- Destacaram-se na trajetória da orquestra as participações na série Concertos Comunitários, entre outras.