Toda semana, um jornalista do Grupo RBS irá compartilhar na seção O que Estou Lendo a sua paixão por livros por meio de dicas do que estão lendo no momento.
Sempre me interessei pelas histórias improváveis de homens que trocam o crime pela fé. Matadores de aluguel que abandonam a incerteza da vida bandida pela segurança das igrejas. É por isso que gostei de A Fé e o Fuzil – Crime e Religião no Brasil do Século XXI, de Bruno Paes Manso.
Jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), Bruno entrevistou ex-criminosos ligados a facções como Comando Vermelho e PCC que transformaram suas vidas após tomar contato com a religião.
Com texto rico em substantivos e econômico nos adjetivos, ele revela a força transformadora da fé e da rede de apoio das igrejas, quase sempre evangélicas, na vida de criminosos. Mostra como pastores ocupam o espaço deixado por famílias desestruturadas e pelo Estado inexistente.
Rigoroso na apuração, é empático com seus entrevistados. Não faz juízo de valor ao descrever comportamentos violentos. Busca, sempre com contexto, narrar histórias de pessoas que perdoavam e renasciam assumindo nova personalidade, em um surpreendente processo de metanoia.
O livro também descreve o crescimento das igrejas neopentecostais e a nova religiosidade das periferias.
Entender o universo evangélico, e sua influência cada vez mais relevante no debate público, é fundamenta para decifrar o Brasil contemporâneo. Vale muito a leitura.
A Fé e o Fuzil – Crime e Religião no Brasil do Século XXI
- De Bruno Paes Manso
- Ed. Todavia
- 304 páginas
- R$ 50, em média