Toda semana, um jornalista do Grupo RBS irá compartilhar na seção O que Estou Lendo a sua paixão por livros por meio de dicas do que estão lendo no momento.
Se há de haver um céu após o inescapável passamento, que seja no concebido por Sérgio Rodrigues em A Vida Futura.
No romance do escritor e jornalista mineiro, lançado no final de 2022, um paraíso habitado pelos maiores escritores da humanidade tem a modorra do pós-vida sacudida pela nobre intenção de uma professora terrena: ampliar a leitura de clássicos da literatura reescrevendo com palavras mais acessíveis obras de José de Alencar e Machado de Assis.
Inconformados com o desaforo, Alencar e Machado excursionam pelo Rio de Janeiro de 2020 só para puxar o pé da atrevida. Ao conduzir os fantasmas do cirro literário ao purgatório da beleza e do caos, Rodrigues desfia referências pop e idiossincrasias de gênios da escrita para debater identitarismo e linguagem neutra.
— Todes? Seria um deus nórdico? — pergunta-se Machado ao auscultar conversas alheias em um passeio pelo campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Com graça e erudição, o autor faz denúncia social sem panfletagem, psicografando um Machado que questiona sua própria negritude ao tempo em que o emprego de pronomes causa mais polêmica do que o de milícias.
A Vida Futura, de Sérgio Rodrigues
- Cia. das Letras
- 168 páginas
- R$ 44 (impresso) e R$ 28 (e-book), em média