Poeta, jornalista, cronista e colunista de GZH, Fabrício Carpinejar participará de eventos dedicados à arte da escrita e ao encontro com o público neste fim de semana na festa literária da Capital, da qual foi patrono em 2021. Nesta sexta-feira (10), o escritor ministrará uma oficina sobre crônicas. No sábado (11), autografará sua mais recente obra, O Manual do Luto. No domingo (12), participará de um bate-papo sobre a crônica de jornal, ao lado da também colunista de GZH Juliana Bublitz.
Na sessão de autógrafos, às 19h, o poeta presenteará os primeiros cem leitores da fila com guardanapos — sua marca registrada — com frases exclusivas, em uma espécie de "horóscopo afetivo". O livro a ser autografado, O Manual do Luto, tem o desafio de combater estigmas e preconceitos que "enganam as pessoas", como a afirmação de que o luto tem fim, como se fosse uma moléstia, segundo o escritor:
— O luto não é uma fase, é uma condição eterna da sensibilidade. O luto é interminável, infindável, é para toda a vida, e cria-se uma pressão social para que a pessoa se recupere de algo irrecuperável, que é a saudade. Você não tem como jogar fora. A saudade é a roupa do amor, protege o amor, diz o que é importante dentro do amor.
Assim, o autor quis trazer o tema à tona de maneira sincera, a partir de uma escrita epistolar, como se fossem cartas dirigidas aos enlutados. A obra aborda as mais diferentes dores: a perda de filhos, maridos, esposas, irmãos, pais, mães e amigos.
Carpinejar lembra que existe uma tendência de acreditar que se a pessoa não se recupera, é porque adoeceu — o que vai na contramão do que acredita.
— Eu só identifico como doença a indiferença, a insensibilidade. Por que a gente ama? Vive? Para não ser esquecido, tanto que existe uma máxima de que a pessoa só morre definitivamente quando ninguém mais menciona o nome dela. O luto é a preservação da memória, não é para ser demonizado, porque são pessoas que estão tornando os seus afetos inesquecíveis. Se você não tem direito ao espaço para o luto, você está cultivando o esquecimento — opina.
A motivação surgiu a partir da conexão com o sofrimento, fornecida pela poesia. Ele observou o quanto quem atravessa uma perda é desrespeitado e optou por escrever uma obra direcionada a essas pessoas — motivo pelo qual não abordou uma perda pessoal.
Tamanho foi o sucesso do livro, lançado há dois meses, que ele já está na segunda edição, tendo vendido 12 mil exemplares. O autor considera a recepção "incrível" e relata que as pessoas têm compreendido que a obra não é somente para quem está vivenciando o luto, mas para quem quer ajudar — e tem recebido e-mails e mensagens que descreve como arrepiantes.
A arte de escrever
Na sexta-feira, a oficina no Auditório Barbosa Lessa, no Espaço Força e Luz, é um laboratório gratuito de escrita criativa disponibilizado pela feira, com métodos de trabalho, os fundamentos da crônica, sua relação com a literatura no espaço do jornal e sua disposição em transformar o simples em sublime.
— A crônica é o gênero da primeira pessoa. É o território do eu, da confidência, da exposição. Se você tem reservas com a sua vida privada, não escreva crônicas. Se é tímido, escreva ficção. É uma advertência a todos os meus amigos: quer ser meu amigo, saiba que você pode se tornar, um dia, uma crônica. Cuidado com o que você me diz em segredo, não há segredos entre os cronistas (risos) — aconselha.
No domingo, às 15h, também no Auditório Barbosa Lessa, Carpinejar e Juliana Bublitz — ambos colunistas que enfrentam o desafio de escrever diariamente — vão expor dúvidas, inquietações e aspirações sobre crônicas de jornal ao público interessado. Na pauta, estarão a escolha de repertório, a relevância e a possibilidade de carta branca para escrever, bem como a necessidade de intuição afinada, de estar bem informado e de conviver com diferentes personalidades. Tudo isso, claro, sempre invertendo o senso comum, mudando o ponto de vista e recenseando o cotidiano, como frisa o autor.
— Para mim, o desafio é não escrever durante o dia, passo mal. Nas férias, é como se fosse um vício, porque tenho de me esconder da esposa para escrever algo, se ela me pega trabalhando (risos)… Não é trabalho apenas, é saúde emocional, é terapia, filtro de experiências. A minha ansiedade, com a escrita, fica mansa, sociável. É um rivotril natural — revela.
Feira da superação
Para o antigo patrono, a 69ª edição do evento é a feira da superação — como tem sido, ao vencer a falta de recursos. O escritor vê o espaço como fundamental para a sobrevivência dos livreiros. Aliás, estimula os frequentadores para que desfrutem de recomendações ao vivo e peçam dicas aos expositores, o grande diferencial em relação à internet e que pode surpreendê-los.
— Tem de botar na cabeça que a feira é um patrimônio da cidade, que não tem de ficar correndo atrás, dependendo da boa vontade da iniciativa privada. Tem de criar condições de sustentabilidade para que a feira nunca seja ameaçada — defende.