Casal de patronos de edições anteriores da Feira do Livro de Porto Alegre, os escritores Valesca e Luiz Antonio de Assis Brasil reencontram os leitores e o público, nesta quinta-feira (2), na Praça da Alfândega. Os dois têm sessões de autógrafos agendadas e a autora ainda ministra uma oficina durante o período da tarde.
Aos 78 anos, Assis Brasil tem o nome consolidado entre os principais escritores ficcionistas do país. Autor de mais de 20 obras, como Cães da Província (1987), Videiras de Cristal (1990) e Perversas Famílias (1992), o ex-violoncelista da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre autografa o livro Leopold — Uma Novela, às 16h, na praça de autógrafos da Feira. Trata-se de um romance sobre o pai do músico Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791).
Para escrever sobre Leopold Mozart (1719-1787), Assis Brasil esteve na Áustria, onde pôde conhecer locais e ter acesso a mais material sobre seu personagem. Não se trata de uma biografia sobre o pai de Mozart, e sim, uma ficção escrita após extensa pesquisa em variadas fontes, inclusive muitos documentos.
— Eu já conhecia Salzburg e Viena como turista. Sempre me interessou o Mozart. Depois veio a ideia de escrever alguma coisa — conta. — Voltei duas vezes a Salzburg. Somando tudo fiquei uns 20 dias — acrescenta.
Segundo o escritor, a intenção das viagens foi conhecer o cenário e perceber o ambiente onde a família viveu. Foi uma espécie de imersão naquele mundo de grandes compositores clássicos da música erudita. Tudo ajudou para a elaboração e escrita de seu vigésimo primeiro romance.
— Fui para sentir os espaços a partir do ponto de vista deles, do Leopold e do filho Wolfgang. Medir espaços que distanciavam uma coisa da outra. As músicas que eram ouvidas e dos sinos da igreja que fica na praça central. Observar melhor o Rio Salzach, que passa por lá, e as montanhas. Sentir o espaço visual, emocional e auditivo — detalha Assis Brasil.
Questionado se ainda costuma frequentar os corredores da Feira do Livro, o autor explica que isso não acontece mais de forma constante.
— Eu já fui muito à Feira do Livro. Hoje, estou um pouquinho dividido, porque meu lema sempre foi "A arte é longa, mas a vida é breve", do Hipócrates. E naturalmente, para mim, cada vez mais breve. A vida fisiológica tem um tempo e pronto — reflete.
Assis Brasil cita o atual patrono, Tabajara Ruas, como exemplo positivo de vigor para ilustrar o tema.
— Eu gostaria de ter a saúde do Tabajara Ruas, com 82 anos, que está pintando e bordando no melhor sentido. Mas eu receio que não tenha essa saúde. Então se torna um pouco mais penoso ficar de pé e caminhar pela Feira — afirma.
O escritor faz questão de deixar claro que não se trata de "coisa de velho", e também não há algum problema sério de saúde, mas os anos cobram um preço elevado.
— Não é casmurrice da minha parte. É que realmente não me sinto em condições de ficar toda tarde e agora está quente. É isso: uns envelhecem melhor, e outros pior.
O ex-patrono da Feira do Livro ainda comanda a mais antiga Oficina de Criação Literária do país, fundada em 1985, e não para de escrever. Atualmente, traça as primeiras linhas do próximo livro, cuja história se passará no Brasil de nossos tempos.
— O que posso dizer é que uma história musical. Envolve música, um músico e uma história de amor — antecipa. — Já comecei a escrever alguma coisa, mas é tudo muito embrionário — completa.
Valesca coordena oficina e autografa livro em seguida
Patrona da Feira do Livro de 2017 — repetindo o feito de Assis Brasil exatamente 20 anos depois —, a escritora Valesca de Assis, 78, promove a oficina "A escrita de si: partindo das memórias de espaços e situações da infância – e mais! – iniciar uma outra escrita de si e do mundo. Exercícios arqueológicos e dinâmicos", no auditório do Memorial do RS. O evento começa às 14h.
— A oficina vai tratar de uma nova escrita de si mesmo. A partir das lembranças dos espaços e dos acontecimentos de uma infância que não é mais original. Mas é o resultado da imaginação de acréscimos, acontecimentos e amadurecimentos que tivemos — explica Valesca.
Quem optar por participar terá a oportunidade de escrever durante a atividade.
— Eles (participantes) vão escrever também, nem que seja no celular. Quase todo mundo escreve no celular, só não vão ter aquele contato imediato com os colegas de mesa.
A dinâmica da proposta também deverá ser um pouco diferente do habitual.
— Sempre trabalhei em espaços com mesas para fazer pequenos grupos, porque a resposta do aluno é muito importante. Quando eu fiquei sabendo que será no auditório do Memorial, estou pensando em fazer algo um pouco diferente — diz.
Haverá comentários sobre o método do escritor português Pedro Sena-Lino, conhecido por desenvolver cursos de escrita criativa, e depois serão sugeridos alguns exercícios na oficina para se explicar as diferenças dos métodos existentes.
Nascida em Santa Cruz do Sul, a autora se formou na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também é professora de História especializada em Ciências da Educação e ministrante de oficinas de escrita criativa.
Como escritora, estreou em 1990, com a publicação de A Valsa da Medusa. Entre romances, novelas, contos e ficção juvenil, lançou 12 livros individuais, como A colheita dos dias (1992), Um dia de Gato (2010) e Vão pensar que estamos fugindo (2012). Às 16h desta quinta, ela autografa o livro de contos Caderno de Histórias.
— Estudo bastante o conto, porque gosto muito. Mas não é natural para mim. Por isso, estudo — conclui Valesca, salientando que a obra não foi lançada antes em função da pandemia.
SERVIÇO
Luiz Antonio de Assis Brasil
- O quê: sessão de autógrafos do livro Leopold - Uma Novela
- Quando e horário: quinta-feira (2), às 16h
- Local: Praça de Autógrafos Gerdau, na Feira do Livro
Valesca de Assis
- O quê: oficina "A escrita de si: partindo das memórias de espaços e situações da infância - e mais! - iniciar uma outra escrita de si e do mundo. Exercícios arqueológicos e dinâmicos"
- Quando e horário: quinta-feira (2), às 14h
- Local: auditório do Memorial do RS, na Praça da Alfândega
Em seguida:
- O quê: sessão de autógrafos do livro de contos Caderno de Histórias
- Quando e horário: quinta-feira (2), às 16h
- Local: Praça de Autógrafos Gerdau, na Feira do Livro.