Assis Brasil ouve Mozart desde os cinco anos. Em uma conversa com a esposa e também escritora Valesca de Assis sobre o conflito entre o catolicismo e o iluminismo, correntes que vigoravam no século 18 na Europa Central, o pai do célebre compositor austríaco foi mencionado como alguém que era capaz de conceber dentro de si os dois pensamentos aparentemente divergentes.
Isso o intrigou e, embora já conhecesse a vida de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e de seu pai, Leopold Mozart (1719-1787), decidiu estudá-la melhor. Debruçou-se sobre livros e materiais históricos, inclusive cartas escritas pelo progenitor, um músico da corte de Salzburg, onde eles viveram, e chegou a mais detalhes do temperamento do verdadeiro erudito que era, compositor respeitado entre seus pares, que acreditava no conhecimento e queria transformar o filho no melhor do mundo. Um iluminista, mas um homem austero também, indício provável de seu catolicismo.
Leopold — Uma Novela, novo livro de Luiz Antonio de Assis Brasil e estreia da editora Zain no mercado editorial, não é uma biografia do pai de Mozart, e sim uma ficção escrita após bastante pesquisa sobre um personagem central para que a música clássica tivesse um de seus seus gênios. O lançamento em Porto Alegre com a presença do escritor será no dia 17 de junho, às 17h, no Foyer Nobre do Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), com o músico Max Uriarte executando composições de Mozart pai e Mozart filho no piano.
— Leopold não foi um gênio como o filho, mas teve uma importância absolutamente fundamental para Mozart. Sem o pai, Mozart não seria o que foi. O pai não só lhe ensinou a música como foi bastante exigente e levou o filho para visitar grandes centros, em viagens que duraram mais de um ano, como Roma, Milão, Nápoles, Paris, Londres, Bruxelas, onde Mozart aprendeu com grandes mestres. Leopold sabia que o filho era genial — conta Assis, em entrevista realizada na sua casa, na zona sul de Porto Alegre.
Embora já conhecesse Salzburg, uma nova visita à pequena cidade austríaca pouco antes da pandemia ajudou na ambientação de seu vigésimo primeiro romance, mas não o único em que a música é pano de fundo. O Homem Amoroso (1986) e Concerto Campestre (1997), apenas para citar alguns, também se baseiam no universo que o escritor gaúcho viveu intensamente durante os 15 anos em que foi violoncelista da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), antes de dedicar-se exclusivamente à literatura. Retomar esse tema em suas obras, pode-se dizer, é uma forma de atar pontas soltas.
O conflito da história é baseado em um episódio real, documentado em carta. Houve um recital de Wolfgang com a presença de Joseph Haydn (1732-1809), até então tido como o compositor mais notório da Europa. Ao ouvi-lo tocar, Haydn vai até Leopold e admite que, "perante Deus e como um homem honesto, quero dizer que seu filho é o maior compositor de todos". A partir daí, é imaginação de Assis.
Com a missão de lapidar Wolfgang e de conduzi-lo pela mão ao mais alto patamar, Leopold sofre um baque quando percebe que o filho chegou lá — em parte dessa trajetória, sozinho.
— A vida do Leopold perde o sentido, porque ele tinha se incumbido de uma missão divina de acompanhar por toda a vida a formação de seu filho e torná-lo o maior compositor do mundo. E disse: "O que faço da minha vida agora?".
Assis opta pelo relato em primeira pessoa, com Leopold reproduzindo, em discurso direto, as falas de demais personagens, sem recurso de aspas ou travessão, semelhante a um fluxo de consciência. O recurso acentua a solidão e o desamparo do personagem diante da notoriedade do filho.
Leitora de todos os livros do marido, Valesca confessa que Assis temia que o avanço da idade pudesse embotar sua capacidade de escrita. No entanto, acredita que ele, prestes a completar 78 anos, conseguiu chegar a sua grande obra.
— Posso dizer que é o livro da minha vida — concorda Assis. — Mas é perigoso dizer isso, porque posso ficar na mesma situação do Leopold. Acho que posso escrever mais coisas.
"Leopold - Uma Novela", de Luiz Antonio de Assis Brasil (editora Zain)
- Disponível para compra no site da Editora Zain. 296 páginas; R$ 74,90
Lançamento em Porto Alegre no dia 17 de junho, às 17h, no Foyer Nobre do Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°, Centro Histórico). - Na ocasião, haverá apresentação musical do pianista Max Uriarte, que executará peças de Leopold e Wolfgang Amadeus Mozart
- Entrada gratuita