O filólogo Ricardo Cavaliere, 69 anos, derrotou o quadrinista Mauricio de Sousa e foi eleito para a cadeira número oito da Academia Brasileira de Letras (ABL), na tarde desta quinta-feira (27). O novo imortal era o favorito antes de o criador da Turma da Mônica se candidatar, em março, à vaga que era ocupada pela professora Cleonice Berardinelli, que morreu em janeiro. O filólogo recebeu 35 votos contra apenas dois em favor de Mauricio. Houve também um voto em branco.
O favoritismo de Cavaliere parecia ameaçado pela popularidade do cartunista de 87 anos, mas isso não se consolidou na votação. Cavaliere é Doutor em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor aposentado da Universidade Federal Fluminense. É autor de obras como Fonologia e Morfologia na Gramática Científica Brasileira e Pontos Essenciais em Fonética e Fonologia, sendo considerado um dos maiores especialistas em letras e linguística do país.
Ele pesquisou, após o doutorado, ao lado de Evanildo Bechara, 95 anos, imortal da ABL e referência em estudos de gramática. Cavaliere já havia concorrido a uma vaga na ABL em 2021, mas, na ocasião, José Paulo Cavalcanti foi eleito.
Os escritores Elois Angelos D’Arachosia, James Akel, Joaquim Branco e o advogado José Alberto Couto Maciel também concorriam à cadeira oito.
Recentemente, críticas disparadas por Akel (que não obteve nenhum voto), que também cobiçava a vaga, repercutiram na imprensa e na web. Ele chegou a dizer que gibi não era literatura de verdade e que Mauricio não tinha o que acrescentar à ABL. As falas geraram reações.
Mauricio rebateu os ataques ressaltando que quadrinhos "são revolucionários porque ficam entre a literatura e as artes gráficas" e citando o norte-americano Will Eisner, que o ensinou que a linguagem dos quadrinhos "é uma revolução de ideias".
Tradição
Integrante mais longeva da ABL, Berardinelli morreu aos 106 anos. A especialista em literatura portuguesa foi uma das pioneiras no estudo de Fernando Pessoa.
A ABL tem a tradição de substituir os membros por outros com especialidades similares — motivo pelo qual Cavaliere era considerado um bom substituto para a cadeira, visto que também é um pesquisador de Língua Portuguesa, conforme o jornal Folha de S.Paulo.
Além da votação por carta, os acadêmicos votaram pela segunda vez em urnas eletrônicas, emprestadas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, para eleger o novo imortal. A primeira foi na semana passada, quando Heloisa Buarque de Hollanda foi escolhida para a cadeira 30, que pertencia à Nélida Piñon.