O escritor timorense Luís Cardoso foi o grande vencedor do Prêmio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa deste ano por O Plantador de Abóboras. Esta é a primeira vez que um livro do continente asiático figura entre finalistas e vencedores. O anúncio foi feito nesta quarta (8), em cerimônia virtual.
— Este romance deixa muitas impressões nos seus leitores. A primeira está no poder da linguagem, de nos lembrar que a língua portuguesa permanece viva e ganhou densidade e profundidade em cada fração de terra onde é falada. É um romance que nos faz refletir que a história de uma personagem nunca é uma história solitária. É uma história que carrega consigo a história de sua comunidade, de seu povo e neste caso, de seu país, o Timor-Leste — destacou Itamar Vieira Júnior, que venceu o prêmio no ano passado por Torto Arado.
Luís Cardoso nasceu em Kailako, uma vila no interior de Timor. Ele se mudou para Portugal ainda jovem e é autor de outros sete livros.
Seu retorno ao país natal em 2011 foi uma das motivações para escrever O Plantador de Abóboras, que foi publicado em Portugal no ano passado e ainda não foi editado no Brasil. O livro aborda a história do país a partir de uma voz feminina, que narra três guerras ocorridas no país.
— Fui visitar um lugar que conhecia muito bem, há muitos anos, e que estava em ruínas por causa das milícias militares. Enquanto eu estava lá, junto de mim uma senhora começou a falar da história do Timor. Começou a contar sua própria história — descreveu, na cerimônia. — E desde aquele dia eu pus na minha cabeça que eu havia um dia de contar esta história, através de uma voz feminina — acrescentou.
Em segundo lugar, ficou o romance O Ausente, do escritor e professor brasileiro Edimilson de Almeida Pereira, publicado no Brasil pela Relicário. A obra é o primeiro volume da trilogia Náusea, que inclui também Um Corpo à Deriva (Edições Macondo), que foi semifinalista do Oceanos, e Front (Editora Nós), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2021.
— O Ausente é um livro sobre liberdade, elemento que atravessa a construção da obra para recriar o universo rural, intimista e místico onde é ambientada a narrativa — destacou Manuel da Costa Pinto.
O terceiro lugar foi concedido ao romance O Osso do Meio, de Gonçalo M. Tavares, publicado em Portugal pela editora Relógio D'Água. O autor venceu o Prêmio Oceanos em duas ocasiões: 2007, com Jerusalém, e 2011, com Uma Viagem à Índia.
— Gonçalo M. Tavares retoma neste livro a perspectiva da violência, da escrita e do tema, e concebe um texto duro, de muita contenção. É um romance que, a partir da margem do terror, coloca o leitor em uma posição de fragilidade, mostrando um lado divergente daquilo que somos enquanto humanos, algo que receamos tornar-nos — ressaltou.
Os vencedores foram escolhidos pela angolana Ana Paula Tavares, pelos brasileiros Itamar Vieira Junior, Julián Fuks, Maria Esther Maciel e Veronica Stigger e pelos portugueses António Guerreiro e Golgona Anghel. Neste ano, concorreram oito publicações de romance, uma de contos e outra de poemas, escritas por autores do Brasil, de Moçambique, Portugal e Timor-Leste.
As obras foram selecionadas a partir de uma lista de 54 semifinalistas escolhidos entre 1.835 livros inscritos, publicados em 10 países. O valor total da premiação é de 250 mil reais, sendo 120 mil para o primeiro colocado, 80 mil para o segundo e 50 mil para o terceiro.
Finalistas
Entre os finalistas estavam Maria Altamira (Instante), oitavo romance de Maria José Silveira e que trata da luta dos povos indígenas pela sobrevivência; O Avesso da Pele (Companhia das Letras), do colunista de GZH e vencedor do Prêmio Jabuti Jeferson Tenório, que aborda as violências sofridas por homens negros no país; e Fé no Inferno (Companhia das Letras), 12º romance de Santiago Nazarian e que aborda o genocídio armênio.
O Mapeador de Ausências (Companhia das Letras), de Mia Couto, obra que conta em dois tempos a história do poeta Diogo Santiago e do seu pai Adriano numa Moçambique pré e pós independência; e A Tensão Superficial do Tempo (Todavia), de Cristovão Tezza, que já venceu o Oceanos em 2008 com O Filho Eterno, também estava na lista.
A única obra de poesia finalista foi Inferno (Assírio & Alvim), do português Pedro Eiras. A lista também incluiu Pessoas Promíscuas de Águas e Pedras (Patuá), da brasileira Thais Lancman.