Escritor, professor e colunista de GZH, Jeferson Tenório venceu o Prêmio Jabuti de Melhor Romance Literário com O Avesso da Pele (Companhia das Letras, R$ 59,90). Depois de um temporal que atingiu Porto Alegre nesta quinta-feira (25), o autor ficou sem acesso à internet e não conseguiu acompanhar a cerimônia virtual — só descobriu que havia ganhado quando começou a ser procurado para conversar sobre o prêmio.
— Estou muito emocionado, os concorrentes eram muito fortes, eles tinham muitas chances. E prêmio é isso, chega na reta final, é nos detalhes que se resolve. Estou muito contente com essa caminhada que O Avesso da Pele teve — afirmou.
A obra foi finalista ao lado de outros nove títulos, entre eles Os Supridores, do porto-alegrense José Falero, As Sobras de Ontem, de Marcelo Vicintin, Maboque, de Tina Vieira, e Maria Altamira, da Maria José Silveira.
Ambientado em Porto Alegre, O Avesso da Pele é narrado por Pedro, um universitário de 22 anos cujo pai Henrique morreu baleado por policiais após ser considerado suspeito ao sair da escola. Apesar de dizer que o livro acaba servindo como uma das vozes para as discussões sobre racismo e violência policial, Tenório também aponta outras questões:
— Tem outros aspectos (no livro), como a crítica à educação brasileira, justamente no governo em que a gente vive, e também uma relação muito afetiva que é essa entre pais e filhos.
Dentre os avanços que percebe no cenário da literatura, o autor lembra que a maior parte das indicações para o Jabuti neste ano foi para mulheres, além de pessoas negras também estarem ganhando espaço — a exemplo de Itamar Vieira Junior, que venceu em 2020 na categoria de Romance Literário por Torto Arado.
— Estamos vivendo uma nova etapa de rever a própria história da literatura. De olhar para trás e ver que a literatura foi predominantemente branca, masculina, heteronormativa. Olhar para trás e também ver Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Astolfo Marques — acrescenta ele.
Apesar dos avanços, ainda há melhorias a serem feitas. E o caminho, aponta, passa pela formação do bom leitor e de políticas governamentais de estímulo.