Werner Schünemann, ao longo de seus mais de 40 anos de carreira, se aventurou em diversas frentes, sendo roteirista, diretor, produtor, apresentador e, claro, ator. Agora, agrega mais uma atividade para a sua já extensa lista de talentos: a de escritor. Depois de um período de pré-venda na internet, chegou às livrarias o seu primeiro romance, Alice Deve Estar Viva (Editora Almedina, 232 páginas, R$ 47,20). A sessão de autógrafos em Porto Alegre será no dia 16 de dezembro, das 18h às 21h, na livraria Leitura do BarraShoppingSul (Avenida Diário de Notícias, 300, bairro Cristal).
O livro começou a ser gerado há mais de 10 anos, mas foi somente durante a pandemia que a obra finalmente ganhou vida, por haver mais tempo para organizar o material e desenvolver a história. A trama é narrada por Luciano, ex-marido de Alice que, após receber um recado da personagem-título, emerge em uma jornada de busca e perseguição.
— Esse romance vai agradar às pessoas. Digo isso devido à minha experiência de roteirista de cinema e também como ator. Gosto muito de contar histórias e gosto que elas sejam ágeis, rápidas e surpreendam o tempo todo. E isso tem no Alice Deve Estar Viva: surpresas sem parar. O leitor vai acompanhando uma trama que leva a uma surpresa, aí ele acha que a coisa vai por ali, mas muda outra vez — detalha Schünemann.
O título, segundo o escritor, possui uma estrutura de livro policial e, apesar dos personagens e da história serem ficcionais, o pano de fundo, ou seja, a atividade criminal que é apresentada na obra — que o autor não revela, para não dar spoilers sobre a narrativa — existe e deve agradar aos que gostam de suspenses baseados em fatos.
— Sou um leitor voraz e quase obsessivo. Sou assim quase a vida toda, mas ser autor ainda é novidade. Estou aprendendo — reflete Schünemann.
O autor
Para essa primeira empreitada literária, o eterno intérprete de Bento Gonçalves de A Casa das Sete Mulheres (2003) — inclusive, tendo voltado ao papel recentemente no filme Anita — A Guerreira de Dois Mundos, ainda em produção — escolhe como ponto de partida o pampa gaúcho, mais precisamente uma estância em Bagé. Seu thriller, porém, não para apenas em solo gaúcho, avançando também para Minas Gerais, Brasília, Santa Catarina e ainda sai dos limites do Brasil para ir até o Uruguai.
— Tem uma coisa meio On the Road, eles estão na estrada, pegando avião, alugando carro, tem muita andança pelo Brasil — explica.
E apesar de sua jornada por vários locais, o autor reforça que o livro é pouco descritivo. Ou seja, não espere mínimos detalhes sobre o cenário em que cada um dos personagens se encontra. Para Schünemann, este excesso de informações pode atrapalhar a experiência do leitor na imersão da história.
— As descrições são mínimas. E quando eu falo do pampa, por exemplo, não é um pampa descritivo, é um pampa sentido. É quase como se você olhasse a paisagem de olhos fechados — conta.
Em Alice Deve Estar Viva, o autor, então, aposta nos diálogos e na fantasia, fazendo com que os personagens tenham longas conversas, enganem-se e, juntamente com o leitor, vão descobrindo os segredos que existem pela frente.
— Como roteirista, sempre tive mais habilidade nos diálogos. Não vou ser um falso modesto, eu realmente sei escrever diálogos e eles realmente ficam bons. Em muitos trabalhos como ator, sugiro algumas mudanças nos diálogos para que eles fluam melhor e fiquem mais claros.
Apostando menos em descrições e mais em diálogos e na ação, Schünemann apresenta um livro que pretende ser mais objetivo, afastando-se das obras que são "tijolões pesados". Ele garante que fez um esforço para não atrapalhar a história com "literatices", deixando escrito apenas o que é "poético e bonito".
Maturidade
Luciano é o narrador da história, Alice é quem dá título ao livro, mas a personagem que, na visão do autor, é a principal se chama Tereza, mãe da desparecida que também embarca na jornada em busca de sua filha ao lado do ex-genro.
— Nesta fase em que nós estamos, eu e Tereza, existe muito viço, é cheia de energia e de luz, uma nova vida que começa nesta etapa. E não é papo de terceira idade, mas na parte em que eu estou, com os meus 62 anos, é sensacional, de uma energia, de uma disposição, de uma capacidade de realização que não se tem aos 30 — garante.
Segundo o autor, com a maturidade, veio também a habilidade canalizar energia, ao mesmo tempo em que encontrou mais disciplina interna, assim como mais tempo de pensar:
— Sou um cara que vive da imaginação, da fantasia, da invenção. Criei os meus filhos com isso. Essa fase tem a ver com isso, e eu coloquei nessa personagem. Essa idade é onde está o pico da tua vida, porque tu já tens a sabedoria de não dispersar energia. E esse é o segredo.
Para Alice Deve Estar Viva, Schünemann revela que contou com a ajuda de Luiz Antonio de Assis Brasil, de Giba Assis Brasil e de Débora Mutter, a quem o autor se refere como uma "especialista em Clarice Lispector e uma grande observadora de literatura", que colaborou na revisão do título.
O autor ainda tem um desejo interno, que é o de fazer com que pessoas não acostumadas com livros comprem o seu título e que, com isso, ele abra as portas para outras obras.
— E aí uma das minhas possibilidades de contribuição com a coletividade estará realizada. É de verdade, não é papo de novela das seis, não — afirma. — Eu quero ser um contador de histórias. Essa frase nem é minha, é do Erico Verissimo, mas eu digo porque é o que eu faço como ator, é o que eu fazia como diretor, quando escrevia roteiros. Eu sempre fui um contador de histórias. E vou continuar sendo. Esse é somente o meu primeiro romance.