Embora seja uma luz para criadores fora do circuito editorial ou iniciantes independentes, a viabilização de um livro via financiamento coletivo é trabalhosa e precisa de uma mobilização tão grande e eficiente quanto a de uma campanha política (aliás, não é por acaso que se chamam de “campanhas” os pedidos nas plataformas).
Quem transita já com alguma desenvoltura nas plataformas de financiamento coletivo é unânime em afirmar que, mais do que uma alternativa, o crowdfunding é um novo modelo, em que o autor e a editora são mais exigidos do que antes na interação com seu público. É um trabalho de editoras com boa presença em redes sociais, muitas vezes de um nicho com público cativo, como a Editora Wish, que já teve 12 projetos financiados pelo Catarse, alguns deles contos de fada clássicos. É uma casa que cativa seu público com um contato próximo na internet.
— O que a gente costuma fazer para dar uma calculada no potencial do projeto é fazer uma pré-campanha, digital, usando muito as redes sociais. Tirar pelo número de curtidas ou de comentários uma atmosfera, fazer uma enquete sobre a capa, o projeto gráfico. Tem de engajar seu público. Muitos erram, e a gente já errou também, mas o caminho é testar o tamanho da rede — comenta Marina Ávila, CEO da Editora Wish.
Mesmo a não viabilização não representa uma sentença para o autor ou seu livro. A visibilidade obtida com a campanha pode apontar outros caminhos. Foi o caso do jornalista Roberto Jardim, que tentou no fim de 2019 relançar sua obra Democracia Fútbol Club, uma coleção de perfis de figuras do futebol com atuação política engajada. Jardim decidiu lançar a campanha no começo de novembro. Embora o livro já tivesse encontrado uma boa base de leitores, a proximidade com as festas de fim de ano prejudicou a arrecadação de apoiadores, mesmo recomendada por nomes como Mário Magalhães ou Juca Kfouri.
— Houve duas semanas que não teve apoio nenhum no fim do ano. Foi um erro estratégico, mas, mesmo sem a viabilização, chamou a atenção dos editores do portal Ludopédio e acertamos a publicação com eles no segundo semestre — conta.
Quem também escolheu o fim do ano mas conseguiu alavancar seu segundo livro foi o escritor André Czarnobai. Mesmo experiente, não escapou de um equívoco inicial.
— Trabalho com internet há mais de 20 anos. Estou acostumado com estatísticas. Uma coisa que nunca mudou é a frequência de acessos, sempre cai no fim de semana e perto das datas comemorativas e do final de ano. Para reverter o tiro no pé, impulsionei muito conteúdo em redes. Mas o que rendeu compra foi contato direto.
Dicas para conquistar apoiadores
Saiba a natureza de seu projeto
Ao lançar um projeto para financiamento coletivo, é preciso ter bem claro o tipo de público que pode vir a se interessar por ele. É isso que vai determinar o tipo de financiamento que você deve arriscar, o número de exemplares da edição, o tipo de recompensas que pode oferecer e mesmo se você tem uma base de potenciais apoiadores para garantir o projeto.
Faça estudos de caso
Coisas que podem funcionar para um projeto de financiamento coletivo podem não ser eficazes para uma iniciativa de outro tipo. A mesma estratégia de sucesso desenvolvida em um projeto anterior pode não funcionar em uma segunda tentativa apenas um ano depois. Analise as campanhas que fizeram mais sucesso, converse com outros criadores para descobrir o que funcionou.
Planeje com cuidado
Você precisa calcular na ponta do lápis o que vai realmente gastar na produção de seu livro para garantir que a meta estabelecida atenda às necessidades e aos custos com diagramação, revisão, projeto gráfico, capa, gráfica. Se adotar metas estendidas nas quais o dinheiro arrecadado acima da meta será usado para melhorias no projeto, como capa dura ou um outro tipo de papel, tenha certeza de que calculou certo o valor dessas despesas a mais.
Olho no calendário
Ao lançar um pedido de financiamento coletivo, tenha em mente que, assim como no comércio, há datas mais e menos favoráveis. Lançar um crowdfunding muito próximo a feriados prolongados ou aos períodos de férias pode prejudicar sua arrecadação.
Mergulhe na campanha
O nome que se dá é “campanha” por um motivo. Você precisa divulgar seu projeto de leitor em leitor. E vai precisar do apoio de amigos e da sua rede de contatos reais e virtuais. O marketing da campanha precisa começar antes do projeto ser lançado, avisando amigos e contatos de sua rede de que algo está sendo preparado e pedindo apoio com ênfase logo no início. Também é preciso caprichar nas peças de apresentação do projeto e nos teasers em redes sociais.
Não descuide das recompensas
O financiamento coletivo é um tipo especial de pré-venda, ou seja, é um compromisso comercial. Após a concretização do projeto, cabe a você honrar a remessa dos livros e cumprir e entregar as recompensas prometidas.