Yoko Tawada é uma autora nascida no Japão, mas que passou a maior parte de sua vida adulta vivendo na Alemanha, primeiro em Hamburgo e depois em Berlim. É uma autora com 30 anos de carreira e duas dezenas de obras, entre romances, contos, poesias, ensaio e peças de teatro escritos originalmente em japonês e em inglês. Com toda essa trajetória, ela foi apresentada ao leitor brasileiro só neste ano, com a publicação pela Todavia do romance Memórias de um Urso-Polar, livro sobre o qual ela fala na quarta-feira (16), no Instituto Goethe, em Porto Alegre. Antes disso, na manhã de terça-feira (15), no Instituto de Letras da UFRGS, ela discute tradução e apresenta outro de seus livros vertido para o português, a coletânea de ensaios Überseezungen (ou “traduções”).
A vinda da autora a Porto Alegre é organizada pelo Instituto Goethe e pelo Instituto de Letras da UFRGS, como parte da turnê de divulgação no Brasil de Memórias de um Urso-Polar. O romance é inspirado na história real do urso Knut, rejeitado pela mãe ao nascer no zoológico de Berlim em 2006. Em uma prosa reflexiva que alcança o lirismo sem abusar de metáforas ou imagens, o livro acompanha três gerações de ursos-polares vinculados ao entretenimento. Da avó de Knut, ex-ursa de um circo na União Soviética, à mãe, Toska, treinada para um número na Alemanha Oriental. Por fim, Knut, nascido na Berlim já reunificada. O que dá um toque único à história é que, na realidade criada por Yoko, os ursos têm linguagem, interagem com os humanos mais como minorias étnicas do que como animais. A avó de Knut escreve sua própria autobiografia. Tosca se encontra em sonhos com sua treinadora a cada vez que dorme, entre outros acontecimentos que fogem do realismo estrito — o que já a levou a ser comparada com Kafka, autor que ela diz admirar, mas que não resume sua inspiração.
— Gosto muito de Kafka, mas é mais do que isso. Outra inspiração foram o conjunto de caricaturas japonesas do século 12 Chōjū-Giga, que trazem cenas com animais. Hoje sabemos que esse material continha uma crítica política a figuras da época, mas esse contexto se perdeu. Acho isso muito interessante. O que sobrevive é a imagem, a cultura, não a mensagem.
Japonesa vivendo na Alemanha desde 1982, Yoko se interessa pelo tema da imigração e do deslocamento, presentes o tempo todo na história de Knut e sua família. Escrever pela voz de ursos foi uma experiência que a escritora classifica como libertadora:
— Não há nada de errado com a prosa realista, mas eu preciso de fantasia. Se a personagem fosse uma mulher japonesa, eu estaria mais restrita. Mas pude imaginar ser um urso-polar, me expressar por esse “animal interior”.
Yoko Tawada em Porto Alegre
NA UFRGS
- A autora discute tradução e apresenta a edição brasileira de Überseezungen (Editora Class)
- Nesta terça (15), às 10h, na sala 205 do Prédio de Aulas do Instituto de Letras, no Campus do Vale da UFRGS (Av. Bento Gonçalves, 9.500, bairro Agronomia)
NO GOETHE
- A autora e os tradutores apresentam o romance Memórias de um Urso-Polar
- Quarta-feira (16), às 19h, no Auditório do Goethe (Rua. 24 de Outubro, 112, bairro Independência).
Ambas as atividades têm entrada franca.