O carioca Jô Bilac, autor de peças como Conselho de Classe e Insetos, é um dos mais destacados autores dos palcos brasileiros. Ele estará na Sala da Música do Multipalco Eva Sopher (Praça Marechal Deodoro, s/nº) na quinta-feira (15) às 17h, para comentar seus textos.
Num tempo em que a dramaturgia já passou por tantas transformações formais, o que resta ao dramaturgo contemporâneo?
Na verdade, a dramaturgia no Brasil é muito recente. Apesar do curto tempo, foram transformações profundas, intensas. O número de dramaturgos hoje no Brasil é bem maior (do que no passado) e com voz ativa. A internet ajuda a catalogar isso e, de certa forma, nos conectar. Tem muito desdobramento pela frente. A dramaturgia reflete a voz do seu povo. Isso tudo são sementes que ainda vão se desdobrar em árvores e galhos e flores e por aí vai. Nesse sentido, ainda temos muito o que falar, muito o que elaborar. A dramaturgia ajuda a elaborar a identidade da sua tribo.
Você é um dramaturgo que prefere escrever sozinho ou na sala de ensaio?
As duas formas e outras mais possíveis. Não tenho exatamente um método. A cada encontro me deixo afetar e afetar os meus parceiros de trabalho. Já escrevi peças sozinho em gabinete, com minha companhia (de teatro) e com outros grupos em processo de sala de ensaio. Já escrevi em coletivos de autores. A cada processo, procuro estar sensível, entender sua dinâmica.
O que você gostaria de ter sabido antes, quando começou a escrever para teatro?
Não querer encontrar de cara um estilo. Quando comecei, a forma estava à frente do conteúdo, e acho que as duas coisas precisam caminhar juntas. Com o amadurecimento, me permiti me revelar mais dentro dos conteúdos. Se fosse dar um conselho que gostaria de receber, é: “Revele-se, provoque e seja provocado”. É não querer chegar numa forma antes de construir o conteúdo.
Há temáticas ou preocupações em comum entre as peças de sua autoria?
Tem o atrito entre o indivíduo e o coletivo. Meus textos, de certa forma, transitam entre paradoxos: a vida e a morte, o indivíduo e o coletivo, a beleza e o horror, a tragédia e a comédia. Os textos sempre transitam nesses extremos como a realização de um paradoxo que é a vida, nossa sociedade e nós mesmos.