O artista, arquiteto, cineasta e ativista político chinês Ai Weiwei foi a atração do Fronteiras do Pensamento na última segunda-feira. O encontro no Salão de Atos da UFRGS foi em formato de entrevista, com perguntas feitas pelo curador brasileiro Marcello Dantas. O artista falou sobre censura e autoritarismo na China, bem como sobre seu ativismo pela liberdade de expressão e pelos refugiados do mundo todo.
Antes de chamar o artista ao palco, Dantas detalhou a exposição que entrará em cartaz na Oca do Ibirapuera, em São Paulo, em 20 de outubro. Ai Weiwei Raiz será a maior mostra já realizada pelo artista e contará com obras fabricadas no Brasil, por artesãos locais que mesclam elementos da cultura brasileira com a linguagem irreverente do artista, como os ex-votos com a figura de Ai Weiwei mostrando o dedo do meio e fazendo selfie.
Frequentemente em cartaz nas maiores instituições de arte do mundo, Weiwei manifesta o ativismo político em suas obras. Desde criança, sente o peso de viver sob um governo autoritário: cresceu em exílio, pois seu pai, o poeta Ai Qing, foi enviado com a família para campos de trabalho forçado.
– Cresci em uma sociedade em que arte, literatura, poesia, tudo isso foi proibido. Meu pai teve que queimar toda a sua coleção de livros e tive que ajudá-lo a fazer isso – recordou o artista.
Weiwei ficou famoso por usar as redes sociais para manifestar sua opinião, o que o fez entrar na mira do governo chinês. Foi agredido pela polícia, preso em 2011 e impedido de deixar o país por quatro anos. Atualmente, disse que seu nome foi apagado na internet da China, que se tornou mais restrita e "regional":
– Temos cem mil pessoas que são uma espécie de polícia da internet e que, com a desculpa de tomar um chá, podem bater na sua porta para te intimidar. Meu advogado está cumprindo pena de cinco anos por algo que postou na internet. As pessoas têm muito medo e há muita autocensura.
Em seu documentário sobre refugiados, Human Flow – Não Existe Lar se Não Há para Onde Ir (2017), Weiwei afirma que o número de países com muros nas fronteiras cresceu para 70. Em Porto Alegre, disse que "fronteiras são ridículas" e que nenhum muro físico impediria as pessoas de lutar pela liberdade:
– Não devemos construir muros no nosso coração. Seriam os muros mais fortes. E aí estaríamos ferrados – disse, arrancando aplausos da plateia.
Questionado sobre qual seria o antídoto para o racismo e a intolerância no mundo, Weiwei respondeu, logo após ouvir o público gritar "Ele Não":
– Sempre temos o dia seguinte. É importante que os indivíduos defendam os seus valores. Não podemos deixar que apenas os políticos definam o nosso futuro.
Não poupou o capitalismo e a globalização de críticas. Para ele, teriam aumentado a divisão entre ricos e pobres, abrindo caminho para ódio e polarização política:
– É como falar de doenças, é algo que acontece e é difícil analisar. Temos que ficar atentos e perceber quando nossos direitos estão sendo violados. A democracia, em muitos sentidos, tem sido um fracasso e pode ser hackeada.
Famoso por tirar selfies, Weiwei despediu-se fotografando-se diante do público.
O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria cultural PUCRS e empresas parceiras CMPC Celulose Riograndense e Souto Correa. A parceria institucional é da Unicred. Universidade parceira: UFRGS. Promoção: Grupo RBS.