Por Paulo Silveira
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRGS
Ai Weiwei (1957) é um dos mais conhecidos artistas chineses no mundo, graças às obras em fotografia, vídeo, escultura e instalação, até arquitetura e curadoria, incluindo o ativismo político, social e cultural. Por ser filho de um poeta exilado em 1958 para um campo de trabalho sob acusação de ser direitista, teve infância e juventude afastada da capital desde antes de completar o primeiro ano de idade até 1976, quando Mao morreu e a Revolução Cultural terminou – e ele pôde voltar a Pequim. Partiu para os EUA em 1981, absorvendo sua liberdade criativa. Voltou a Pequim em 1993, tornando-se um dos impulsionadores da vanguarda chinesa, período lembrado pelo conjunto de fotografias de 1995, em que deixa se despedaçar no chão uma urna da Dinastia Han, ação que o identificaria como iconoclasta.
Na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010, foi possível ao Brasil receber o grupo de 12 esculturas em bronze Circle of Animals/Zodiac Heads, recriação de um conjunto criado por jesuítas para os jardins imperiais do Antigo Palácio de Verão, saqueado e incendiado por franceses e britânicos em 1860, durante a Segunda Guerra do Ópio, propiciando aos visitantes reflexões sobre pátria, repatriação e pilhagem em cruzamento com conceitos como originalidade, cópia e valor simbólico, incluindo a coação e a humilhação. Aí estão os primeiros passos para a complexidade dos componentes de sentido abrigados em obras aparentemente simples. De São Paulo, o conjunto prosseguiria para outras cidades.
Na China, mantém relações oscilantes com o poder. É simultaneamente divulgador da capacidade artística chinesa e seu ator mais indomesticável. Weiwei foi o consultor artístico do "ninho de pássaro", Estádio Nacional de Pequim para as Olimpíadas de 2008. Como crítico do governo quanto à falta de democracia e de atenção aos direitos civis, promoveu investigações sobre corrupção e descaso em obras públicas. Em novembro de 2010, foi mantido em prisão domiciliar e depois impedido de sair do país. Em 2011, chegou a ser preso sem acusação formal durante 81 dias (no videoclipe Dumbass, de 2013, encena a experiência na prisão). Sofreu suspeições de pornografia e troca ilegal de moeda estrangeira, sendo firmemente vigiado. Em 2015 recuperou o passaporte e direito de viajar.
Visibilizando ações de proteção dos direitos individuais, mantém boas relações com a comunicação. Em 2013, criou a capa para edição da Time sobre a China e tornou-se embaixador dos Repórteres Sem Fronteiras, ajudando a financiar projetos de liberdade de informação. Com clara noção de função da mensagem, uma exposição recente ganhou repercussão ampliada. Entre 2014 e 2015, ocupou espaços da midiática Alcatraz, penitenciária federal na baía de San Francisco. Hoje parque nacional para proteção de nidificação de aves, sua ilha atrai turistas curiosos mais no seu passado sombrio do que em ornitologia. A exposição @Large: Ai Weiwei on Alcatraz comissionava uma estrela da desobediência civil para trabalho em uma prisão ("at large" significa à solta, em liberdade).
As ocupações eram específicas para os locais: papagaios de papel feitos por artesões chineses, sedas e bambus, com remissões a países opressores; instalação com blocos de Lego com retratos de mais de 170 aprisionados por crenças ou afiliações (a maioria ainda encarcerada); grande escultura alada, ao solo, com mais de cinco toneladas, com painéis solares tibetanos; buquês de flores de porcelana branca nas pias, banheiras e vasos sanitários da ala hospitalar e de psiquiatria; instalação sonora nas câmaras de isolamento e observação de doentes mentais (com cantos de monges tibetanos e índios Hopi); 12 celas com áudio de falas, poemas e cantos de detentos internacionais; e ampla instalação no refeitório, onde o visitante podia preencher e enviar cartões-postais com imagens como aves e flores silvestres para prisioneiros, com postagem paga pela exposição. Esse o conceito expositivo: "As responsabilidades que todos assumimos como membros de uma comunidade e a importância da comunicação como expressão pessoal e força de mudança social". Simples assim.
Ai Weiwei no Fronteiras do Pensamento 2018
Segunda-feira, às 19h45min, no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), em Porto Alegre. Ainda há ingressos para a palestra desta segunda-feira. O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria cultural PUCRS e empresas parceiras CMPC Celulose Rio-grandense e Souto Correa. A parceria institucional é da Unicred. Universidade parceira: UFRGS. Promoção: Grupo RBS. Informações: fronteiras.com e (51) 4020-2050.