Ai Weiwei vira notícia aonde vai. O artista conhecido por desafiar o regime comunista chinês – e ser preso por isso – tem milhões de seguidores nas redes sociais, que transformou em poderoso instrumento de combate à censura. Nos últimos meses, o artista tem frequentado também o noticiário no Brasil. Em um ano, esteve no país quatro vezes para preparar a sua maior retrospectiva até hoje, Ai Weiwei Raiz, com abertura em 20 de outubro, na Oca, em São Paulo. Nesta segunda-feira (8) à noite, ele encontra o público de Porto Alegre no Fronteiras do Pensamento.
No palco do Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), a partir das 19h45min, Ai Weiwei será entrevistado por Marcello Dantas, que assina a curadoria da exposição em São Paulo. Em sua 12ª edição, o Fronteiras do Pensamento convida a refletir sobre o tema O Mundo em Desacordo, prato cheio para um nome cuja arte não pode ser separada da sua militância política.
Nascido em 1957, Weiwei cresceu em condições duríssimas: quando tinha apenas um ano, seu pai, o poeta Ai Qing, foi preso e enviado junto com a família para campos de trabalho forçado na China. Somente 16 anos depois, Weiwei se muda para Pequim, onde estuda cinema e depois, em 1981, parte para Nova York. Quando retorna para a China, é 1993, e o país está em pleno processo de abertura econômica. Começa a chamar a atenção do mundo da arte em 1994, ao destruir uma urna milenar da Dinastia Han. Em 1995, inicia a série de fotos em que mostra o dedo do meio para a Torre Eiffel, a Casa Branca e outros símbolos de poder.
Weiwei também é famoso por ser um arquiteto autodidata. Trabalhou na construção do Estádio Olímpico Ninho de Pássaro – a obra foi completada em 2008, quando o artista morava na China e escrevia um blog sobre a vida no país, o governo e a arte. Naquele ano, a província de Sichuan foi atingida por um terremoto que matou cerca de 80 mil pessoas. Desafiando o governo, que censurava informações sobre o desastre, Weiwei descobriu os nomes de 5 mil crianças mortas e os divulgou em seu blog. Logo depois, criou a obra Remembering, instalação com nove mil mochilas. Em entrevista ao jornal The Guardian, disse que o trabalho mudou sua vida para sempre:
– O tipo de estado autoritário que temos na China não pode sobreviver se responde a perguntas – se a verdade é revelada, ele acaba. Então eles começaram a me considerar a pessoa mais perigosa da China. Isso fez com que eu virasse artista, mas também ativista.
Se em 2010 Weiwei já era uma superestrela da arte contemporânea, em 2011, sua fama ultrapassa esse universo e ele vira um símbolo da luta pela liberdade de expressão: a polícia o prende por 81 dias e pelos próximos quatro anos é impedido de sair da China. Passa então a documentar todos os seus passos nas redes sociais. Atualmente, é livre para entrar e sair da China, mas continua em conflito com o regime. Em agosto deste ano, seu estúdio em Pequim foi destruído pelas autoridades.
Nos últimos anos, Weiwei engajou-se especialmente na crise dos refugiados. Em 2017, lançou Human Flow – Não Existe Lar se Não Há para Onde Ir, um tocante documentário no qual mostra, de maneira didática e poética, a situação desesperadora de refugiados em 23 países e defende a migração como um direito humano básico.
Quando Weiwei iniciar sua conversa nesta segunda-feira, o Brasil já saberá o resultado do primeiro turno das eleições. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o curador Marcello Dantas confirmou que o chinês tem acompanhado o tema de perto e deve abordá-lo, mas sem tomar partido:
– Ele não fecharia com ninguém que ameaça a liberdade de expressão, nem com alguém que ameaça a liberdade econômica. Ele acredita nas duas coisas. Quando esteve no Brasil, participou de uma passeata contra a censura que aconteceu no ano passado (na Avenida Paulista, em São Paulo) com toda a sequência de atos de censura às artes – afirma. – O que ele coloca acima de tudo é a importância de que a gente continue lutando permanentemente para ter algum nível de liberdade porque no momento em que pararmos, vamos perder toda essa liberdade.
FRONTEIRAS DO PENSAMENTO 2018
- Ainda há ingressos para a edição deste ano do Fronteiras do Pensamento, que podem ser adquiridos pelo (51) 4020-2050 ou na bilheteria do Salão de Atos da UFRGS no dia da conferência, a partir das 17h.
- O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria cultural PUCRS e empresas parceiras CMPC Celulose Riograndense e Souto Correa. A parceria institucional é da Unicred. Universidade parceira: UFRGS.
- Promoção Grupo RBS.
- Informações: (51) 4020-2050.