Admirador da obra de Kazuo Ishiguro, o escritor Antonio Xerxenesky comemorou a escolha do novo Nobel de Literatura.
- Achei ousada a escolha da Academia Sueca, pois os últimos dois livros de Ishiguro são romances de gênero, que não costumam ser levados a sério. Esse, por sinal, é seu maior triunfo: assimilar ficção científica e fantasia numa obra reflexiva, meditativa, com grande esmero e concisão na linguagem – escreveu Xerxenesky, em entrevista para ZH.
Gaúcho radicado em São Paulo, o autor do recente As Perguntas indicou a leitura do romance Não me Abandone Jamais:
- Partindo de um mote sci-fi, Ishiguro constrói um doloroso romance ao mesmo tempo existencialista e de forte carga política, que trata das pessoas cujas vidas são consideradas descartáveis pelo estado. O final é um dos mais tristes da literatura contemporânea.
Por não ser um leitor contumaz de Ishiguro, Michel Laub não quis opinar diretamente sobre o trabalho do escritor, mas não acredita que a escolha do Nobel signifique uma tentativa da Academia Sueca reconhecer a importância da literatura de gênero.
- A tendência no Nobel é que, toda vez que ele é divulgado, formem-se teorias. No ano passado, com o Bob Dylan, alguns afirmaram que tinha uma aproximação da canção popular. Não quer dizer nada. Já teve um trovador premiado no século 20. Pode acontecer de Dylan ganhar, e depois se passam 20 anos sem ganhar ninguém parecido – afirmou Laub, por telefone.
Para Laub, autor de O Tribunal da Quinta-feira (2016) e Diário da Queda (2011), conjecturas sobre as razões da escolha do Nobel se formam porque o processo de escolha da Academia Sueca não é claro para o público:
- Os membros da Academia possivelmente levam em conta as questões políticas deles, mas é uma comissão pequena, e muito pouco se sabe a respeito dos critérios que usam. Além disso, a frase divulgada por eles como justificativa é sempre genérica.
A escolha do Nobel é feita em uma lista de nomes composta todos os anos com as indicações de ex-ganhadores do prêmio, membros da academia e instituições universitárias ou ligadas à arte da escrita. Uma dessas instituições no Brasil é a seção local do Pen Club, que congrega escritores e estimula a criação literária. A lista final de "indicados" só é revelada 50 anos depois da concessão do prêmio.