Quem está acostumado a assistir filmes de horror vai se sentir à vontade com o novo livro de Antônio Xerxenesky. As Perguntas, romance que acaba de chegar às livrarias, é construído a partir de clichês clássicos do gênero: jovens que se tornam detetives do dia para a noite, sombras que perseguem personagens e rituais ocultistas em lugares secretos. Tudo isso coube em menos de 200 páginas – e ainda sobrou espaço para uma personagem densa e momentos de originalidade.
– As Perguntas foi criado sob encomenda, mas por ironia das ironias tornou-se meu livro mais íntimo, mais pessoal – avalia Xerxenesky, que escreveu a convite da produtora RT Features.
Leia mais:
Alexandra Lopes da Cunha lança livro "Demorei a Gostar de Elis"
César Aira: "Não gosto da literatura do eu que está na moda"
Livro retrata história de prisões e mortes de índios na ditadura militar
Gaúcho radicado há seis anos em São Paulo, o autor compôs a maior parte do romance em uma residência literária em Iowa City, em 2015. Longe da cidade onde morava, sentiu-se livre para transformá-la em cenário.
– Sempre fui um escritor de imaginação. Afastava ao máximo as coisas pessoais da minha literatura. Distante da família e dos amigos, comecei a voltar minha atenção a isso. Este é o meu primeiro livro ambientado na cidade e no tempo em que vivo – conta o escritor.
A protagonista é Alina, uma jovem que estuda ocultismo no doutorado em História, mas que trabalha como editora de vídeos para publicidade. Ao ser convidada por uma delegada a opinar em um caso que envolvia uma estranha seita, acaba realizando uma investigação por conta própria sobre os fatos.
– Adoro fazer pesquisa para os meus livros. Esta foi uma oportunidade de ler muito sobre ocultismo. A seita que aparece no livro é ficcional, mas reúne características de doutrinas esotéricas que de fato existem – explica Xerxenesky.
O universo ocultista criado pelo autor vai sendo revelado aos poucos, criando um clima de suspense que atiça a curiosidade do leitor. Ao mesmo tempo, os dramas de Alina também são expostos. A dificuldade para dar significado a suas inquietações e a perdas familiares impulsionam a personagem no mergulho rumo ao desconhecido.
– Uma das grandes dificuldade do ateísmo é dar sentido à vida por meio da ciência. Um ateu tem menos armas para enfrentar uma morte próxima, por exemplo. É assim comigo. A ficção é um modo de buscar esse sentido – conclui o autor.
Ao contrário de grande parte dos filmes e livros de horror, o novo romance de Xerxenesky não tem momentos de redenção, de supressão do mal pelo bem. Na verdade, não há sequer bem ou mal. Há apenas perguntas que abalam certezas e personagens dispostos a buscar respostas até perderem a razão.