Vencedor do Prêmio Açorianos de Dança de 2021, o espetáculo Flamenco Negro, da Cia de Arte La Negra Ana Medeiros, volta aos palcos nesta quarta-feira (17), às 20h, e quinta (18), às 15h e 20h, em sessões gratuitas no Salão de Atos da UFRGS, na Capital (mais informações ao final do texto). As apresentações selam a retomada total das atividades culturais da universidade, interrompidas por cerca de dois meses em razão da enchente.
A montagem denuncia situações de racismo vivenciadas por artistas negros no flamenco, mas também celebra a influência das culturas africanas no gênero. Diretora e coreógrafa do espetáculo, Ana Medeiros, mais conhecida pela alcunha de "La Negra", explica que Flamenco Negro é fruto de suas pesquisas e experiências ao longo de quase 30 anos dedicados à dança típica da Espanha:
— O resultado é um espetáculo de denúncia, mas que não termina de forma triste. Há um ponto em que tudo vira uma grande festa, porque o que queremos é mostrar que o flamenco é um ritmo negro; que os nossos corpos, com os nossos quadris largos e os nossos cabelos crespos, também são corpos flamencos.
Flamenco Negro é parte de um projeto que a coreógrafa abraçou como missão desde a fundação de sua própria companhia, em 2017: difundir as raízes africanas do flamenco e ampliar a presença negra no gênero. As apresentações desta quarta e quinta, por exemplo, ocorrem após uma série de workshops realizados em instituições que oferecem aulas de dança em regiões periféricas da Capital. O objetivo foi apresentar o flamenco como uma possibilidade para os futuros bailarinos.
— É importante popularizarmos o gênero, que é, realmente, uma dança ainda elitista. As escolas são caras, os sapatos e os trajes são caros. Mas é possível inverter essa lógica — diz La Negra.
Os alunos contemplados com os workshops serão levados para assistir a uma das sessões no Salão de Atos. Antes do início do espetáculo, como um "baile de abertura", o coletivo Corpo Negra e o núcleo negro do Ballet da UFRGS apresentarão performances de dança contemporânea conectadas às temáticas da montagem principal.
Já na parte final de Flamenco Negro, cerca de 15 bolsistas negras da Cia de Arte La Negra Ana Medeiros se juntarão ao elenco principal, que é formado por Ana Medeiros "La Negra", Patrícia Correa "La Paloma", Bianca Benevenuto "La Señora", Mima Ruedas, Rose Correa e Gabriela Vilanova. Será a estreia das bailarinas iniciantes no palco, em um momento que promete ser especial tanto para elas quanto para o público.
— Vamos colocar 20 corpos negros para bailar flamenco ao mesmo tempo. Olha que revolucionário e simbólico. Será um grande brinde, para marcar essa retomada artística — observa La Negra.
Calendário reorganizado
Flamenco Negro será o primeiro espetáculo artístico a ocupar o palco do Salão de Atos da UFRGS após a enchente. O local não foi atingido pela água, mas, assim como outros espaços culturais da universidade, permaneceu fechado por cerca de dois meses.
A Sala Redenção e o Centro Cultural reabriram nas primeiras semanas de julho. Faltava, agora, somente a reabertura do Salão de Atos para a retomada completa.
— Em termos de cronograma dos espaços, praticamente tudo precisou ser readequado, mas estamos felizes por abrir as nossas portas novamente — destaca Lígia Petrucci, diretora do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS.
— A Sala Redenção voltou com seus ciclos de exibição, o Centro Cultural está com uma nova exposição em cartaz e o Salão de Atos, agora, volta a receber espetáculos. Vejo que, aos poucos, as pessoas também estão voltando às suas rotinas e buscando atividades culturais, que são muito importantes neste momento — reflete.
Apesar das alterações nos calendários, projetos tradicionais e aguardados pelo público seguem mantidos. É o caso do Unimúsica, que está confirmado para setembro. A data e o tema ainda serão divulgados.
— Assim como várias outras iniciativas que teremos, o Unimúsica estará focado na produção musical de Porto Alegre. E também terá uma preocupação solidária, na perspectiva de colaborar com artistas que tiveram perdas importantes — afirma Lígia.
A diretora adianta, ainda, que duas novas exposições devem chegar ao Centro Cultural da UFRGS em agosto — uma delas refletindo sobre a crise climática. Atualmente, o espaço recebe a primeira mostra individual do artista namibiano Joseph Kapweya, em cartaz até 31 de julho.
Já a Sala Redenção promove, até o dia 2 de agosto, a mostra A Imagem no Espaço, com exibições de 16 filmes que exploram o conceito de cidade.
"Flamenco Negro" na UFRGS
- Quarta (17), às 20h, e quinta (18), às 15h e 20h, no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110)
- Ingressos gratuitos disponíveis na plataforma Sympla. É sugerida a doação de um quilo de alimento não perecível.