Ana Medeiros dança com a alma. O olhar, a cadência, o bailado, tudo ali é ancestralidade, mas há algo mais na arte da bailarina chamada La Negra: o orgulho incontido de ser quem é e das barreiras que venceu para chegar onde chegou.
Ana é um ícone do flamenco negro no Brasil e completa 25 anos de carreira na próxima quarta-feira (30), com um espetáculo especial no Theatro São Pedro, em Porto Alegre (leia os detalhes abaixo).
Nascida em Porto Alegre, a artista perdeu a mãe ainda menina. Jamais esqueceu o som das castanholas vibrando nas mãos maternas. Anos mais tarde, voltou a ouvir o tilintar mágico do instrumento ao passar em frente à escola da coreógrafa Cadica Costa. Entrou e, mesmo sem dinheiro, ficou. Nunca mais deixou o tablado.
Entre ensaios, apresentações e novas parcerias, formou-se arquiteta. Não ergueu casas, mas seguiu concretizando sonhos. A partir de 2017, iniciou carreira solo, fundou a própria companhia de artes na Capital e deu asas a um estilo só seu - a começar pelo cabelo crespo e retinto que, enfim, parou de esconder. Foi o suficiente para que ela conhecesse a face brutal e dura do racismo.
— Ali que entendi, de fato, do que é o preconceito e o que significa ser uma negra no flamenco — recorda Ana.
Ela respondeu à discriminação com talento, cabeça erguida e dedicação. Tornou-se a primeira concertista de castanholas a gravar um álbum no Rio Grande do Sul, acolheu bailarinas pretas no seu grupo e reverberou a luta antirracista em suas criações. Em 2021, entre tantas distinções acumuladas ao longo da trajetória (veja abaixo), arrebatou o Prêmio Açorianos de Dança com o espetáculo Flamenco Negro.
Agora, prepara mais um show, inspirado em versos do poeta francês Charles Baudelaire, que traduzem uma nova fase na vida dessa bailarina acostumada a pisar sobre espinhos. La Negra voa.
O espetáculo Elevación
O espetáculo Elevación, 25 anos de carreira de La Negra, será apresentado na próxima quarta-feira (30 de novembro),às 21h, no palco do Theatro São Pedro, em Porto Alegre, com convidados especiais.
Ana Medeiros estará com sua companhia de dança e com alunos do seu centro de formação, além de participações dos artistas Adriana Deffenti, Beatriz Carrazza, Jemima Ruedas, Daniel Debiagi, Fernanda Copatti , Cadica Cláudia Pereira Costa (e sua Cadica Cia. de Dança), Lisete Arnizaut de Vargas, Sônia Sonia Bentto, Fernanda Mansur, Carol Ferrari e Silvia Canarim . A direção cênica é do diretor teatral Everson Silva.
Os ingressos estão à venda no site teatrosaopedro.rs.gov.br.
Um pouco mais sobre Ana Medeiros
- Iniciou o estudos no flamenco na escola Cadica Danças e Ritmos, em Porto Alegre, em 1995.
- De 2007 a 2016, atuou na Escola e Cia. de Flamenco Andrea del Puerto, também na Capital, em uma série de funções, como aluna, bailarina, coreógrafa, membro de direção e design e professora de baile e castanholas.
- Em 2017, inaugurou a carreira solo, criando um novo núcleo flamenco em Porto Alegre.
- Recebeu inúmeras premiações, entre elas a de Melhor Bailarina no Prêmio Açorianos de Dança 2012 e a de Destaque Flamenco no Prêmio Açorianos de Dança 2017. Também foi agraciada com uma bolsa de estudos no 2º ciclo dedicado a la formación completa del baile flamenco, em Madri.
- Ao longo de sua trajetória, desenvolveu um método pioneiro no toque e no arranjo musical da castanhola, aliando a prática como bailarina à utilização como instrumento como solista.
- Em 2017, fez uma parceria com o cantor Daniel Debiagi no espetáculo "Ay mi amor" em que atuou como atriz, percussionista e bailarina.
- Em 2019, lançou um CD ao vivo do espetáculo "Carmen e os Violões", em parceria com a camerata Violões de Porto, atuando como bailarina solista, coreógrafa, figurinista e, em especial, como concertista de castanhola.
- Com seu centro de formação em arte e dança flamenca, La Negra produziu, coreografou e atuou em uma série de obras desde 2017, com destaque para "Flamenco Negro", escolhido o melhor espetáculo no Prêmio Açorianos de Dança 2021.