Aos 16 anos, Judy Garland entrou para a história do cinema ao dar vida a Dorothy em O Mágico de Oz (1939) — e a sua interpretação de Over the Rainbow é uma das mais celebradas e homenageadas na cultura pop. A partir disso, a atriz se tornou uma estrela mundial e seu nome nunca mais saiu dos holofotes, mesmo após 54 anos de sua morte. Tanto é verdade que, neste final de semana, entre esta sexta-feira (7) e domingo (9), o Theatro São Pedro recebe o espetáculo Judy – O Arco-Íris É Aqui, que recupera a trajetória da artista, mas também vai além (veja detalhes sobre horários e ingressos ao final do texto).
Na peça, Luciana Braga interpreta Judy, passando por várias fases da vida da artista norte-americana, revisitando os altos e baixos da carreira. Porém, o espetáculo não se fixa em ser apenas uma biografia de um dos principais nomes da era de ouro de Hollywood: o dramaturgo e diretor Flávio Marinho se utiliza da autoficção — ou seja, uma autobiografia ficcional — para que a história de Luciana se funda com a de Judy, jogando luz sobre as lutas internas e externas que as artistas enfrentaram, como o auge e o declínio.
Para fazer com que este formato funcione, Luciana tem diversas atribuições dentro do espetáculo, indo desde narradora, assumindo o protagonismo de uma atriz que fala de suas próprias experiências e, claro, dando vida a Judy — e tudo isso vira um espetáculo que busca, antes de tudo, ser um diálogo com o espectador. O musical de 90 minutos, então, aborda a capacidade de o ser humano se reinventar e se redescobrir, mas colocando em cena também facetas pouco conhecidas da estrela que fez O Mágico de Oz.
— Essa autoficção é a mistura da vida dessas duas pessoas. A gente está falando de uma biografia da Judy, a gente está falando de uma autobiografia da Luciana, que está se colocando em cena, falando das suas experiências e da sua vida de artista — destaca Luciana, que é acompanhada em cena pelos músicos André Amaral e Liliane Secco, que também assina a direção musical.
De acordo com Marinho, o desafio na hora da construção do texto foi usar os pontos que separam a brasileira e a norte-americana para jogar "uma luz esclarecedora" sobre cada uma, encontrando neste movimento as suas similaridades:
— No que você sublinha os pontos de diferença e de contato entre elas, você usa isso como um recurso para desenhar um perfil. No final das contas, as nacionalidades distintas acabaram se tornando mais próximas do que eu poderia imaginar.
Trejeitos
Porém, não são apenas as semelhanças entre as trajetórias de Judy e Luciana que são exploradas no espetáculo. A ideia de criar esta montagem nasceu devido à semelhança física entre as duas artistas, algo que foi sempre pontuado por pessoas próximas — inclusive, as filhas da atriz brasileira diziam sentir "aflição", de tão parecida que a mãe é com a norte-americana. De acordo com a estrela do espetáculo, esta semelhança foi apenas se intensificando com o passar dos anos.
E, mesmo que a parte física pudesse ser um facilitador para que Luciana imitasse Judy, não é por este caminho que o espetáculo vai. Por sinal, a brasileira ficou reticente em protagonizar o projeto, pois achava complicado retratar um ícone tão grande quanto a intérprete de Dorothy:
— Como é que alguém tem a ousadia de atuar e cantar como a Judy? A gente fala justamente sobre isso na peça: não é uma tentativa de imitação, como o cinema faz muito. O que eu fiz foi fazer aula de canto com o Felipe Abreu, que tem também um conhecimento muito grande da obra e da vida da Judy. Então, ele me ensinou a cantar como ela, não imitando, mas encontrando o estilo em que ela cantava, até porque eu tenho um timbre vocal bem diferente do dela — explica Luciana.
Assim, tanto Luciana quanto Marinho buscam fazer um tributo para Judy, mas, de acordo com a atriz brasileira, com flashes que podem fazer o público pensar "nossa, elas se parecem muito" durante o espetáculo, sem a pretensão de ser uma imitação. Entre os atrativos, ainda estão canções que são executadas ao vivo, em trechos ou na íntegra. No total, são 14 sucessos de Judy, entre eles as emblemáticas Over the Rainbow, The Man That Got Away, Get Happy e That's Entertainment.
A peça, que foi elaborada durante a pandemia, chegou aos palcos em 2022 para comemorar os 35 anos de carreira de Marinho e o centenário de Judy (1922-1969). Em seus 47 anos de vida, a atriz atuou em 38 filmes, chegando a receber o Oscar Juvenil, prêmio honorário concedido poucas vezes pela Academia a artistas menores de 18 anos em reconhecimento à sua "excepcional contribuição ao entretenimento na tela". Entretanto, mesmo com as glórias, a sua trajetória também contou com luta contra as drogas e o álcool.
— Judy Garland viveu a vida muito intensa e verdadeiramente. Suas interpretações e seu canto tinham uma verdade e uma emoção muito genuínas. E isso arrebata o público até hoje. Numa época de fake news, essa personalidade tão transparente fascina todo mundo — acredita Marinho.
Judy Garland, que foi a protagonista da segunda versão cinematográfica de Nasce Uma Estrela, em 1954, de fato, mostrou que fez jus ao título do filme e, mais de cem anos depois de a atriz vir ao mundo, ficou-se comprovado que naquele 10 de junho de 1922 nasceu uma estrela. E que o seu legado segue brilhando, agora no Theatro São Pedro.
Judy – O Arco-Íris É Aqui
- Nesta sexta-feira (7) e no sábado (8), às 20h, e no domingo (9), às 18h, no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº - Centro Histórico), em Porto Alegre
- Ingressos a partir de R$ 50 (galeria), à venda pelo pelo site e na bilheteria do teatro
- Duração: 90 minutos. Classificação: 12 anos