Vem aí a 17ª edição do Festival Palco Giratório Sesc. O tradicional evento que movimenta a cena cultural da Capital com teatro, música, dança e circo começa nesta sexta-feira (12) e segue até o dia 28 de maio. Serão 37 espetáculos de diferentes partes do Brasil, totalizando 50 sessões em vários espaços de Porto Alegre. O público terá várias possibilidade de assistir a obras de qualidade, produzidas por artistas premiados e coletivos com sólidas trajetórias. Um dos primeiros destaques será o show Silvero interpreta Belchior, com o ator e cantor Silvero Pereira (veja mais informações abaixo).
Os temas abordados nesta edição do festival incluem diversidade cultural, empoderamento feminino e um destaque ainda maior do que o usual para questões de gênero e consciência racial. A programação terá cinco espetáculos que trazem dados, pesquisas e experiências de artistas trans.
A preocupação da curadoria é identificar propostas de trabalho que reverberem diálogos propositivos, afirma Jane Schoninger, coordenadora de Cultura do Sesc/RS e curadora do Circuito Nacional Palco Giratório:
— O olhar sempre é com esse propósito de trazer questões urgentes, importantes da nossa sociedade, mas é o olhar atento da produção atual do Brasil. São discussões que estão fortes.
Além disso, há um cuidado em atingir um grupo mais diverso de espectadores. Os espetáculos são direcionados a diferentes públicos, das crianças aos adultos, trazendo ainda discussões sobre etarismo (preconceito contra pessoas mais velhas). E, apesar dos temas densos e sérios, o público também poderá desfrutar de momentos de descontração, ressalta a curadora.
Tributo ao rapaz latino-americano
Neste sábado (13) e domingo (14), às 21h, Silvero Pereira, 40 anos, se apresenta no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307) com o show Silvero Interpreta Belchior (ingressos já esgotados). O premiado ator cearense, que também encanta nos palcos, é conhecido por seu trabalho em filmes como Bacurau e telenovelas como A Força do Querer e Pantanal. O show é um tributo ao "rapaz latino-americano" Belchior e exalta sua história. Nele, Silvero interpreta grandes canções do compositor e cantor, que também era cearense, como A Palo Seco, Alucinação, Sujeito de Sorte e Como Nossos Pais.
O artista foi apresentado à obra de Belchior por seu pai, quando ainda era pequeno. Ao longo dos últimos sete anos, decidiu revisitá-la. Revendo as letras e trabalhando em um patamar teatral, propício à interpretação, foi se debruçando sobre essas canções como uma dramaturgia. Assim, tentava entender as questões e informações que o compositor queria transmitir com os versos de suas músicas e histórias.
— Fui compondo o setlist na tentativa de fazer uma dramaturgia sobre um conterrâneo, alguém com quem me identifico, um cara que também sai do interior do Ceará em busca de realizar seus sonhos enquanto artista, usando sua arte para questionar a política e a sociedade — destaca Silvero.
O espetáculo, que já está rodando o Brasil, é a primeira experiência do artista como cantor solo em cena e demonstra uma evolução de Silvero nessa área. Responsável também pela direção cênica, ele compôs o show como um espetáculo. As canções são colocadas em uma ordem que evidencia o que Silvero quer dizer com cada música. Há também interlúdios que costuram as canções, com textos que fazem referência a outros artistas, como o poeta e também cearense Bráulio Bessa.
— É um show de interpretação. Quero que as pessoas fiquem muito mais atentas às palavras e informações das canções do que simplesmente a melodia, o cantar — afirma.
Para o artista, as apresentações em Porto Alegre serão especiais e emocionantes, sobretudo pelas semelhanças com o cantor que interpretará. Em 2012, Silvero saiu do Ceará para o Rio Grande do Sul para atuar no espetáculo BR-Trans, dirigido pela gaúcha Jezebel De Carli. Foi quando sua carreira foi alavancada, porque, em uma das apresentações pelo país, foi descoberto e convidado para participar da novela A Força do Querer. Durante dois anos, viveu em Porto Alegre, cidade pela qual nutre grande apreço.
— Tem esse lugar de ser também um cearense que sai do Nordeste para o Sul em busca de realizar seus sonhos e ter na cidade de Porto Alegre o acolhimento que eu tive, os amores que eu encontrei, as amizades e a minha realização enquanto artista. E eu acho que esse percurso o Belchior também fez — avalia Silvero.
O show também será uma oportunidade de homenagear a porto-alegrense Elis Regina, que foi uma figura importante na divulgação de Belchior, acrescenta o ator. Em essência, o espetáculo é a paixão de um fã por um ídolo. E, assim como Belchior cantou que "sons, palavras são navalhas", Silvero alerta que o show é "feito faca":
— Eu quero que esse show "corte a carne" dessas pessoas que estão assistindo e que elas saiam emocionadas, refletindo sobre tudo o que é dito, cantado e o que pode ser refletido a partir desse grande artista da música popular brasileira, que é um gênio atemporal, sobre arte, política, amor, afeto, sobre amar e mudar as coisas — enfatiza.
Mais destaques
Entre os destaques desta edição do Palco Giratório também estão Encantado (dias 20 e 21 no Teatro Renascença), da Lia Rodrigues Cia. de Dança (RJ), que faz apresentações na Europa; o Manifesto Transpofágico (dias 24 e 25 no Teatro Bruno Kiefer), de Renata Carvalho (SP), um manifesto de um corpo travesti; Sem Palavras (dias 26 e 27 no Teatro Renascença), da Cia. Brasileira de Teatro (PR), grupo dirigido por Marcio Abreu que já trouxe diferentes trabalho a Porto Alegre; e Traviarcado (dia 28 no Teatro Renascença), da rapper e atriz trans Bixarte (PB), que tem conquistado o centro do país e recentemente lançou um álbum. O festival conta com 12 espetáculos gaúchos — como Instinto (dias 18 e 19 no Teatro da Santa Casa), do Projeto Gompa, que venceu o prêmio norueguês Ibsen Scope em 2022.
O evento contará com sete espetáculos com tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e duas apresentações gratuitas. Serão realizadas também ações formativas, com participação gratuita e sem necessidade de inscrição prévia. Serão 11 encontros, que abordarão temas como arte e cultura negra, estratégias de gestão da cultura, processos de criação, palhaçaria e práticas pedagógicas. A programação completa pode ser consultada no site do evento, onde os ingressos podem ser adquiridos (a R$ 40 ou R$ 60, dependendo da atração).