É uma comédia, mas leve um lencinho. Essa é a dica que Mariana Xavier (conhecida pelo papel de Marcelina na franquia de filmes Minha Mãe É uma Peça) dá aos espectadores de Antes do Ano que Vem, espetáculo do qual é a estrela e que abrirá a temporada 2023 do Theatro São Pedro. As apresentações ocorrem nesta sexta-feira (3) e no sábado (4), às 20h, e domingo (5), às 18h, em Porto Alegre (ingresssos à venda pelo site do teatro). Depois, a peça, que tem direção de Lázaro Ramos e Ana Paula Bouzas, segue pelo RS — primeiro Estado a receber uma turnê do espetáculo.
Em Antes do Ano que Vem, Mariana, 42 anos, se desdobra para dar vida a sete mulheres: Dizuíte, a faxineira da Central de Apoio aos Desesperados (CAD) que só queria terminar o trabalho e passar a virada de ano com a família; Dra. Telma, a terapeuta deprimida; Jussara, a atendente de telemarketing que sonha em voltar para o emprego de cozinheira; Gracinha, a anfitriã cujos convidados não aparecem na festa mas se esconde na positividade tóxica; Maria de Lourdes, a socialite falida prestes a matar o marido; Michelle, a adolescente carente de atenção dos pais que foi traída pelo namorado e pela melhor amiga; e Tia Xinda, a idosa que não sabe como pedir desculpas à sobrinha pela briga no Natal.
Na noite de Ano-novo, Dra. Telma, a psicóloga plantonista da CAD (uma espécie de Centro de Valorização da Vida fictício), não aparece para trabalhar, e Dizuíte, a faxineira que não foi preparada para a função, é quem acaba auxiliando as pessoas que estão do outro lado da linha em busca de ajuda, de um conselho ou de alguém que as escute. Com sua "psicologia própria", hilária e impulsiva, Dizuíte assume a missão de mostrar a essas mulheres que vale a pena viver e que ainda dá para ser feliz antes do ano que vem.
— Falo que é um espetáculo para as pessoas saírem do teatro com a barriga doendo de rir, mas com o coração quentinho. Não queria que fosse só uma comédia vazia — afirma Mariana.
A peça se passa na noite de Réveillon. Datas como essa, de "felicidade obrigatória", aponta a atriz, fazem aflorar ainda mais as emoções. A artista reconhece que o projeto é ousado, pois utiliza a comédia para falar de um assunto sério: saúde mental e emocional. Ela conta que a peça, criada antes da pandemia mas lançada apenas no ano passado, ganhou outra profundidade depois desse período envolto em isolamento e luto e que abalou as pessoas. Mariana relata que recebe mensagens emocionantes de espectadores, tocados pelo espetáculo.
— A gente acaba projetando, muitas vezes, a felicidade em alguma coisa grandiosa e distante, e a peça fala muito sobre vermos a felicidade nas pequenas coisas, alegrias do dia a dia, que fazem a gente continuar apesar das adversidades — explica a atriz.
Com texto de Gustavo Pinheiro, a peça aborda questões fundamentais como solidão, empatia, solidariedade e a nova "ditadura de felicidade" imposta pelas redes sociais, na qual as pessoas se preocupam mais em publicar do que em viver. Tudo com muito humor.
— Acredito muito na comédia não só como entretenimento, mas como uma ferramenta muito poderosa de gerar identificação e provocar reflexão — pontua.
Em suas redes sociais, a atriz trabalha temas como autoestima, saúde mental e o que é ser mulher na atualidade. Também produtora da peça, ela ressalta que a obra está carregada de mensagens que quer deixar para o mundo — que chegam de maneira fluida e simples, por meio de personagens populares.
Mariana se orgulha do espetáculo e se alegra com a oportunidade de mostrar facetas de seu trabalho de atuação que normalmente não são vistas no audiovisual. E alerta: quem for ao teatro esperando ver Marcelina não a encontrará, e sim muito mais.
Mariana destaca que este, seu primeiro espetáculo solo, é até aqui o maior desafio de sua carreira. A atriz incorpora as sete mulheres sem trocas de roupa ou adereços, apenas utilizando a voz e o corpo — um "crossfit teatral", como define:
— É tão dinâmico! Essas personagens conversam entre si, então não me sinto sozinha em nenhum momento. Difícil é administrar tantas vozes na minha cabeça, mas é um desafio muito gostoso também.
Depois do Theatro São Pedro, Mariana leva, no Dia Internacional da Mulher (8 de março), suas sete figuras femininas para Pelotas, no Teatro Guarany. Já no próximo sábado (11) e domingo (12), estará em Caxias do Sul, no Teatro Murialdo.
— É uma honra abrir a temporada 2023 no Theatro São Pedro, um teatro lindíssimo, em que já estive como espectadora há muitos anos. Não estou nem acreditando que vou me apresentar nesse palco — finaliza.