Chega ao fim, neste domingo (12), mais uma edição do Porto Verão Alegre, tradicional festival multicultural da capital gaúcha. Doze atrações, entre shows, comédias e dramas, encerram a programação do último fim de semana, visando a agradar aos mais diferentes públicos na despedida da 24ª edição do evento.
Os espectadores poderão conferir shows musicais, como o da cantora Vanessa Moreno; peças que abordam autores clássicos, como Megabeth/Macbeat, que reinventa o clássico shakespeariano; peças que debatem temas socialmente relevantes, como Sobrevida, sobre pessoas soropositivas; comédias sobre casais e famílias, como A Partilha, que faz sua estreia no festival; e o espetáculo de stand-up comedy Gratiluz com Drª Rosangela, maior sucesso de público do evento, com 10 sessões esgotadas, sendo seis delas extras (confira todos os destaques do fim de semana ao final do texto).
Sendo realizado virtualmente ou com público reduzido desde a pandemia, o Porto Verão Alegre 2023 foi pensado para ser um reencontro entre cultura e sociedade. Por esse motivo, os organizadores esperavam uma grande adesão do público, mas, para a sua surpresa, a procura foi ainda maior do que a expectativa na grande maioria dos espetáculos.
O festival se aproxima de um público total de 40 mil pessoas ao longo de 34 dias. Não é o maior público que o evento já recebeu, pois, neste ano, embora haja mais espetáculos, há menos sessões, por questões de agenda e infraestrutura de teatros. Mesmo assim, o Porto Verão Alegre 2023 atingirá um número próximo ou igual à melhor edição de todas, realizada em 2019.
— Tem várias sessões lotadas e extras. Tem muita gente feliz, os artistas comemorando as temporadas boas, o público comemorando a volta da festividade, a gente via a felicidade na cara das pessoas, no palco e fora, e isso não tem preço — destaca Rogério Beretta, idealizador e organizador do festival ao lado do colunista de GZH Zé Victor Castiel.
A manutenção do mesmo preço cobrado desde 2018 para os ingressos (R$ 40, exceto para quatro atrações), para possibilitar um reencontro suave após os transtornos financeiros causados pela pandemia, também colaborou para essa adesão, na visão de Beretta. Além disso, a variedade da programação — com 125 atrações musicais, circenses, infantis, de dança, artes plásticas, poesia, debate, teatro de todos os gêneros, do drama à comédia, stand-ups, oficinas, entre outros — oferece um leque de oportunidades que impulsiona o público aos centros culturais.
— A gente vê a vontade de se divertir, curtir o espetáculo, estar perto das pessoas de novo. Acho que isso foi o que mais bancou esta edição. É muito bacana ver toda essa emoção que estava contida há dois, três anos — comenta Beretta, que também participa como ator da peça Pq Casamos?!, com sessões neste final de semana.
O percentual de ocupação das salas evidencia essa busca, sendo o maior de todas as edições, beirando 80%. Alegre com o resultado, Beretta ressalta que é preciso comemorar, pois atingir um percentual desse nível em tantas atrações é desafiador. Desta forma, a organização celebra agora uma edição considerada um sucesso não apenas de público, como de astral.
Sopa de estilos
Setenta e cinco espetáculos estão pela primeira vez na grade da programação. Tanto os clássicos quanto as novidades que recheiam o festival neste ano estão atraindo grande audiência — provando que essa “mistura” funciona.
— Tem uma linguagem moderna, uma linguagem mais tradicional. Acho que essa sopa de estilos transforma o Porto Verão Alegre em uma coisa muito eclética. Desde a primeira edição, abriga espetáculos de todas as linhas, acho que esse é o grande trunfo, ser um projeto totalmente democrático, qualquer tipo de espetáculo pode participar, desde que tenha qualidade — avalia o idealizador.
Cinco espetáculos escolheram o festival para realizar sua estreia absoluta, emocionando a audiência com a energia própria de uma estreia. Como era esperado, devido à atenção que elas atraem, o público tem lotado as salas. Conforme os organizadores, as próximas edições do evento devem ter ainda mais estreias, já que, neste ano, havia uma demanda represada pela pandemia, que dificultou produções devido a questões financeiras, de espaço e de encontro.
Além disso, 25 atrações de fora do Estado (incluindo um internacional) também foram acolhidas, com destaque para aquelas que envolvem música e stand-up. Por ser um festival local, os organizadores sempre foram reticentes a respeito de trazer atrações de outros lugares, deixando essa possibilidade ao Porto Alegre Em Cena. Todavia, com a produção local afetada e tendo a possibilidade de trazer espetáculos de qualidade a preço popular, decidiram propiciar essa oportunidade aos porto-alegrenses.
Para Beretta, esses espetáculos engrandecem o festival e auxiliam na divulgação do projeto, consequentemente beneficiando as atrações locais. Além disso, os organizadores garantem que estão sempre abertos a novas tendências, sejam elas daqui ou de fora. O espetáculo italiano Tranquilli, inclusive, levou os organizadores a continuar projetando intercâmbios com outros países.
A chancela de tudo o que foi planejado cuidadosamente para propiciar um evento bacana a ser desfrutado durante todo o verão veio em feedbacks majoritariamente positivos. Os espectadores compartilharam elogios e a satisfação com a quantidade de atrações, com o mesmo preço dos anos anteriores, bem como com as condições das salas, o atendimento e a pontualidade. Os organizadores testemunharam, inclusive, uma espectadora chegar a um teatro com mais de duas dezenas de ingressos, procurando a entrada do espetáculo a que iria assistir.
— Um rancho de teatro, esse é o sonho de qualquer artista. É muito bacana, mostra que a gente está dando opções e as pessoas estão comprando essa ideia — afirmou o organizador.
Um quarto de século
O festival deste ano mal está chegando ao fim e os organizadores já estão com a mente em 2024, quando o projeto completa 25 anos. Contudo, eles vão realizar uma avaliação e revisão desta edição antes de decidir qual formato será adotado para produzir uma celebração à altura do significado da data.
— É uma edição muito especial para nós, ¼ de século. Quando a gente iniciou, nem imaginava que ia chegar perto disso, o projeto só fez crescer ao longo desse tempo — ressalta Beretta.
Por ora, a organização festeja mais uma edição que correu bem e quer terminar o evento como começou: mantendo a régua elevada, para um gran finale com atrações de peso.
Confira os destaques do último fim de semana do Porto Verão Alegre 2023
Ingressos à venda pelo site, a partir de R$ 40 (inteiro).
Shows
- Vanessa Moreno - Sentido (domingo, 20h, Farol Santander). A cantora e compositora apresenta um show solo initimista, com voz e violão, baseado em seu disco solo homônimo. Ela foi vencedora do Prêmio Profissionais da Música Brasileira em 2017 e 2018 na categoria Cantora, e em 2021 como Cantora e Autora. Com o isolamento social, se reaproximou do instrumento que a levou para a música, o violão, e lançou o disco, que ficou entre os quatro mais ouvidos no Japão, em dezembro de 2021.
- Memória Musical Especial Bob Dylan (sábado e domingo, 20h, Casa de Espetáculos). Musical com histórias. O espetáculo retrata acontecimentos da vida do cantor Bob Dylan, que se misturam à memória da música mundial. A banda do Especial Bob Dylan, composta por Luciano Alves, Jeffy Ferreira e Marcelo Masina, celebra 12 anos do projeto na estrada, em uma edição comemorativa. O show conta ainda com as presenças do jornalista, guitarrista e compositor Jimi Joe e do músico e compositor Oly Jr., além da atriz Juçara Gaspar. Eles revivem canções do ícone da contracultura. Haverá também versões escritas por Jimi Joe, Oly Jr. e Luciano Alves.
Stand-up
- Gratiluz com Drª Rosangela - sessões extras (domingo, 19h e 21h, Teatro da Amrigs). Maior sucesso de público do festival, o espetáculo teve seis sessões extras, incluindo estas, que já estão com ingressos esgotados. Drª Rosângela é uma personagem criada pelo humorista e músico Índio Behn com o intuito de fazer uma homenagem e uma sátira aos terapeutas, veganos e praticantes de yoga. Dessa grande mistura nasceu o show de comédia Gratiluz, no qual Drª Rosângela faz piadas com diversas situações do cotidiano de um terapeuta, cantando paródias com acompanhamento de um ukelele.
Autores clássicos
- Sarau Bukowski (sábado e domingo, 20h, Teatro de Arena). Derivado do sucesso Bukowski, reúne poesia e cenas teatrais sobre textos do escritor norte-americano Charles Bukowski. Traz a encenação de amores e experiências vividas pelo autor, bem como depoimentos sobre sua biografia. O espetáculo conta com roteiro, direção e atuação de Roberto Oliveira e a presença da atriz Elisa Heidrich e convidados.
- Megabeth/Macbeat - Remixando Shakespeare (sábado, 20h, Teatro do Sesc). Originado dentro de uma pesquisa acadêmica, o espetáculo explora diversas mídias para reinventar o clássico shakespeariano de um modo pouco usual. Lançando mão em cena de karaokês, breaking news e outros formatos midiáticos e das redes sociais, assim como de diversos instrumentos e recursos. Com uma abordagem mais politizada do que psicológica, preserva-se ainda boa parte do texto de Macbeth, no qual o justo é sujo, o bem é o mal e o honesto é repugnante. Com direção e atuação de Chico Machado e Ricardo Zigomático, e Alana Gomes,Gabe Godinho e Julia Cabarov no elenco.
Comédia em família
- Pq Casamos?! (sábado e domingo, 21h, Teatro CIEE). Na narrativa que mistura ficção e realidade, um casal que está há mais de 30 anos junto descobre que compatibilidade é um conceito muito pessoal. Emoções e situações hilárias se alternam para que eles descubram se, em relacionamentos amorosos, o que muda é realmente só o endereço. Com Rogério Beretta e Suzi Martinez e de autoria de Vitório Beretta, filho do casal. Direção de Néstor Monasterio.
- Terapia de Casal, Uma Comédia em Crise (sábado, 21h, Teatro do Sesc, em Canoas). Volta para mais uma apresentação. Conta a história de Alice e Marcos, um jovem casal que depois de uma década de relacionamento, com alguns conflitos e muitas risadas, se vê diante de um terapeuta. Os dois compartilham a dor e a delícia de um casamento. A linha do tempo de Alice e Marcos vai sendo desvendada com situações divertidas, mas repletas do mundo real. Direção de Juliana Barros e Fernando Ochôa, com Letícia Kleemann e João Petrillo no elenco.
- A Partilha (sábado e domingo, 20h, Teatro Bruno Kiefer). Texto de Miguel Falabella. Quatro irmãs precisam fazer a partilha dos bens da mãe, só que elas são completamente diferentes umas das outras. Elenco composto por Amanda Di Oliveira, Giordana Dalpizzol, Luiza Quinteiro e Maria Fernanda Costa e estreia de Marcos Kligman como diretor.
Debates contemporâneos
- Velha Demais (sábado e domingo, 20h, CHC Santa Casa). Monólogo com a atriz Fera Carvalho Leite a partir do texto original de Bob Bahlis e de inspirações em autores e artistas. A peça trata de questões relacionadas ao preconceito de idade, à vida profissional versus maternidade e pressões que as mulheres sofrem ao amadurecer numa sociedade machista e etarista.
- Sobrevida (sábado e domingo, 20h30min, Sala Carlos Carvalho). Ao revelar seu diagnóstico positivo para HIV, a personagem conduz por suas memórias e medos. Revive o conflito de compartilhar sua situação de risco com amigos, família e paixões. A peça mostra como o que era uma sentença de morte se transforma em uma forma de confrontar o estigma de uma vida soropositiva. Direção de Jaques Machado, com Xandre Martinelli e Lincoln Camargo no elenco.
- A Válvula (sábado e domingo, 20h, Bar do Nito). O espetáculo satiriza o estereótipo de um político acima de qualquer suspeita. O grupo coloca em uma espécie de picadeiro personagens farsescos que desvendam a hipocrisia de uma sociedade pretensamente conservadora. Direção de Rodrigo Waschburger, com Rafaela Fischer, Lucas Soares e João Pedro Corrêa no elenco.