Do balé ao funk, do jazz ao flamenco, das danças afro às danças ciganas, diferentes expressões artísticas ganharão o palco do Teatro Renascença nas noites de quinta (12), sexta (13), sábado (14) e domingo (15). A casa de espetáculos na Avenida Erico Verissimo recebe, sempre a partir das 20h, a Mostra de Dança Verão, promovida pela Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC) de Porto Alegre.
O evento volta ao calendário cultural da cidade após um hiato de dois anos imposto pela pandemia. Ao longo das quatro noites que marcam este retorno, 103 coreografias serão apresentadas ao público, totalizando cerca de 1h30min de evento por dia.
Os bailarinos, grupos e companhias que subirão ao palco foram selecionados pelo Centro de Dança da SMCEC a partir de inscrição. O número de interessados em participar da Mostra foi robusto — o que explica o número também alto de mais de cem selecionados. Para Airton Tomazzoni, bailarino e diretor do Centro Municipal de Dança e do Grupo Experimental de Dança da Cidade de Porto Alegre, a alta procura demonstra que, apesar do hiato, o evento segue como um marco na cena cultural da Capital.
— Recebemos quase 150 inscrições, um volume bem alto, especialmente se considerarmos que este é o retorno do evento após a pandemia — afirma Tomazzoni. — Isso traduz a efervescência da produção neste período e demonstra o desejo de escolas, grupos e artistas de estarem novamente nesse evento, que tradicionalmente sempre marcou o início das atividades da Cultura em janeiro.
Entre os selecionados estão as mais tradicionais companhias e escolas da cidade e também grupos que despontaram na cena da dança recentemente. Sobem ao palco desde bailarinos renomados, como os do Ballet Concerto e do Ballet da UFRGS, até jovens talentos integrantes de projetos sociais, como os dançarinos do grupo Renascer da Restinga, ligado à ONG Renascer da Esperança, localizada no bairro do Extremo-Sul.
Conforme Tomazzoni, esta característica acompanha a Mostra desde a sua gênese. É positivo para o público, que consegue apreciar uma variedade de performances, e para os profissionais da dança, que têm no evento uma oportunidade ímpar de intercâmbio.
— A Mostra sempre se caracterizou por trazer um panorama da diversidade da produção em dança e incluir os mais diferentes estilos e linguagens. E, ao mesmo tempo em que ela privilegia tradicionais grupos e escolas, abre espaço para artistas, grupos e criadores que estão começando a se inserir no cenário da dança. É um evento muito democrático, que sempre promoveu um encontro das várias expressões — avalia o coordenador. — Esta característica mobiliza o público. A gente sempre tem casa lotada, porque as pessoas sabem que vão encontrar uma diversidade de linguagens da dança.
Do ponto de vista dos bailarinos, participar da Mostra de Dança Verão é a chance de mostrar o trabalho feito ao longo do ano que passou. Para determinados corpos de baile, é também uma das raras oportunidades de subir ao palco, algo nem sempre acessível aos grupos menores.
É o caso do Renascer da Restinga, que celebrou a seleção para o evento tal qual uma premiação, conforme conta o coreógrafo e coordenador do grupo, Daniel Santo. O grupo apresentará três coreografias na sexta-feira e duas no sábado, contemplando estilo livre e dança contemporânea.
— Os alunos ficaram bem faceiros. Sempre que eles vão para o palco, é uma alegria imensa. Eles se sentem artistas, pois há toda uma preparação na coxia, de maquiagem, de figurino, até as cortinas abrirem. Tudo isso é uma emoção muito grande para eles, é um dia de estrela — explica o coreógrafo.
— Como somos um grupo de periferia, as oportunidades são mínimas. Muitos dos nossos alunos estudam aqui (na Restinga), trabalham aqui, e acabam ficando fechados no território. Mas, por causa da dança, eles têm uma oportunidade a mais de circular em outros espaços — completa ele.
Quem assiste, por vezes não sabe da importância que o evento pode ter para quem está no palco. Mas é uma importância pujante, garante Tomazzoni. O gestor público chama atenção para uma controvérsia que acompanha a cena da dança em Porto Alegre: a cidade abriga, conforme dados levantados pela SMCEC, 103 escolas e aproximadamente 90 grupos de dança, que unidos mobilizam cerca de 15 mil pessoas, entre bailarinos e alunos. Em contrapartida, a expressão artística é tida como algo "menor", sobretudo se comparada a manifestações como o teatro e a música.
De acordo com ele, que soma mais de 20 anos como profissional da dança, é difícil para a categoria até mesmo conseguir datas para apresentações em teatros e casas de espetáculo. O cenário não combina com a potencialidade de Porto Alegre para a dança, defende.
— As temporadas de dança, infelizmente, são muito curtas. O boca a boca, que funciona muito na nossa Porto Alegre, por vezes não tem nem tempo de acontecer, porque a temporada é de um dia. É uma luta da comunidade da dança que tenhamos mais datas nas casas de espetáculo. Por isso, é importante que consigamos fazer um evento com quatro noites dedicadas à dança — afirma Tomazzoni, convidando o público a conhecer a força que tem da dança em Porto Alegre.
— É muito comum alguns espectadores comentarem, após o evento, que não sabiam que tinha isso em Porto Alegre. Alguns, infelizmente, dizem: "Nem parece que é daqui". Então, a Mostra é uma oportunidade de mostrar essa potencialidade da nossa cidade.
Mostra de Dança Verão 2023
- Nos dias 12, 13, 14 e 15 de janeiro, a partir das 20h, no Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307)
- Ingressos disponíveis na bilheteria do teatro, uma hora antes do espetáculo. Valores entre R$ 10 (meia-entrada para idosos, estudantes, classe artística e funcionários municipais) e R$ 20 (inteiro)