Uma câmera de qualidade duvidosa instalada no canto de um quartinho simples, no interior do Piauí, muito carisma e talento genuíno. Essa foi a fórmula para a criação de um fenômeno. Whindersson Nunes, na última década, se consolidou como um dos grandes nomes do entretenimento nacional, com mais de 140 milhões de fãs nas redes sociais e figurando entre os maiores youtubers do mundo. O sucesso, porém, ultrapassou o ambiente digital.
Depois de se consolidar na internet, o humorista saiu de seu quarto para atuar, também, nos palcos. Desde 2013, ele apresenta números de comédia para o público, em shows como Marmininu, Proparoxítona, Eita, Casei! e A Volta do Que Não Foi. Agora, o piauiense está com um novo espetáculo, Isso Não é um Culto, que chega a Porto Alegre neste domingo (26), para duas sessões no Auditório Araújo Vianna, às 17h e às 20h. Os ingressos, entretanto, estão esgotados há dias.
No espetáculo, Whindersson, que está com 27 anos, convida o público para uma reflexão sobre as mudanças que vêm acontecendo no mundo, conta histórias divertidas, canta músicas e apresenta a sua visão do universo religioso. O nome do show, que vai percorrer o Brasil e, também, será levado para a Europa, é uma homenagem aos fãs que afirmam encontrar nas apresentações do comediante forças para superar dificuldades.
Pioneiro
De acordo com João Finamor, professor de marketing digital da ESPM, o sucesso de Whindersson se deve ao seu pioneirismo e à excelência com que ele executou o que se propôs. Com os seus vídeos de humor, ele criou uma conexão emocional, social e cultural com o público, gerando identificação. E isso ultrapassou fronteiras, inclusive, fazendo sucesso até mesmo dentro de um ambiente bairrista, como o Rio Grande do Sul — por isso, não é de se surpreender os ingressos esgotados para os shows com tanta antecedência.
— E vale também destacar a autenticidade dele. A gente vê todo mundo querendo ser influenciador hoje em dia e todo mundo vai copiando de todo mundo. E ele não. Ele sempre traz um pioneirismo e algo muito da realidade dele. E daí toda essa questão de autenticidade, de trazer a realidade, gera essa forte conexão, esse sucesso — explica Finamor.
O professor ressalta, ainda, que Whindersson já está na categoria de "influenciador-celebridade", que estourou a sua própria bolha e, mesmo quem não o segue ou consome o seu conteúdo, conhece o humorista. E esse fenômeno também se deve ao artista explorar outras plataformas, como shows, TV, especiais do streaming, cinema e, até mesmo, a luta que ele teve com Popó.
— É uma forma de atingir diferentes públicos que, talvez, ele não conseguiria pela internet — enfatiza, destacando ainda que a trajetória do comediante até se tornar famoso passou por muita dedicação, uma vez que ele ficou por bastante tempo produzindo conteúdo para o YouTube sem ter retorno.
Gente como a gente
Já o humorista gaúcho Marcito Castro acredita que, hoje, a sociedade está vivendo na "pós-cultura de massa", uma vez que os conteúdos estão sendo entregues de maneira nichada, em bolhas, o que gera pessoas muito famosas para apenas um determinado grupo e desconhecidas para outros tantos. O artista enfatiza que Whindersson vem deste cenário, mas que acaba se massificando tal como figuras públicas de décadas atrás, que integravam os grandes canais de TV.
— Ele tem uma coisa muito interessante dessa geração, desse momento atual, em que as pessoas procuram as suas referências, os seus "heróis", em pessoas comuns, em pessoas que têm virtudes que se pareçam com as nossas ou têm virtudes que a gente queria ter e não tem. O Whindersson, pelo fato de ele ser um cara normal, pobre, que falava de coisas banais, triviais da vida, gerava muita identificação com as pessoas. Ele, então, acabou ganhando esse carinho de todo mundo — analisa Marcito.
O comediante gaúcho, inclusive, cita que o piauiense segue sendo um grande expoente do entretenimento nacional, mantendo-se relevante há uma década, porque manteve os predicados que o tornaram um fenômeno, além de compartilhar a sua vida com os fãs, mostrando as dificuldades pessoais que enfrentou. Este movimento fez com que o Brasil abraçasse Whindersson.
— A luta com o Popó acho que foi mais para mostrar que ele toma soco da vida, mas fica de pé. E isso gera muita identificação. E essas reflexões que ele traz nesse show dele mostram para o público que a maturidade está vindo e ele quer que as pessoas compartilhem isso com ele — finaliza o gaúcho.