Quando os atores Nelson Diniz e Liane Venturella revelaram o desejo de trabalhar com monólogos no novo espetáculo da Cia. In.Co.Mo.De-Te, o diretor Carlos Ramiro Fensterseifer se lembrou de um espetáculo que havia visto anos atrás, em São Paulo. Era uma encenação de José Wilker, estreada em 2011, para a peça Palácio do Fim, da dramaturga canadense contemporânea Judith Thompson. No elenco, estavam Vera Holtz, Camila Morgado e Antonio Petrin.
Constatando a atualidade do texto, que recria ficcionalmente a psique de três personagens reais envolvidos com os horrores da invasão ao Iraque em 2003, o grupo gaúcho decidiu montar seu próprio Palácio do Fim, espetáculo que estreia nesta quinta-feira (12) na galeria LA PhOTO, em Porto Alegre. O título, fiel ao original da autora, faz referência a um temido centro de detenção e tortura do Iraque.
Extraindo potencial cênico do espaço de uma galeria de arte, Fensterseifer ambientou a montagem como se fosse uma instalação. Nessa experiência imersiva, o impacto provocado pelos três monólogos fica ainda mais evidente. O primeiro solo, exibido em vídeo, traz o relato da soldado norte-americana Lynndie England, que ficou conhecida por ter sido fotografada em situações de abusos aos prisioneiros de Abu Ghraib. A personagem é interpretada por Fabiane Severo (imagem) e Sandra Possani (voz).
— Esse início do espetáculo é um soco no estômago. As pessoas não têm noção do que é uma guerra. Usei essa personagem para que os espectadores tivessem uma compreensão – diz Fensterseifer.
Os demais monólogos são interpretados, ao vivo, por Nelson Diniz e Liane Venturella. Diniz dá vida ao especialista em armas galês David Kelly, identificado como a fonte de uma reportagem da BBC de 2003 que lançou dúvida sobre a existência das armas de destruição em massa que haviam justificado a invasão ao Iraque. Kelly foi encontrado morto, episódio que motiva conjecturas até hoje.
Liane, por fim, representa a iraquiana Nehrjas Al Saffarh, esposa de um líder político de oposição ao regime e mãe de quatro filhos. A cena evoca as iraquianas que tiveram suas famílias e suas vidas devastadas pela guerra. Para o diretor do espetáculo, Judith Thompson escreve sobre o horror da guerra de maneira "poética":
— Por mais que as imagens sejam fortes, ela consegue colocar o ser humano como agente transformador. Para mim, o grande objetivo desse texto é despertar sensibilidade e empatia. É impossível não se comover com a dor, a perda, o medo. Isso é universal.
Palácio do Fim
Estreia nesta quinta-feira (12). De quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Até 22 de março.
Duração: 1h30min. Classificação: 16 anos.
LA PhOTO Galeria (Travessa da Paz, 44), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 50, à venda no site entreatosdivulga.com.br (com taxa) e na hora.