Após levar mais de 13 milhões de espectadores aos cinemas com os filmes Minha Mãe É uma Peça, inspirados em sua mãe Déa, agora o humorista Paulo Gustavo aposta em Filho da Mãe, espetáculo em que divide o palco com ela. Novo Hamburgo e Porto Alegre recebem sessões neste fim de semana.
Acompanhados por André Siqueira (percussão), Claudio Costa (guitarra), Marcelo Linhares (baixo), Mauricio Piassarollo (teclado) e Wallace Santos (bateria), Paulo Gustavo e Déa lembram músicas que ela cantava em uma banda e contam histórias de suas vidas.
Como foi a construção do espetáculo? Não foi estranho contracenar com sua mãe logo depois de imitá-la em Minha Mãe é Uma Peça?
Por sermos de Niterói (RJ), começamos por lá e foi mágico. Minha Mãe É uma Peça também começou lá e achei que seria pé-quente. Minha mãe convidou milhares de pessoas e, com a plateia cheia de amigos e carinho, nos sentimos mega-acolhidos. Estamos o tempo todo juntos, então não é estranho estar no palco com ela e eu já a tinha ouvido cantar. O espetáculo mescla canções e conversa, diria que 80% de música e 20% de comédia, mas inevitavelmente a gente ri e fala palhaçada.
Em entrevista, sua mãe disse que “te deixa louco no palco”.
Minha mãe me deixa louco dentro do palco e fora do palco. Ela está aqui na minha frente, analisando se a resposta vai ser coerente e se vou ser honesto contigo (risos). Ela entra nas músicas a hora que quer, a banda tem que ir atrás, e tem horas que quer falar uma coisa e outras horas, não. Estávamos em Belo Horizonte esses dias batendo o texto e ela: “Vai ser na hora, estarei inspirada e vai dar tudo certo”. É isso que eu passo com ela (mais risos). Fora de cena é a mesma coisa. A gente entra no carisma e o show acaba sendo um pretexto.
Além de homenagear sua mãe, qual é a maior mensagem desta peça? Qual a importância de retratar isso nos tempos atuais?
O que mais marcou foi a maneira como ela encarou minha orientação sexual. Falamos da diversidade e o quanto ela aceitou a gente (a irmã de Paulo Gustavo é lésbica), como recebeu a notícia de forma tranquila. Nos sentimos sempre acolhidos em casa, isso nos deixou fortes para o mundo. Falamos sobre homofobia e a mãe dá o depoimento de como foi para ela. Ela sempre diz que é o mesmo que ser mãe de heterossexual, porque orientação não tem a ver com ética, com boa índole, caráter. Um avô dela dizia: “O homem tem que ser homem de pé, deitado não é nenhum problema”. E ela seguiu muito isso sabe?! Não é a realidade de todo mundo, mas tive pais maravilhosos que me ajudaram nisso.
A franquia Minha Mãe é Uma Peça é campeã de bilheteria no cinema e no teatro. Em relação ao cinema, como você vê as perspectivas para o futuro?
Sei que o cinema está vivendo uma crise e que sou um ponto fora da curva. A cultura no Brasil é mega desvalorizada, então acho que estamos vivendo esse momento difícil, e fico triste com muitos amigos parando produções. As pessoas priorizam outras coisas, mas acredito que a cultura é tão importante quanto educação e saúde, porque a cultura forma o ser humano. Ela mexe com a personalidade, interfere na nossa construção. É uma pena viver em um país tão lindo e tão rico de cultura, e ver que a gente não é tão valorizado. Tenho esperança de que isso vai mudar.
Como investir na cultura em tempo de cortes de verbas?
Eu arrisco ao investir na cultura, a gente sempre corre risco, não só de público. Já teve peça minha ao lado de pacificação do morro, outra vez teve gripe suína e as pessoas evitavam sair de casa. É sempre um risco. Existe a crise financeira, e o teatro é elitizado. Não sou eu quem decide os valores dos espetáculos, cada lugar tem um preço, por causa da infraestrutura do show. Às vezes, quando vou ver, acho caro, porque faço a conta do pai que paga para levar a mãe e o filho, com R$ 150 de ingresso? Aí tem estacionamento, pizza, refrigerante… no final dá R$ 900. Quem tem esse dinheiro para dar bobeira? É caro ir a show e teatro. Não sou alienado, mas vamos ver no que vai dar. É sempre um salto no escuro.
> FILHO DA MÃE
Sábado, às 21h, no Teatro Feevale (ERS-239, 2.755 – Campus II da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo). Domingo, às 20h, no Auditório Araújo Vianna Av. Osvaldo Aranha, 685). Ingressos de R$ 50 a R$ 180. Vendas pelo Uhuu.com ou na bilheteria do Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80).