Maitê Proença foi buscar em um clássico da literatura inglesa – e mundial – datado do século 14 o material para o espetáculo que traz a Porto Alegre neste sábado (27), às 21h, e domingo (28), às 20h, no Teatro do Bourbon Country, em Porto Alegre.
A Mulher de Bath extrai uma das narrativas poéticas dos Contos da Cantuária, de Geoffrey Chaucer (c.1343-1400). Interessou à atriz a potência e atualidade da personagem Alice, da cidade de Bath, que relata detalhes de seus cinco relacionamentos e segue à procura.
– Nos Contos, só há duas mulheres e uma é uma abadessa séria e frígida. Preferi Alice, a Mulher de Bath, que gosta da vida, da rua, dos homens, do sexo, da bebida, da alegria. Ela fala coisas que as mulheres dizem hoje, igual. Só as circunstâncias mudaram. A graça dela está em contar também os podres das mulheres, em vez de só atacar os homens – diz Maitê, que compartilha o palco com o músico Alessandro Persan.
A atriz descobriu Chaucer na tradução do gaúcho José Francisco Botelho, que publicou sua versão dos Contos da Cantuária em 2013 pela Companhia das Letras, tendo merecido o segundo lugar no Prêmio Jabuti na categoria Tradução de Obra Literária Inglês-Português.
Botelho, que também tem editadas traduções de Shakespeare, inspirou-se na oralidade do cordel nordestino e da trova gaúcha. Para o tradutor, Alice "é uma das maiores personagens da literatura inglesa, precursora de temas shakespearianos e, em certo aspecto, uma mistura de Iago com Falstaff".
– Talvez surpreenda encontrar-se uma personagem feminina tão independente em uma obra medieval. A Mulher de Bath casou-se cinco vezes, é dona da própria fortuna, viaja sozinha pelo mundo, recorda desinibidamente antigos amantes e almeja outros. Contudo, nem sempre é pacífico atribuir a Chaucer esta ou aquela opinião, pois ele conferia a seus personagens a voz da verossimilhança absoluta, sendo nisso, de novo, um precursor de Shakespeare e, para mim, Fernando Pessoa – diz Botelho.
Para dirigi-la nessa empreitada, Maitê convidou o encenador Amir Haddad, que se tornou conhecido pelo grupo Tá na Rua e é um dos mais requisitados do país. Foi ele quem dirigiu Andréa Beltrão em Antígona, apresentada em 2017 no Porto Alegre Em Cena.
– Amir tem uma frase que resume bem sua direção: a magia não precisa de mistério – lembra Maitê, explicando a proposta desenvolvida em A Mulher de Bath. – Ou seja, não precisamos de uma cortina que abre com uma louca incorporada achando que é, de fato, uma mulher medieval libertária. Não tem cortina, o operador de som está no palco. Se alguém tossir na plateia, eu vou lá e dou um copo d’água, como já aconteceu. Posso entrar e sair da personagem à vontade que todo mundo entende o código sem eu ter que mudar de roupa e fazer trejeitos.
A história de Alice, segundo a atriz, tem uma moral específica:
– O que ela conclui, depois de mil artimanhas, é que, se você experimentar dar o poder a uma mulher, ela não vai usá-lo para matar ou submeter, mas sim para transformar a vida à sua volta numa experiência bela, harmônica e feliz. Isso é muito moderno. Ou não?
A MULHER DE BATH
Sábado (27), às 21h, e domingo (28), às 20h
Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80, no Bourbon Shopping Country), em Porto Alegre.
Ingressos de R$ 50 a R$ 120. Desconto de 10% para sócios do Clube do Assinante.
À venda pelo site uhuu.com (com taxa) e na bilheteria do teatro.