O nome Walt Disney dificilmente é desconhecido por alguém. Habita o imaginário de boa parte da população que pisou na Terra nos últimos cem anos, devido ao seu grande impacto na cultura pop. Não é exagero. Virou sinônimo de magia, de um universo idealizado, seja por suas animações, por seus personagens cativantes ou por seus parques.
Quem nunca sonhou em ir para a Disneylândia? Ou em fazer parte de uma das histórias fantásticas que vieram das mentes que trabalham no estúdio? O homem se transformou em uma empresa de sucesso não apenas comercial, mas também junto ao público. Porém, a criatividade, que sempre foi o carro-chefe do estúdio, atualmente está em baixa.
Os grandes sucessos recentes vieram de franquias adquiridas — Marvel, Star Wars, Avatar — ou do processo de refazer em live-action as animações que levaram o conglomerado à glória décadas atrás — O Rei Leão, Mogli: O Menino Lobo, A Bela e a Fera, Aladdin. Estes produtos são explorados até a última gota, cansando o público e saturando marcas que, antes, eram vistas como especiais.
Ainda assim, é uma história para ser celebrada e, como a linha do tempo abaixo mostra, a empresa teve seus altos e baixos. Relembre pontos marcantes dos cem anos da Disney:
O começo
A primeira animação dos estúdios de Walt Disney foi Alice's Wonderland, em 16 de outubro de 1923. Fez parte de uma série de curtas-metragens mudos chamada Alice Comedies, que contava com filmagens de atores reais com desenhos animados.
Mickey
Cinco anos depois, após perder os direitos de seu primeiro personagem original — Oswaldo, o Coelho Sortudo —, Walt Disney lançou o icônico curta O Vapor Willie (1928), que marca a estreia do Mickey Mouse em uma animação, que ainda registrou a entrada do estúdio na era do som sincronizado.
A era de ouro
Depois de diversos curtas de sucesso, a Disney decidiu expandir os seus projetos. Em 1937, lançou a sua primeira e inovadora animação: Branca de Neve e os Sete Anões, um sucesso de crítica e de bilheteria. Na esteira, outras produções com o melhor que a tecnologia da época poderia oferecer foram lançadas, como Pinóquio e Fantasia (ambos de 1940), Dumbo (1941) e Bambi (1942).
Contos de fadas
Com a Segunda Guerra Mundial, houve diminuição nos lucros para o estúdio, e boa parte dos trabalhadores teve que servir na luta armada. Nesta época, a empresa entregou produções de menor orçamento e, também, mais lúdicas — Você Já Foi à Bahia? (1944) é uma delas. Porém, após o fim da guerra, as coisas foram melhorando.
Foram lançados títulos como Cinderela (1950), Alice no País das Maravilhas (1951), Peter Pan (1953) e A Bela Adormecida (1959). Dentro deste contexto de prosperidade, a Disney ainda estreou o seu primeiro live-action, A Ilha do Tesouro (1950), e inaugurou o seu primeiro parque de diversões, a Disneylândia, em 1955, transformando a empresa em um conglomerado de entretenimento.
Tempos conturbados
A morte de Walt Disney, em 1966, aliada com a Guerra do Vietnã, fez a empresa mergulhar em uma época sombria, que se refletiu em suas produções. Nesta época, por exemplo, saiu o longa animado O Caldeirão Mágico (1985), que imprimia um tom mais sério e que quase levou o estúdio à falência, por seu grande orçamento e pouquíssimo retorno financeiro.
Subida/descida/subida
O final dos anos 1980 e os anos 1990 puxaram a Disney de volta ao auge, adaptando novamente contos de fadas e inserindo uma pegada mais musical no estilo Broadway. Vieram os sucessos A Pequena Sereia (1989), A Bela e a Fera (1991), Aladdin (1992) e o arrasa-quarteirão O Rei Leão (1994). Porém, ao deixar de lado os contos de fadas, no começo dos anos 2000, focando histórias familiares, além da experimentação de tecnologias para bater de frente com a então novata DreamWorks, a Disney voltou a amargar alguns resultados abaixo do esperado. A Nova Onda do Imperador (2000), Atlantis: O Império Perdido (2001), Lilo & Stitch (2002), Irmão Urso (2003) e O Galinho Chicken Little (2005) são exemplos. A partir de Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), o estúdio voltou a se encontrar novamente com as animações voltadas a princesas e magia.
Live-actions
A década de 2010 trouxe momentos de glória e grandes fracassos para o estúdio. Com o sucesso de Alice no País das Maravilhas (2010), a Disney enxergou uma mina de ouro: transformar suas animações em live-actions. A partir disso, uma enxurrada de projetos foi lançada, tentando transportar a magia dos desenhos para o mundo de carne e osso. Mogli: O Menino Lobo (2016) marcou o auge de qualidade. Porém, ao colocar estes filmes em modo fabril, acabou transformando tudo em produtos genéricos, visando apenas ao lucro. Além disso, a Disney também quis emplacar ousados filmes de ficção científica, mas não conquistou sucesso nesta área — John Carter: Entre Dois Mundos (2012) foi um dos maiores fracassos da história do cinema.
Compras
Entre as aquisições da Disney, duas que se destacam foram a Marvel (em 2009) e a Lucasfilm (em 2012), detentora dos direitos das sagas Star Wars e Indiana Jones. Com estas empresas debaixo de seu guarda-chuva, a casa do Mickey conseguiu explorar as franquias. Desta forma, fez muito dinheiro — Vingadores: Ultimato (2019) é a segunda maior bilheteria da história, por exemplo —, mas inúmeros produtos derivados para a plataforma de streaming Disney+ causaram fadiga no público. O estúdio também comprou, em 2019, a 21st Century Fox, conseguindo franquias como Avatar e X-Men. A Pixar, sua parceira de longa data, foi comprada pela empresa em 2006.
Centenário difícil
Se 2023 é o ano em que que a Disney celebra o seu centenário, em termos de números no cinema o estúdio não tem muito o que comemorar. Amargou poderosos fracassos, como Indiana Jones e a Relíquia do Destino, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania e Mansão Mal-Assombrada, além de ter feito uma bilheteria abaixo do esperado com o remake em live-action de A Pequena Sereia. Nenhuma das obras é original, mostrando o citado desgaste criativo. A animação Elementos, porém, conseguiu um resultado interessante, mesmo após uma estreia decepcionante. Até agora, o grande sucesso da Disney no cinema em 2023 é Guardiões da Galáxia Vol. 3, que ainda assim fez menos dinheiro que o seu antecessor. É hora de se reinventar.
Mickey do povo?
Outra dor de cabeça para o estúdio vem da lei de propriedade intelectual norte-americana, que determina que personagens e outros trabalhos artísticos deixam de ser exclusividade de quem os criou depois de 95 anos de sua concepção. Neste caso, o Mickey visto em O Vapor Willie, lá de 1928, passa a ser de domínio público em novembro de 2024, se nada for alterado na legislação dos Estados Unidos — o que já aconteceu em outros momentos.