Após 25 anos de história na capital gaúcha, o Guion Center foi colocado à venda em fevereiro. Segundo o proprietário do cinema, Carlos Schmidt, as últimas experiências com a atividade não têm sido animadoras.
Em entrevista a GZH, ele contou que pode reabrir o Guion para mais uma tentativa, caso o governo autorize e a venda ainda não tenha sido efetuada.
— Estou no aguardo: se autorizarem, vamos reabrir. Se o movimento corresponder e se eu não conseguir vender, vamos continuar. Isso vai depender do resultado, se irá valer a pena. Se não der, a gente fecha — diz Schmidt.
De qualquer maneira, se aparecer comprador, Schmidt afirma que irá realizar o negócio. Estão à venda itens inventariados, que vão dos que integram as salas (projetores, som, poltronas, telas etc.) aos do café e loja. O uso da marca Guion, na forma de aquisição ou licenciamento, será negociado à parte.
Segundo o advogado Henrique de Freitas Lima, que intermedia a negociação, o complexo é muito rentável, especialmente depois da digitalização da projeção em 2015. Desde então, pela fartura de títulos, passou a estrear de dois a três filmes por semana e mantinha até nove em cartaz. Freitas destaca também que os empreendedores do Centro Comercial Olaria pretendem fazer melhorias no local breve.
A loja do Guion Center segue aberta diariamente, das 13h às 19h, promovendo vendas de obras de arte, CDs, LPs, livros, cartazes de cinema e outros objetos para arrecadar fundos. "Resolvemos abrir a loja, pois apesar de toda a consideração dos proprietários, o condomínio seguia tendo que ser pago e, para evitar um prejuízo às máquinas, elas precisam ser mantidas em 'stand by' e não podem ser desligadas", justificou Schmidt em comunicado divulgado nas redes sociais.
Localizado no centro comercial Nova Olaria (Rua Lima e Silva, 776), na Cidade Baixa, em Porto Alegre, o cinema está com as atividades suspensas desde o dia 4 de fevereiro. Segundo Schmidt, a medida foi necessária pelo fato das distribuidoras postergarem os lançamentos de filmes no Brasil.
Poucos dias depois, em 27 de fevereiro, todos os cinemas no Estado tiveram as suas atividades suspensas por conta da bandeira preta. Desde então, o setor está paralisado. Mesmo com o decreto que coloca o Rio Grande do Sul em bandeira vermelha, que foi publicado na terça-feira (27), o cinema não está liberado. O proprietário do Guion é crítico à gestão do governo estadual na pandemia:
— Para mim, a pandemia foi um evento forte, mas esse fechamento absurdo... Se o supermercado pode, por que cinema não pode? Na sala, há uma quantidade infinitamente menor de pessoas que não se cruzam, sentadas em seus lugares, quietinhas, com máscara.
Schmidt conta que conseguiu liberação do aluguel com os proprietários do Nova Olaria, até o final de maio. No entanto, ele ressalta que tem uma despesa média de R$ 12 mil, mesmo sem estar em atividade. O empresário lembra que, quando o cinema reabriu, em novembro de 2020, o faturamento não dava para pagar nem metade do condomínio.
— Há mais de um ano que eu não tenho faturamento. É humanamente impossível ficar tirando dinheiro do meu bolso para manter o cinema — lamenta.
Caso se confirme o encerramento de suas atividades no Guion, Schmidt pretende focar na venda de obras de arte. No período que o espaço permaneceu fechado, o empresário dedicou-se a pintura, jardinagem e obras em sua casa. Antes da pandemia, planejava tirar mais folgas. Porém, essas férias forçadas trouxeram incertezas e aflições:
— Estou com 67 anos, quero definir minha vida. Quero fazer coisas que eu não podia fazer, pois era um sacerdócio essa atividade. Ainda mais agora, vivendo nessa angústia de abre e fecha. Guion está virando um fardo por conta desse custo ininterrupto.
Alternativa aos blockbusters
Nas últimas décadas, o Guion se notabilizou como alternativa aos blockbusters que tomam conta das salas de shoppings. É um cinema cuja programação foca em filmes com perfis mais autorais, com produções da América Latina, Europa e Ásia.
O embrião do Guion surgiu em 1979, com Schmidt à frente de um circuito de exibições itinerantes. Ao longo dos anos 1980, projetou filmes em diferentes espaços: Assembleia Legislativa, Instituto Goethe, Senac, Instituto de Artes, entre outros. Em 1986, com o Ponto de Cinema, o empresário se estabeleceria no Sesc da Av. Alberto Bins até 1992, quando um incêndio interrompeu as atividades. Três anos depois, o Guion foi inaugurado.
O cinema chegou a se expandir para outros pontos da cidade: Guion Sol (1997-2009), na Cavalhada; e Aero Guion (2004-2010), no Aeroporto Internacional Salgado Filho. Ambas as experiências são descritas como "infortúnios" por Schmidt.
Durante os 25 anos de atividade do Guion, Schmidt enfrentou alguns períodos de incertezas. Mais de uma vez, anunciou a possibilidade de encerrar as atividades por diferentes motivos.