– Tenham todas e todos um ótimo filme, porque vocês e o Cassino merecem.
Desde 2005, antes de qualquer sessão no Cine Dunas, alguém da equipe do cinema apresenta uma breve sinopse do filme a ser exibido, solicita que os celulares sejam desligados e dá as boas vindas. É uma tradição acolhedora.
– Se alguém chega atrasadinho, até lamenta: “Ah, perdi o Cassino merece” (risos) – diverte-se Janete Jarczeski, proprietária do cinema junto a seu marido, Cleyton Abreu.
Inaugurado há 16 anos, o Cine Dunas é um oásis para os cinéfilos na praia do Cassino, em Rio Grande. O cinema foi fundado por um casal de professores. Janete até hoje leciona história na rede pública estadual, enquanto Cleyton passou se dedica exclusivamente à sala.
– Entendemos que existia essa demanda, com pessoas morando aqui no balneário o ano todo. Cassino tem vida o ano todo. Cleyton já tinha o sonho de trabalhar com a sétima arte. É cinéfilo. Resolvemos tornar esse sonho algo real – conta Janete.
Mesclando sua programação entre blockbusters e filmes alternativos e europeus, o Cine Dunas estabeleceu uma relação de familiaridade com a comunidade e os turistas.
– Temos pessoas que se deslocam de outros municípios. Se há alguma atividade por aqui ou se tem casa no Cassino, esses frequentadores fazem questão de prestigiarem a nossa programação. Temos fãs de carteirinha, que estão sempre em contato com a gente – relata Janete.
Segundo a proprietária, o que diferencia um cinema de calçada como o Cine Dunas de um multiplex é a peculiaridade das pessoas procurarem o espaço para objetivamente assistir ao filme. Pode parecer óbvio, mas ela explica:
– É diferente de um complexo comercial, onde as pessoas passam por setores de compras e alimentação e o cinema é algo complementar. A sala de calçada é uma experiência cultural, social.
O Cine Dunas está localizado na Avenida Rio Grande, um dos pontos mais movimentos do balneário. Janete descreve que o prédio tem arquitetura espanhola. Quem entra nele logo depara com uma biblioteca comunitária. É possível retirar livros para empréstimo ou ler antes da sessão. A sala de projeção acomoda 120 pessoas.
Em 2008, os proprietários abriram uma segunda sala no centro de Rio Grande, o Cine Dunas Cidade, que durou até 2014. O projetor digital era muito caro, por isso optaram por focar as atividades no Cassino.
Janete lembra que o cinema já passou por várias fases, entre crises e bons momentos. Assegura que sempre foi encontrada uma alternativa. Agora, está fechado desde março de 2020 – sem previsão de reabertura. Além de Janete e Cleyton, o cinema tinha dois funcionários que foram demitidos.
– Quando fechou em março, não sabíamos a dimensão nem o tempo que seria necessário permanecer fechado. Ficamos assustados, pois é aquela questão: se não está funcionando, não tem fluxo de caixa, não tem renda, e as coisas ficam difíceis – diz Janete.
Em um primeiro momento, o Cine Dunas passou a vender combos de pipoca, refrigerante e doces que tinha em estoque. Também foi contemplado em edital da Lei Aldir Blanc, mas o valor recebido foi direto para a sua manutenção. Aproveitando a experiência com seu cineclube, também vendeu vale-ingressos para a retomada. Houve boa aceitação dos frequentadores, inclusive os clientes que, fora da temporada de verão, vivem longe do balneário.
– E teve pessoas não moram mais no Cassino, ou em Rio Grande, mas mesmo assim fizeram questão de dar essa ajuda. Isso auxiliou minimamente a bancar despesas básicas. Só que, mesmo negociando algumas questões, baixando custos, a gente não tem como zerar tudo. Não somos proprietários do prédio. Temos obtido apoio. Se fossemos depender de recurso próprio, não teria como – diz.
Janete ressalta que a própria comunidade se colocou à disposição do Cine Dunas:
– Nos procuraram e disseram que não queriam que o Cine Dunas fechasse as suas portas. Perguntaram se havia uma forma de poder colaborar. Fluiu realmente.
Neste ano, o Cine Dunas já realizou a sua segunda sessão de drive-in em parceria com o Sesc e a prefeitura. O filme exibido na última semana foi Meu Querido Elfo, no Campo Praião do Cassino.
– Com esforço, conseguimos nos manter. Quiçá vamos ficar por mais alguns anos mantendo a sétima arte no balneário – conclui Janete.