Tudo começou com Ewerton Brandolt. O empresário assumiu o Cine Tanópolis de Montenegro, em 2014, e criou a rede Cine + Arte. O movimento bem-sucedido inspirou sua família. A irmã, Cristiane, e o pai, Sílvio, também entraram no ramo. A dupla criou a rede Cult Cinemas em 2017, começando o empreendimento no Shopping Erico Verissimo, em Cruz Alta. Essa primeira filial foi descontinuada durante a pandemia, em abril de 2020, após dificuldades na negociação do aluguel.
Em janeiro de 2019, a Cult Cinemas inaugurou um cinema de calçada em Ijuí e, em fevereiro do ano seguinte, outro no Alegrete no mesmo formato – este último teve de suspender as atividades tão logo foi inaugurado.
– Foi meu irmão que introduziu o empreendedorismo em cinema na família. Naquela altura, eu fazia doutorado em Engenharia na UFRGS e decidi paralisar minha carreira para entrar no cinema, pois é apaixonante – afirma Cristiane.
– Meu pai tinha um único imóvel, que vendeu para abrir o cinema em Cruz Alta. Depois de tudo o que ele trabalhou a vida inteira. Fizemos uma jogada bem ousada. Os negócios fluíram e a recepção foi boa, a ponto de abrirem uma sala por um ano.
Conforme Cristiane, a estratégia da Cult Cinemas é atuar em municípios com menos de 100 mil habitantes.
– São sempre cidades que não têm cinema e são carentes de atividades de cultura e entretenimento. Como Alegrete, que não tinha cinema há muito tempo. Caiu como uma luva para a cidade. Infelizmente, 28 dias após a abertura, tivemos que fechar por causa da pandemia. Foi muito azar – lamenta a empresária.
Cristiane destaca que a filial do Alegrete estava tendo sessões lotadas. Caso ficasse mais três meses no mesmo ritmo, ela calcula que o investimento já teria sido recuperado.
A suspensão das atividades foi um baque. A empresária avalia que os cinemas de calçada podem ser mais atingidos que as redes multiplex.
– Nós não temos aquele poder financeiro para suportar tanta paulada como levamos neste ano. Geralmente os cinemas de shopping são grandes redes, com aporte maior. São empresas com mais tempo, enquanto nós só estamos há três anos na ativa. Temos resiliência. Acho que o pior já passou – analisa.
O Cult Cinemas de Ijuí conta com 120 lugares, enquanto há 150 assentos no Alegrete. A ideia era abrir uma segunda sala em cada uma das filiais, mas o plano retrocedeu com a pandemia. Houve reduções na equipe de Ijuí, que agora tem apenas três pessoas.
A retomada das atividades na cidade ocorreu em 14 de janeiro – prefeitura não autorizou a reabertura quando houve a liberação estadual em outubro. Alegrete pôde voltar a ter seu cinema em setembro, por meio de decreto da prefeitura. A filial alegretense fechou em 13 de janeiro, mas voltou a operar em fevereiro.
– Pensei em vender os cinemas. Justamente pela demora em reabrir em Ijuí, foi ali que mais pensei. Mas eu não ia conseguir ninguém para comprar. Ia ser muito difícil. Então achei mais fácil irmos levando. Hoje não pensamos mais em vender. Agora que conseguimos reabrir, com a população nos apoiando com força, vamos ficar bem – crê a empresária.
Segundo Cristiane, as populações de ambos os municípios estavam ansiosas pelo retorno dos cinemas. Ela conta que clientes falavam em dar uma contribuição financeira, se fosse necessário.
– Era esperado que houvesse um público abaixo do normal, mas está sendo um movimento bom. Para nós, está sendo suficiente para sobreviver. Este vai ser um ano de sobrevivência – reflete.