- Que saudade daquela época em que botávamos a plaquinha "ingressos apenas para a próxima sessão". Lembra? - pergunta Aiko Schmidt ao marido, Carlos Schmidt. Juntos, eles administram o Guion Center, no Shopping Nova Olaria, que completou 19 anos em 22 de junho.
Mais do que um cinema que exibe filmes selecionados, é também uma galeria de arte, onde diversos trabalhos são expostos e vendidos. Mas, se as coisas não melhorarem, garante Schmidt, o Guion pode deixar de existir.
Em 1995, ano da inauguração, 50 mil espectadores assistiram a O Carteiro e o Poeta, de Michael Radford, que ficou em cartaz por 21 semanas. Anos mais tarde, Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar, ficou em exibição por 32 semanas. Hoje, no entanto, o desempenho das salas é bem menor.
- Nunca mais cheguei a 4 mil espectadores em uma semana. Há muita fantasia sobre o Guion. A verdade é: ou recebe apoio ou fecha - resume o fundador do espaço.
Um dos problemas é a dificuldade de concorrer com as grandes redes. Foi-se o tempo em que o Guion era o único local para encontrar filmes selecionados. Segundo Schmidt, os cinemas da Capital mudaram seu estilo de programação, e as redes começaram a reservar horários para os títulos com "cara de Guion".
- Os shoppings passaram a exibir os meus filmes, mas eu não posso exibir os deles. Filmes comerciais, aqui, não têm jeito. Antigamente, exibíamos sozinhos. As redes têm preferência para receber títulos de distribuidores, o que é plausível. Mas tem filme que eu deveria passar e não posso - avalia Schmidt.
No fundo da questão está a necessidade de o Guion se adequar à lei 12.599, de 23 de março de 2012, e trocar, até o fim do ano, seus projetores para aparelhos digitais. Schmidt argumenta que não teria como arcar com os custos:
- Para comprar um aparelho como o DCP (Digital Cinema Package), teríamos de desembolsar mais de R$ 150 mil. Temos três salas e precisamos de um aparelho para cada. Em dois meses, quebraríamos.
O nome: parece, mas não é
Diferentemente do que muitos imaginam, o nome do cinema não é inspirado na palavra "guión" ("roteiro de cinema", em espanhol). Na verdade, trata-se de uma homenagem a um amigo japonês de Carlos Schmidt que havia sugerido a criação de um centro cultural no Auxiliadora. O nome foi escolhido a partir do tradicional bairro Gion, na cidade japonesa de Kyoto, e recebeu um "u" para adequar a pronúncia.
Fruto da dedicação ao cinema
O Guion Center é a consolidação de uma trajetória que começou em 15 de março de 1980, com a primeira exibição do Ponto de Cinema. Na ocasião, Carlos Schmidt, então com 27 anos, organizou um festival de filmes western. Durante um ano, elas ocorreram na Sala Alvaro Moreyra, no Centro Municipal de Cultura, na Avenida Erico Verissimo.
- A cidade era uma província. Na época, já existia o Clube do Cinema, mas não havia concorrência. Nosso objetivo era resgatar clássicos. Era uma loucura. Conseguíamos mobilizar as pessoas. Hoje, está meio diluído - relembra Schmidt.
Em 1981, o Ponto de Cinema foi transferido para o Teatro de Câmara, onde ficou por cerca de um ano, tornando-se um evento itinerante, que percorreu diferentes pontos de Porto Alegre e outras cidades do país. Em 1986, o Ponto de Cinema firmou uma parceria com o Sesc, onde exibiu filmes e organizou festivais na Avenida Alberto Bins até 1992 - quando o auditório foi atingido por um incêndio.
Sem uma sede, o Ponto voltou a circular, até que Schmidt optou por criar o próprio centro cultural. A primeira ideia era se estabelecer no bairro Auxiliadora, mas o projeto não foi aprovado pelo poder público. Então, a alternativa foi construir as salas de cinema no Nova Olaria.
- Era um grande salão. Vendi uma casa para construir - conta Schmidt.