Os diretores gaúchos Filipe Matzembacher e Marcio Reolon debutaram no Festival de Berlim, em 2015, com Beira-Mar, primeiro longa-metragem da dupla. Na época, o filme foi muito aplaudido e elogiado pelo público do festival. Três anos depois, os cineastas retornam à capital alemã para exibir o segundo filme deles, Tinta Bruta. O longa participa da mostra Panorama, cuja programação também conta com outro filme brasileiro, O Processo - documentário de Maria Augusta Ramos sobre o impeachment de Dilma Rousseff.
Apesar de não ser conhecida pela euforia dos indicados ao Oscar, o Festival de Berlim é importantíssimo para o cinema contemporâneo e tem se destacado por revelar grandes realizadores ao redor do mundo. Um dos grandes responsáveis por isso é sua mostra Panorama, que tem a função de exibir filmes do mundo todo durante a semana de festival.
Em Tinta Bruta, o roteiro, assim como a direção, é assinado por Filipe Matzembacher e Marcio Reolon. O filme conta a história de Pedro (Shico Menegat), um jovem que tenta sobreviver em meio a um processo criminal, à partida da irmã e única amiga e aos olhares que recebe sempre que sai na rua. Sob o codinome GarotoNeon, Pedro se apresenta no escuro do seu quarto para milhares de anônimos ao redor do mundo, pela internet. Com o corpo coberto de tinta, ele realiza performances eróticas na frente da webcam. Ao descobrir que outro rapaz (Bruno Fernandes) de sua cidade está copiando sua técnica, Pedro decide ir atrás dele.
— Estamos muito felizes. Nosso primeiro longa-metragem, Beira-Mar, também estreou na Berlinale, na mostra Forum, e voltar para o festival agora, com nosso segundo longa, na Panorama, é um prazer imenso. Esperamos ansiosos pelas sessões no inverno berlinense e mais ansiosos ainda em trazer o filme para o Brasil — comemora Marcio.
Os diretores explicam como funciona a parceria, que já foi realizada em trabalhos anteriores, como Beira-Mar, na série O Ninho e em diversos curtas-metragens:
— Nosso processo é bastante coletivo. Fazemos tudo juntos, desde a escrita do roteiro, os ensaios, decupagem, até durante as gravações e no acompanhamento da pós-produção. Temos bagagens muito semelhantes (ambos somos também atores, por exemplo), mas temos alguns focos distintos que, quando combinados, acreditamos que contribuem para o nosso trabalho — afirma Filipe.
O longa tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros ainda em 2018.
Em O Processo, Maria Augusta Ramos retrata os bastidores que levaram ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Para realizar o documentário, a diretora passou vários meses em Brasília, sua cidade natal, acompanhando cada passo do processo de impeachment, somando 450 horas de material filmado. Sem fazer entrevistas ou intervir nos acontecimentos, ela e sua equipe circularam pelos corredores do Congresso Nacional, filmaram coletivas de imprensa, registraram as votações na Câmara dos Deputados e no Senado e testemunharam bastidores nunca mostrados em noticiários. O longa participará da mesma mostra de Tinta Bruta, a Panorama.
— Fico muito feliz com a seleção para o Festival de Berlim e para a Panorama, uma mostra que já exibiu grandes filmes. É um dos mais importantes festivais do mundo e que pode ajudar a aumentar a visibilidade do filme no exterior. É também uma forma de contribuir para a afirmação da cinematografia brasileira e chamar a atenção para o momento atual do país — afirma a diretora Maria Augusta Ramos.