Coragem é aquilo movido pelo coração. A mesma coragem foi o sentimento que marcou o filme gaúcho Beira-Mar em sua estreia durante a 65ª edição do Festival de Berlim. Com cinco exibições marcadas para os próximos dias em diferentes pontos da capital alemã, o longa integra a programação da seção Fórum, espaço destinado a promover trabalhos que levem a linguagem e o conteúdo a caminhos não tradicionais.
Em 2014, Castanha foi exibido na mesma mostra da Berlinale
Castanha é o marco de um novo cinema gaúcho
Depois de sobreviver com dignidade à sessão de imprensa, o filme dirigido por Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, sócios da Avante Filmes que estreiam na direção de um longa, encontrou o público na noite da última sexta-feira, quando a sensação térmica era de -7ºC.
A temperatura pouco convidativa não impediu a sala 8 do complexo CineStar, na tradicional Potsdamer Platz, de ser tomada por uma plateia diversificada, composta de jovens a casais idosos. Faltavam 10 minutos para o início da sessão quando o português assumiu o tom predominante das conversas na sala. Além dos atores principais e de parte da equipe, uma quantidade expressiva de brasileiros estava presente.
Veja o trailer de Beira-Mar:
Beira-Mar nasceu como um relicário de recordações. A memória comum dos diretores resultou nos jovens protagonistas Martin (Matheus Almada) e Tomaz (Maurício Barcellos), amigos que rumam para o litoral gaúcho a fim de resolver a pendência de uma herança. A incumbência lhes traz liberdade, provoca dúvidas e aprofunda a cumplicidade. Ao mesmo tempo em que tem de lidar com os fantasmas da família, Martin percebe que precisa vencer os próprios. Apesar de tudo, por sorte, lá está Tomaz.
Berlinale 2015 tem 19 longas competindo pelo Urso de Ouro
Matzembacher e Reolon constroem um filme de atmosfera sensível, composta de planos e ritmo contemplativos, em que os silêncios comunicam intensamente, e as lacunas do passado revelam a urgência do futuro. Mas a melhor descrição para a capacidade de diálogo do longa esteve nas palmas convictas da plateia, que deixou o cinema somente após o debate. Intimista sem ser hermética, a sinceridade de Beira-Mar é um movimento de coragem uníssona, tanto dos realizadores quanto dos personagens, que avançam em direção ao público como quem avança em direção ao mar - com o peito aberto.
*Crítico de cinema, membro das associações de críticos do Rio Grande do Sul (Accirs) e do Brasil (Abraccine), colaborador do site Papo de Cinema.
